Ações da Cosan (CSAN3) caem forte após Fitch revisar perspectiva para negativa
Papéis recuam quase 4% no pregão, pressionados por preocupações com alavancagem e perfil financeiro da companhia
Imagem: Divulgação
As ações da Cosan (CSAN3) registram forte queda nesta quarta-feira (17), ampliando o movimento negativo observado no pregão anterior e chamando a atenção do mercado. Os papéis da holding, que atua em diferentes segmentos do setor de energia e logística, recuam quase 4% e são negociados na casa dos R$ 5,31. No acumulado de 12 meses, a desvalorização já supera 33%, refletindo um cenário de maior cautela por parte dos investidores.
O principal gatilho para o mau humor do mercado foi a divulgação de um relatório da Fitch Ratings. Embora a agência tenha mantido os ratings de crédito da companhia, a revisão da perspectiva de estável para negativa acendeu um sinal de alerta. Na prática, isso indica que, se os desafios financeiros persistirem, a empresa pode enfrentar um rebaixamento de nota no futuro.
Pressão sobre as ações vem do risco financeiro
A Fitch reafirmou os Issuer Default Ratings (IDRs) de longo prazo da Cosan em ‘BB’, tanto em moeda local quanto estrangeira, além do rating nacional ‘AAA(bra)’.
As debêntures quirografárias e as dívidas internacionais da companhia também tiveram suas notas mantidas. Ainda assim, a mudança na perspectiva foi suficiente para aumentar a aversão ao risco em relação aos papéis CSAN3.
Segundo a agência, a decisão reflete principalmente o nível elevado de alavancagem da holding e a dependência contínua de desinvestimentos para aliviar a pressão sobre o balanço.
Apesar de a Cosan ter concluído recentemente um follow-on de aproximadamente R$ 10,5 bilhões, movimento que reforçou o caixa, a Fitch avalia que esse alívio é temporário.
O entendimento é que a companhia ainda precisa avançar de forma mais consistente na redução da dívida para alcançar indicadores compatíveis com o nível atual de rating. A estratégia de venda de ativos segue sendo considerada essencial para melhorar o perfil financeiro ao longo dos próximos anos.
O que dizem os fundamentos avaliados pela Fitch
No relatório, a Fitch projeta que a Cosan opere com um índice de loan-to-value (LTV) líquido entre 40% e 50%, patamar visto como elevado para o atual nível de classificação de risco. Além disso, a cobertura de juros medida pelo fluxo de caixa operacional (FFO) deve ficar próxima de 1,0 vez, mesmo após a redução parcial do endividamento.
Outro ponto de atenção é a geração de caixa. A expectativa da agência é de que a holding registre fluxo de caixa livre negativo em torno de R$ 2,5 bilhões em 2025, pressionado principalmente pelo alto custo da dívida.
A partir dos anos seguintes, a projeção melhora, com um fluxo levemente positivo, sustentado pela redução do passivo e por um ambiente de juros mais favorável.
Por outro lado, a Fitch reconhece fatores que ajudam a equilibrar a análise. O portfólio diversificado da Cosan, com ativos relevantes em açúcar e etanol, logística ferroviária, combustíveis e gás natural, é visto como de alta qualidade.
Além disso, a ausência de vencimentos relevantes de dívida nos próximos três anos oferece alguma flexibilidade para a execução do plano de desinvestimentos.
Visão do mercado e próximos passos
A reação negativa das ações indica que o mercado segue sensível a qualquer sinal de deterioração no perfil financeiro da Cosan.
A entrada de novos investidores após o follow-on e a melhora na governança foram bem recebidas, mas ainda não são suficientes para dissipar as preocupações com a alavancagem.
Para analistas e investidores, o desempenho futuro dos papéis CSAN3 dependerá, sobretudo, da capacidade da companhia de executar sua estratégia de venda de ativos, controlar investimentos e reduzir o endividamento de forma estrutural. Até que esses avanços fiquem mais claros, a volatilidade tende a continuar elevada.