Vendas no varejo do Brasil registram queda em janeiro
Em janeiro, as vendas no varejo do Brasil caíram 0,1%, marcando o terceiro mês consecutivo de retração.

As vendas no varejo brasileiro registraram uma leve queda de 0,1% em janeiro em comparação com o mês anterior, marcando o terceiro mês consecutivo de retração. O dado foi divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (14), e, embora tenha ficado ligeiramente acima das previsões do mercado, a desaceleração continua sendo uma preocupação no cenário atual, que é caracterizado por um aperto nas condições de crédito e taxas de juros elevadas.
Desempenho das vendas no varejo
Em janeiro, o desempenho do varejo foi um reflexo das condições econômicas mais desafiadoras no Brasil. A retração de 0,1% foi ligeiramente melhor do que a previsão de -0,2%, segundo uma pesquisa da Reuters. Esse resultado, embora abaixo das expectativas de crescimento, ainda apresenta uma leve resistência frente a um cenário macroeconômico adverso, com a Selic em 13,25% e uma perspectiva de alta contínua.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, o setor apresentou um avanço de 3,1%, superando as estimativas que previam um crescimento de 1,9%. No entanto, as expectativas para 2025 são menos otimistas. O comércio sofreu uma desaceleração após atingir o pico de crescimento em outubro de 2024, quando as vendas estavam em alta, influenciadas por um crescimento forte da economia.
Fatores que influenciam a desaceleração do varejo
O gerente da pesquisa no IBGE, Cristiano dos Santos, explicou que a mudança na trajetória do comércio foi impulsionada por uma série de fatores negativos. A massa de rendimento e o emprego começaram o ano com queda, e a inflação alta continuou sendo um obstáculo para o crescimento do consumo. Esses fatores contribuíram para o recuo das vendas no varejo nos últimos três meses, mas a leve recuperação registrada em janeiro sugere que o setor ainda tem potencial para resistir.
Em 2024, o crescimento do consumo das famílias foi de 4,8%, impulsionado por um mercado de trabalho aquecido e aumento da massa salarial. Contudo, as perspectivas para 2025 são mais cautelosas, com a continuidade da alta dos juros e o aperto no crédito, que devem impactar negativamente a capacidade de consumo das famílias. Analistas esperam um período de maior desafio para os varejistas nacionais, com possíveis desacelerações nas vendas e menores margens de lucro.
O impacto das taxas de juros no comércio varejista
A alta taxa de juros, que se mantém em patamares elevados desde o ano passado, tem um efeito direto sobre o setor de varejo, especialmente em segmentos mais dependentes de crédito. O Banco Central do Brasil já elevou a Selic para 13,25% e indicou um novo aumento de 1 ponto percentual na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom). Esse movimento reflete a necessidade de controlar a inflação, mas também pressiona o consumo.
As taxas de juros mais altas tornam o crédito mais caro e menos acessível, o que tende a reduzir o apetite das famílias por consumo. Além disso, a inflação persistente compromete o poder de compra, principalmente em categorias de produtos essenciais. Isso gera um ambiente de incerteza, com os consumidores sendo mais cautelosos em suas decisões de compra, o que afeta diretamente o setor de varejo.
Setores do varejo mostram desempenho divergente
Apesar da retração no setor varejista como um todo, alguns segmentos conseguiram registrar crescimento. Entre as oito atividades pesquisadas pelo IBGE, destacam-se os seguintes resultados:
- Crescimento:
- Equipamentos e material para escritório, informática e comunicação: +5,3%
- Combustíveis e lubrificantes: +1,2%
- Outros artigos de uso pessoal e doméstico: +0,7%
- Livros, jornais, revistas e papelaria: +0,6%
- Queda:
- Tecidos, vestuário e calçados: -0,1%
- Móveis e eletrodomésticos: -0,2%
- Supermercados e produtos alimentícios: -0,4%
- Artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria: -3,4%
O segmento de equipamentos de informática, por exemplo, registrou o maior crescimento, com 5,3%, o que pode ser atribuído à crescente demanda por produtos tecnológicos, tanto para uso doméstico quanto profissional. Por outro lado, a indústria farmacêutica e de perfumaria enfrentou uma queda significativa de 3,4%, um reflexo de um consumo mais cauteloso nas categorias não essenciais.
Expectativas para o comércio varejista ampliado
No comércio varejista ampliado, que inclui setores como veículos, motos e material de construção, as vendas cresceram 2,3%. O segmento de veículos teve o maior destaque, com uma alta de 4,8%. Este crescimento é um indicativo de que, apesar da desaceleração no varejo, alguns setores conseguem manter um desempenho positivo, impulsionados por uma demanda reprimida ou investimentos em áreas específicas da economia.