Copom mantém Selic em 15% e reforça cautela diante da pressão do governo Lula
A decisão reflete a cautela da autoridade monetária diante da inflação ainda acima da meta e das incertezas globais.
Foto: Divulgação
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (5) manter a taxa Selic em 15% ao ano, marcando a quarta reunião consecutiva sem mudanças no juro básico da economia. A decisão, tomada por unanimidade, ocorre em meio à pressão do governo Lula por cortes na taxa, diante da desaceleração da atividade econômica e da necessidade de estímulo ao crédito.
A manutenção da Selic em 15% reforça a estratégia do Banco Central de manter uma política monetária contracionista por um período prolongado, visando garantir a convergência da inflação à meta oficial de 3%, com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.
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Governo intensifica pressão por cortes nos juros
Nos últimos meses, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, têm elevado o tom nas críticas ao Banco Central. Em declarações recentes, Lula afirmou que o país precisa de uma “política monetária mais séria” e voltou a defender a redução da Selic como instrumento para impulsionar o investimento produtivo e o crescimento.
Haddad também comentou que, se fosse presidente do Banco Central, votaria por um corte na taxa básica, sinalizando insatisfação com o atual patamar de juros. Segundo o ministro, a manutenção prolongada da Selic em níveis elevados encarece o crédito, reduz o consumo das famílias e dificulta a recuperação da economia.
Apesar da pressão política, o Copom mantém o discurso de prudência e reafirma que a trajetória da política monetária será guiada por indicadores econômicos, e não por influências externas. O Comitê enfatiza que a estabilidade de preços é condição essencial para o crescimento sustentável no médio e longo prazo.
Copom mantém Selic em 15% e defende cautela diante de incertezas
No comunicado divulgado após a decisão, o Copom destacou que o cenário econômico ainda exige cautela, citando a inflação resistente, as pressões no mercado de trabalho e a incerteza global. O Comitê avaliou que, embora alguns indicadores mostrem moderação na atividade doméstica, as expectativas de inflação para 2025 e 2026 continuam acima da meta, situando-se em 4,5% e 4,2%, respectivamente.
Segundo o Banco Central, a política monetária em nível contracionista é necessária para ancorar as expectativas e evitar que choques temporários se tornem permanentes. O texto também menciona que o ambiente internacional segue volátil, especialmente por causa da política econômica dos Estados Unidos e das tensões geopolíticas, o que reforça a necessidade de prudência por parte das economias emergentes, como o Brasil.
O Copom ainda alertou que os riscos para a inflação seguem elevados. Entre os fatores de alta, o Comitê citou uma possível desancoragem das expectativas inflacionárias e a resiliência dos preços de serviços, enquanto entre os riscos de baixa estão uma desaceleração global mais intensa e a queda nos preços das commodities.
Cenário econômico e desafios da política monetária
A decisão do Copom de manter a Selic em 15% reflete a tentativa do Banco Central de equilibrar dois objetivos fundamentais: controlar a inflação e preservar o crescimento econômico. Para o BC, reduzir os juros antes que as expectativas estejam firmemente ancoradas poderia comprometer o processo de convergência da inflação e gerar instabilidade financeira.
Por outro lado, economistas do mercado e integrantes do governo alertam que a manutenção da Selic em níveis historicamente altos pode desestimular o crédito, aumentar o custo da dívida pública e frear o consumo interno, afetando a retomada da atividade e a geração de empregos.
O cenário também coloca à prova a relação entre o governo federal e o Banco Central, especialmente após declarações do presidente Lula sobre possíveis mudanças na condução da política monetária quando o mandato do atual presidente da instituição, Gabriel Galípolo, chegar ao fim.
Selic atinge o maior nível em quase duas décadas
Com o atual patamar, a Selic alcança o maior nível desde julho de 2006, quando estava em 15,25% ao ano, também durante o governo Lula. A repetição desse cenário histórico reacende o debate sobre os efeitos dos juros altos no desempenho da economia e na credibilidade da política monetária.
O Copom sinalizou que pretende manter a Selic nesse nível por um período prolongado, mas reforçou que pode ajustar a política monetária caso identifique riscos adicionais à estabilidade de preços. O comunicado afirma que “a estratégia de manutenção do nível corrente da taxa de juros é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta” e que o Comitê “seguirá vigilante” diante das condições econômicas.
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