Nos últimos anos, o mercado de moda no Brasil passou por mudanças significativas, impactadas por fatores como a chegada de marcas internacionais, o crescimento do comércio eletrônico e o “efeito blusinhas” popularizado pelas tendências de fast fashion. A presença de gigantes como a Shein no país fez com que varejistas locais e internacionais ajustassem suas estratégias para continuar competitivos em um mercado cada vez mais desafiador. Essa adaptação, que inclui redução de preços e novas abordagens para atender a um público mais exigente, reflete a complexidade do cenário de consumo no Brasil.

O desafio do varejo de moda no Brasil

O mercado de moda brasileiro, já afetado por questões como o custo de operação elevado, impostos altos e o câmbio volátil, se tornou ainda mais competitivo com a chegada de empresas como a Shein. Essas marcas de fast fashion, que oferecem roupas a preços acessíveis, mudaram a dinâmica do setor, forçando tanto grandes nomes internacionais quanto marcas locais a repensar sua abordagem para continuar atraindo consumidores.

A situação tornou-se ainda mais desafiadora para as marcas estrangeiras, que enfrentam custos adicionais relacionados ao câmbio, logística e tributação. O Brasil, com sua economia complexa e custos elevados, é um dos países mais caros para comprar roupas, fato que reflete no poder de compra do consumidor local e exige constantes ajustes de preços. Esse cenário foi analisado pelo BTG Pactual, que revelou dados interessantes sobre a competitividade dos preços no mercado de moda, principalmente no que se refere a marcas como a Zara e a Shein.

O índice Zara

O “Índice Zara”, elaborado pelo BTG Pactual, é uma ferramenta que compara o preço de produtos da marca espanhola em 54 países, incluindo o Brasil. Segundo o índice mais recente, a Zara teve que reduzir seus preços no Brasil, fazendo com que seus produtos se tornassem 6% mais baratos em comparação com os Estados Unidos. Este ajuste foi uma resposta à crescente competição no mercado brasileiro e ao aumento da pressão de marcas como a Shein, que oferecem roupas a preços mais acessíveis, principalmente para a classe média e baixa.

O relatório do BTG Pactual destaca que o segmento de moda foi um dos mais afetados por “disrupções”, como o crescimento do comércio eletrônico e o aumento da competição com empresas internacionais. Além disso, muitos consumidores passaram a optar por produtos mais baratos, um fenômeno conhecido como “trade-down”, o que também contribuiu para a queda nos preços das roupas no Brasil.

Como a Shein está dominando o mercado de moda no Brasil

A Shein, conhecida por sua vasta oferta de roupas a preços extremamente competitivos, tornou-se um verdadeiro fenômeno no Brasil. De acordo com o estudo do BTG Pactual, a Shein é 9% mais barata que a Renner, 3% mais barata que a Riachuelo e 2% mais barata que a C&A. Esses dados mostram como a marca chinesa tem se estabelecido como uma opção atraente para os consumidores brasileiros, especialmente aqueles que buscam peças de moda acessíveis e tendências de roupas que mudam rapidamente.

Apesar de sua competitividade, os produtos da Shein também apresentam preços mais elevados no Brasil em comparação com outros mercados internacionais. O mesmo estudo indica que os preços no Brasil são 15% mais caros do que nos Estados Unidos e 189% mais elevados quando ajustados pela paridade do poder de compra (PPP), o que coloca o Brasil entre os países com os preços mais altos para a marca.

Imposto de importação e o impacto na competitividade

Além das questões de preço, o mercado de moda brasileiro também foi afetado por mudanças fiscais. A introdução do Imposto de Importação para compras de até US$ 50, por exemplo, nivelou um pouco mais o terreno entre as marcas locais e as internacionais. Isso afetou principalmente as empresas voltadas para a classe baixa, que agora enfrentam um custo adicional nas importações, o que pode levar a um aumento nos preços.

No entanto, o índice revela que, mesmo com esses ajustes, os produtos importados, como os da Shein, continuam a apresentar preços mais baixos do que as marcas locais. Essa diferença de preços tem sido um fator decisivo para muitos consumidores, que optam por alternativas mais baratas, mas igualmente estilosas.

O Brasil ainda é um mercado caro para a moda

Apesar das tentativas de ajuste e dos avanços em termos de competitividade, o Brasil continua sendo um dos países mais caros para comprar roupas. Quando os preços dos produtos da Zara são ajustados pela paridade do poder de compra (PPP), eles se tornam 135% mais altos no Brasil do que nos Estados Unidos. Esse cenário mostra como o “Custo Brasil” ainda impacta diretamente os preços no setor de moda, dificultando o acesso dos consumidores a roupas de qualidade a preços justos.

O Índice Zara também coloca o Brasil em uma posição de destaque no ranking global de preços de roupas, aparecendo em décimo lugar entre os países mais caros para comprar roupas, após ajuste pelo PPP. Com isso, mesmo com a chegada de novas marcas e a maior competitividade no mercado, os consumidores brasileiros ainda enfrentam desafios no que diz respeito ao custo das roupas.