Na última semana, tivemos a divulgação de indicadores econômicos que trouxeram volatilidade para os mercados no Brasil e nos EUA, com este último influenciando os movimentos dos ativos de risco e das curvas de juros pelo mundo.

Inflação ao Consumidor (CPI e IPCA)

Na terça-feira (12). tivemos a divulgação de índices de inflação tanto no Brasil, com o IPCA, como no EUA, com o CPI (inflação ao consumidor).

No Brasil, o IPCA veio abaixo da expectativa do mercado (0,26%). Com isso, o IPCA anualizado foi atualizado para 5,23%. O destaque ficou por conta do núcleo da inflação, que vem em trajetória de desaceleração, apesar de ainda termos uma inflação de serviços pressionada.

Gráfico, Histograma

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“Grafico com informações referentes ao IPCA: Fonte: Fundo Versa”

O dado resultou num fechamento da curva de juros e na valorização do Ibovespa com o mercado animado com um possível início do ciclo de corte de juros ainda em 2025. Anteriormente, o mercado precificava o início do ciclo de corte de juros no Brasil apenas para 2026.

Já no EUA, tivemos a divulgação do CPI (inflação ao consumidor), cujo headline (número cheio) veio abaixo da expectativa do mercado (0,2%) e o núcleo da inflação (exclui componentes mais voláteis) veio pouco acima da expectativa (0,32%).

Em 12 meses, o headline ficou em 2,7% e o núcleo em 3%, mostrando uma inflação persistentemente acima da meta do FED. O destaque ficou por conta da inflação de bens duráveis, que veio em 0,36%, maior desde janeiro e mantendo a trajetória de aceleração desde julho de 2024.

Gráfico, Gráfico de linhas

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“Grafico com informações referentes ao CPI: Fonte: Labor Department”

O mercado focou no headline e interpretou o dado como uma confirmação de que o FED tem espaço para manter os três cortes de juros precificados para 2025, apesar da inflação persistentemente acima da meta. Com isso, tivemos o fechamento da curva de juros nos vértices mais curtos, queda do DXY e a valorização dos ativos de risco.

Inflação ao Produtor (PPI)

Na quinta (14), tivemos a divulgação do PPI (inflação ao produtor) nos EUA, que surpreendeu negativamente vindo bem acima da expectativa do mercado, que esperava uma alta de 0,2%, diferente da alta de 0,9% que foi divulgada. O principal gatilho altista foi o componente de serviços, o que afasta a narrativa do impacto de tarifas.

Gráfico, Gráfico de linhas, Histograma

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“Grafico com informações referentes ao PPI: Fonte: BLA e JP Morgan”

Olhando de forma mais minuciosa, apesar do número, dos sete componentes do PPI que alimentam o PCE, seis vieram bons, o que é um bom sinal de que o principal índice de inflação que o FED utiliza na condução da sua política monetária pode não ser tão impactado.

Vendas no Varejo

Na sexta-feira (15), tivemos a divulgação das vendas no varejo nos EUA, que vieram em 0,5%. pouco abaixo da expectativa do mercado, que era de 0,6%. O núcleo das vendas no varejo veio em linha com a expectativa, em 0,3%.  O que chamou atenção foram as revisões altistas referentes ao mês de junho, que impactam positivamente o consumo das familias no PIB americano.

No Brasil, tivemos a divulgação das vendas no varejo e do crescimento do setor de serviços. O indicador “vendas no varejo” registrou contração de 0,1%, abaixo da expectativa de crescimento de 0,7% que o mercado esperava.

Gráfico

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“Grafico com informações referentes a Vendas no Varejo: Fonte: IBGE e JP Morgan”

Já o “crescimento do setor de serviços” veio em 0,3%, acima da expectativa do mercado, que era de 0,2%. No entanto, quando investigamos mais a fundo o dado, verificamos que o número foi puxado pelo componente de transportes, que é uma das cinco atividades do setor.

Os demais componentes contraíram. A soma desses dados com o último PMI do Brasil, que veio muito ruim, nos leva a crer que a economia brasileira está desacelerando, o que pode pesar para que tenhamos o início do ciclo de corte de juros ainda em 2025.

Precificação do Mercado

Atualmente, o mercado precifica dois cortes de juros de 25bps em 2025. O que vem fundamentando essa visao do mercado? Existem dois cenários mais comuns que fazem os Bancos Centrais cortarem juros: um de inflação convergindo para a meta com a atividade econômica resiliente, o chamado goldilocks, que é bom para ativos de risco, e um com a atividade econômica enfraquecendo e uma inflação persistente acima da meta, que é ruim para ativos de risco.

Tabela

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“Grafico com informações sobre a expectativa sobre a taxa de juros americana: Fonte: FedWatch”

Considerando os dados disponiveis, o cenário que temos é de um mercado de trabalho patinando e inflação resiliente, o que num primeiro momento pode ser ignorado pelo mercado, mas que, mantida a trajetória atual, tende a impactar os ativos de risco em algum momento.

Já no Brasil, o mercado precifica o início do ciclo de cortes de juros para a última reunião de 2025, iniciando com um corte de 25bps, e mais 225bps de cortes em 2026, que levariam a taxa de juros para 12,5% no final de 2026.

“Grafico com informações sobre a expectativa sobre a taxa de juros brasileira: Fonte: Terminal Bloomberg”

Nesta semana, em destaque, temos a divulgação do IBC-Br no Brasil e a coletiva do Presidente do FED, Jerome Powell, após o Simpósio de Jackson Hole.

Bruno Issa