Nos últimos anos, um fenômeno social tem chamado a atenção de economistas e demógrafos: o aumento de casais DINK, uma sigla para “double income, no kids” (dupla renda, sem filhos). A decisão de não ter filhos tem implicações profundas para as economias modernas, com especialistas alertando para a possibilidade de uma queda de até 4% no PIB dos Estados Unidos. Esse fenômeno está alterando não apenas a dinâmica familiar, mas também o futuro do mercado de trabalho, a estrutura previdenciária e até o desenvolvimento de cidades e infraestrutura. A questão é: como esse comportamento está remodelando a economia dos EUA e por que ele se intensificou nas últimas décadas?

O crescimento do estilo de vida DINK e seus efeitos econômicos

A taxa de natalidade nos Estados Unidos tem caído drasticamente nas últimas décadas. Se, na década de 1960, 24 bebês nasciam a cada 1.000 pessoas, em 2022 esse número foi reduzido para apenas 11, de acordo com o Federal Reserve de St. Louis. Isso reflete um fenômeno social mais amplo, no qual os casais optam por priorizar suas carreiras, estabilidade financeira e liberdade pessoal ao invés de formar uma família tradicional. A escolha de não ter filhos, em especial entre os millennials e membros da geração Z, está gerando sérias preocupações entre economistas.

James Pomeroy, economista global do HSBC, apontou que essa mudança pode levar a uma redução do PIB de até 4% nos próximos anos, devido ao impacto na força de trabalho e no consumo. Com uma população mais envelhecida e uma menor quantidade de jovens entrando no mercado de trabalho, a pressão sobre os sistemas de saúde, previdência e infraestrutura será inevitável.

Por que os Millennials estão optando por não ter filhos?

Vários fatores estão contribuindo para a decisão de muitos casais de não terem filhos. Um estudo do Pew Research, realizado em julho de 2024, entrevistou mais de 3.000 pessoas entre 18 e 49 anos e revelou que os principais motivos para essa escolha incluem:

  • Preocupações com o estado do mundo (38%): Questões como mudanças climáticas e instabilidade política são fatores cruciais para muitos.
  • Custo de vida elevado (36%): Os altos custos de moradia, educação e saúde estão tornando a criação de filhos cada vez mais difícil para muitos casais.
  • Desejo de focar em outras áreas da vida (56%): Muitos preferem dedicar-se à carreira, à educação e a outras atividades pessoais.
  • Preocupações ambientais (26%): O impacto ambiental de uma população crescente também é um fator importante para as novas gerações.
  • Problemas de relacionamento (24%): A falta de um parceiro estável também é citada como uma razão para não ter filhos.

Esses fatores, combinados com a crescente presença feminina no mercado de trabalho e a maior ênfase na educação, estão redefinindo o perfil familiar nos Estados Unidos.

O envelhecimento populacional e seus efeitos no mercado de trabalho

Outro impacto crucial dessa tendência é o envelhecimento da população. O aumento da longevidade está criando uma população mais velha, enquanto a diminuição nas taxas de natalidade reduz o número de jovens em idade ativa. Isso pode resultar em um déficit de trabalhadores, afetando principalmente setores como saúde, educação e outros serviços essenciais.

Melinda Mills, professora de demografia da Universidade de Oxford, explica que essa mudança cria tensões no mercado de trabalho, que terá que lidar com a escassez de mão de obra. A falta de trabalhadores, especialmente em funções críticas como enfermeiros e médicos, exigirá novas políticas de imigração ou alternativas como a automação para manter a economia funcionando.

A redução na população jovem também representa um desafio para o sistema de seguridade social e previdência, que depende de uma grande base de contribuintes para sustentar os aposentados.

Desafios para os sistemas públicos e privados

O impacto dessa diminuição populacional será sentido não apenas na economia, mas também nas escolhas políticas e sociais dos países. A escassez de mão de obra pode aumentar a pressão sobre os sistemas de saúde e previdência, que já enfrentam dificuldades em muitos países desenvolvidos. Em países como o Reino Unido, por exemplo, cerca de 33% dos trabalhadores no setor de saúde vêm de fora, e a diminuição na imigração pode agravar ainda mais essa situação.

Além disso, o envelhecimento da população exigirá ajustes em políticas públicas, como a idade de aposentadoria, sistemas de requalificação para a força de trabalho e soluções para garantir a sustentabilidade dos sistemas previdenciários.

O impacto no mercado imobiliário e na economia local

O estilo de vida DINK também tem implicações diretas no mercado imobiliário. A busca por moradias maiores e mais espaçosas, que antes era uma prioridade para casais com filhos, tem dado lugar a um crescente interesse por espaços menores e mais acessíveis. Esse comportamento tem levado a um aumento na demanda por apartamentos e imóveis mais compactos, com foco na praticidade e no custo-benefício.

Além disso, o comportamento dos casais DINK afeta diretamente o consumo e os padrões de gasto da economia. Sem as responsabilidades de criar filhos, muitos casais têm maior poder aquisitivo para investir em experiências, viagens e lazer, o que altera o perfil de consumo de diferentes produtos e serviços.