A última década foi marcada por uma verdadeira revolução no futebol brasileiro. Até 2021, a maioria dos clubes operava como associações sem fins lucrativos, atoladas em dívidas e com baixa transparência. Desde a aprovação da Lei da SAF (Sociedade Anônima do Futebol) em agosto de 2021, o cenário mudou radicalmente.

Com isso, o número de clubes com estrutura empresarial disparou: hoje, são cerca de 99 SAFs no país, entre elas 30 em divisões nacionais. O resultado? Receitas dos 20 maiores clubes bateram R$ 9 bilhões em 2023 — um crescimento de 20% anual.

E esse movimento não teve apenas batidões de cifras — envolveu fusões com grupos globais (Red Bull, City Football Group, Eagle Football), participação massiva de apostas esportivas (R$ 1 bilhão só em patrocínios da Série A em 2025), e uma explosão de receitas com torneios, bilheteria e marketing.

Impacto das SAFs na realidade do futebol brasileiro

A chegada das SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol) provocou uma guinada sem precedentes na gestão dos clubes brasileiros. O modelo trouxe injeções bilionárias de capital externo, maior controle fiscal e a promessa de reerguer instituições à beira da falência.

O resultado imediato foi a profissionalização das áreas administrativa, jurídica e comercial desses clubes, com melhora nas estruturas de treinamento, quitação de parte das dívidas históricas e retomada da competitividade em campo, no caso do Botafogo, títulos nacionais e internacionais.

A aprovação do modelo pelos torcedores é significativa: cerca de 60% apoiam a SAF, embora clubes de torcida mais resistente — como Flamengo e Palmeiras — sigam no modelo associativo tradicional.

Top 10 times mais ricos do Brasil em 2025

Com base nos últimos dados, Flamengo, Palmeiras e Corinthians são os clubes mais ricos do Brasil. Veja a lista completa:

PosiçãoClube (modelo)Receita 2024Valuation 2024 (R$ mi)
1Flamengo (assoc.)R$ 1,334 biR$ 4,879 mi
2Palmeiras (assoc.)R$ 1,274 biR$ 3,956 mi
3Corinthians (assoc.)R$ 1,115 biR$ 3,702 mi
4Atlético-MG (SAF)R$ 674 miR$ 3,387 mi
5São Paulo (assoc.)R$ 732 miR$ 2,869 mi
6Internacional (assoc.)R$ 621 miR$ 2,524 mi
7Athletico-PR (assoc.)R$ 288 miR$ 2,293 mi
8Fluminense (assoc.)R$ 684 miR$ 2,162 mi
9Botafogo (SAF)R$ 79 mi (2023)¹R$ 1,857 mi
10Grêmio (assoc.)R$ 403 miR$ 1,839 mi

¹ Receita operacional de R$ 79 milhões em 2023 – números para 2024 ainda não disponíveis.

A disparidade entre receita líquida e valuation mostra que clubes bem geridos e com marca forte (como Flamengo e Palmeiras) superam até alguns SAFs na classificação.

Qual é a diferença entre Clube Associativo e SAF?

A principal diferença entre um clube associativo e uma SAF está na forma de gestão, propriedade e captação de recursos. O clube associativo, modelo tradicional do futebol brasileiro, pertence aos seus sócios, geralmente torcedores que elegem presidentes em votações periódicas. Sua administração, portanto, é marcada pela política interna e pela dependência de receitas convencionais, como bilheteria, patrocínio, venda de jogadores e direitos de transmissão.

Já a SAF transforma o clube em uma empresa com CNPJ próprio, controlada por acionistas ou investidores — nacionais ou estrangeiros — que injetam capital diretamente na operação, assumindo os riscos e a expectativa de retorno financeiro. As dívidas antigas da agremiação são segregadas em uma “empresa-mãe”, enquanto a nova SAF responde apenas pelos compromissos futuros.

Além disso, enquanto o associativo mantém forte influência da torcida-organizada e do conselho deliberativo nas decisões, a SAF atua de modo profissionalizado, com executivos do mercado, metas de lucro, transparência fiscal e possibilidade de captar recursos no mercado financeiro, via emissão de ações ou negociação com fundos de investimento.

De onde vem o dinheiro dos clubes mais ricos do Brasil?

Flamengo

O Rubro-negro carioca construiu um ecossistema financeiro invejável. Suas fontes principais:

  • Direitos de TV e Streaming: Mais de R$ 400 milhões/ano;
  • Patrocínios: BRB, Pixbet, Adidas garantem R$ 200 milhões/ano;
  • Bilheteria e sócio-torcedor: Segundo o relatório da Convocados/InfoMoney, o Flamengo liderou com folga a arrecadação em 2024, somando R$ 259 milhões em bilheteria e sócio-torcedor — R$ 169 milhões apenas com bilheteria em jogos no estádio, além de R$ 90 milhões pela base de sócios-torcedores;
  • Venda de Jogadores: Vinícius Jr., Reinier e Lucas Paquetá renderam mais de € 100 milhões nos últimos anos.

Palmeiras

A “máquina verde” se fortaleceu com gestão rígida e um patrocinador master dos sonhos:

  • Patrocínio Crefisa/FAM: Aproxima-se de R$ 120 milhões/ano;
  • Prêmios esportivos: Tri da Libertadores, títulos brasileiros;
  • Venda de atletas: Endrick vendido por € 72 milhões ao Real Madrid;
  • Bilheteria e Arena Allianz Parque: Fonte constante de renda com shows e aluguel.

Corinthians

O Timão mantém relevância principalmente com a força de sua torcida:

  • Direitos de TV: Segunda maior cota do Brasil;
  • Patrocínios: Vai-Vai, Ale, Positivo e outros garantem receitas robustas;
  • Fiel Torcedor: Uma das maiores bases pagantes do país.

É curioso notar o caso do Corinthians, que mesmo atravessando uma grave crise administrativa e esportiva — com troca de presidentes, endividamento elevado e uma polêmica de fraude com patrocinador — ainda figura entre os três clubes mais valiosos do país.

Como isso é possível? A resposta está na força incomparável da marca “Corinthians”, que mobiliza uma das maiores torcidas do mundo, garante contratos milionários de patrocínio e mantém alta a expectativa de retorno comercial, mesmo em períodos de baixa esportiva.

Em outras palavras, o “peso da camisa” segue valendo ouro no mercado, sustentando a posição do clube entre os gigantes financeiros do futebol brasileiro, independentemente da fase dentro das quatro linhas.

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O futuro do futebol brasileiro: novas SAFs e clubes-empresa

A lista dos times mais ricos do Brasil pode mudar de acordo com o crescimento da fila das SAFs: clubes como América-MG, Londrina e Ponte Preta avaliam propostas milionárias de fundos europeus e árabes. Ao mesmo tempo, o Flamengo estuda criar uma “SAF parcial” para internacionalizar sua marca.

Enquanto isso, a criação da Liga Forte Futebol (LFF) e da Liga Libra (inspiradas na Premier League inglesa) busca profissionalizar as receitas de TV e garantir previsibilidade orçamentária.

O cenário é de disputa: entre os tradicionais, que juram manter a “alma” do futebol, e os corporativos, que veem na SAF o passaporte definitivo para o sucesso global.

Além disso, a injeção de capital oriunda de novos campeonatos, como o Super Mundial de Clubes, tende a aumentar o arrecadamento dos clubes do Brasil, movimentando o cenário financeiro e esportivo do nosso país.

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Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.