Os dados econômicos divulgados nesta sexta-feira (11) revelam um cenário desafiador para o Brasil: a inflação alta persiste e a atividade econômica, embora desacelerando, continua aquecida. A prévia do Produto Interno Bruto (PIB), o IBC-Br, apresentou crescimento de 0,4% em fevereiro, segundo o Banco Central. Em paralelo, o IPCA de março registrou alta de 0,56%, elevando o índice acumulado em 12 meses para 5,48%. Os números alimentam a expectativa de um novo aumento da taxa básica de juros na próxima reunião do Copom, prevista para maio.

Economia ainda aquecida e inflação em trajetória de alta

Apesar de sinais de desaceleração, a economia brasileira segue com ritmo forte o suficiente para manter a inflação alta. O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), considerado uma prévia do PIB, surpreendeu positivamente ao registrar expansão de 0,4% em fevereiro, após retração no mês anterior.

Ao mesmo tempo, a inflação oficial medida pelo IPCA subiu 0,56% em março. Com isso, o acumulado em 12 meses passou de 4,50% para 5,48%. Essa aceleração se dá tanto nos preços mais voláteis quanto nos chamados núcleos da inflação, que excluem itens como alimentos in natura e combustíveis. Esses núcleos passaram de 4,63% para 5,01% no mesmo intervalo.

Outro fator de preocupação é o comportamento dos serviços subjacentes, um dos componentes que o Banco Central monitora com atenção redobrada. Esses serviços avançaram para 6,43% em 12 meses, o que indica uma disseminação da inflação na economia.

Copom deve retomar alta da Selic já em maio

Diante da persistência da inflação alta, o mercado financeiro já projeta uma nova elevação da taxa Selic. Para o economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, a alta deve ser de 0,50 ponto percentual. Já Juliana Inhasz, professora do Insper, aposta em um ajuste mais agressivo, de 0,75 ponto.

Segundo Juliana, os efeitos da política monetária sobre a inflação podem demorar a aparecer, o que justifica uma ação mais firme já na próxima reunião do Copom. “Estamos diante de uma conjuntura desfavorável, em que o crescimento está abaixo do potencial, mas ainda insuficiente para frear a inflação”, afirma.

Riscos fiscais e limitação das políticas públicas

O cenário interno é agravado por limitações estruturais. A economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, ressalta que o país enfrenta essa pressão inflacionária com poucas ferramentas fiscais à disposição. O Brasil opera com carga tributária elevada, salários crescendo acima da produtividade, e dívida pública próxima de 80% do PIB.

Essas condições limitam a capacidade de reação do governo, tanto para conter a alta de preços quanto para sustentar o crescimento. “A única saída viável seria um ajuste fiscal rigoroso, com controle efetivo dos gastos públicos”, diz Silvia. “Mas essa não tem sido a direção do Executivo nem do Congresso.”

Guerra comercial amplia incertezas e pode afetar investidores

Outro fator que pressiona o cenário doméstico é o contexto internacional. A escalada da guerra comercial iniciada pelo ex-presidente Donald Trump aumenta os riscos de uma desaceleração global, o que impacta diretamente países emergentes como o Brasil.

Juliana Inhasz avalia que esse ambiente externo mais turbulento pode exigir atualizações rápidas das projeções macroeconômicas. Já Silvia Matos acredita que o país perde atratividade para investidores internacionais, justamente quando o capital global busca novos destinos diante da instabilidade mundial.

Queda das commodities pode reduzir arrecadação

Além da pressão inflacionária e dos riscos fiscais, o país pode sofrer com a queda no preço das commodities, especialmente o petróleo. Apesar da expectativa de uma supersafra e do aumento na produção de óleo, a rentabilidade do setor pode cair, o que afeta diretamente a arrecadação federal.

Dados do governo mostram que, em 2024, a arrecadação bruta com petróleo representou 1,60% do PIB. Uma retração nessa receita agravaria ainda mais o desequilíbrio das contas públicas, já sob forte pressão.

BC pode ter que explicar novo descumprimento da meta de inflação

Com a inflação persistente e acima da meta de 3%, cresce a probabilidade de que o presidente do Banco Central tenha que enviar, em julho, uma nova carta ao Ministério da Fazenda explicando o não cumprimento do objetivo.

Luiz Roberto Cunha alerta que, se essa comunicação for necessária, ela deverá ser mais enfática do que a anterior. “Mesmo com o risco de recessão global, não parece viável trazer a inflação de volta ao centro da meta num horizonte próximo”, afirma o economista.