Shein enfrenta críticas na França com plano de inaugurar lojas em Paris e outras cidades
Marcas locais, políticos e reguladores criticam o movimento, alegando que a chegada da varejista de fast-fashion agrava a concorrência com empresas francesas e prejudica a imagem da moda no país.

A varejista on-line Shein enfrenta resistência na França ao anunciar a abertura de lojas físicas em diversas cidades, incluindo Paris — considerada o coração mundial da moda. O plano da empresa asiática de instalar espaços permanentes dentro de unidades operadas sob o nome Galeries Lafayette provocou uma onda de críticas entre marcas locais, políticos e representantes do setor de vestuário, que enxergam a iniciativa como uma ameaça à moda francesa e ao comércio nacional.
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Polêmica em torno da expansão da Shein
O anúncio da abertura das lojas ocorre em um momento sensível para o varejo francês. Nos últimos meses, empresas tradicionais do setor de moda, como Jennyfer e Naf Naf, entraram em processo de insolvência devido à queda nas vendas e ao aumento da concorrência internacional. Para especialistas, a chegada da Shein em pontos estratégicos do país pode agravar a crise das marcas locais.
A principal preocupação está no modelo de negócios da Shein, que oferece roupas e acessórios a preços extremamente baixos, conquistando principalmente o público jovem. Críticos afirmam que essa estratégia cria uma competição desleal com marcas francesas, que enfrentam custos de produção e padrões trabalhistas mais rigorosos.
Além disso, o momento escolhido pela empresa chinesa para iniciar a expansão física também gerou incômodo. Muitos veem a iniciativa como inoportuna e insensível ao cenário atual, no qual o setor tenta se recuperar de anos difíceis.
Reação negativa de marcas e políticos franceses
A repercussão foi imediata entre grandes nomes da moda e autoridades francesas. De acordo com o jornal Le Monde, diversos fornecedores e marcas que operam dentro das lojas SGM (Société des Grands Magasins) — atual detentora das Galeries Lafayette — expressaram descontentamento com a decisão de ceder espaço à Shein.
A lista de marcas contrárias à parceria vem crescendo. A APC, pertencente ao fundo L. Catterton, co-propriedade da LVMH, já anunciou que deixará de operar nas lojas do grupo. A gigante americana PVH, dona das marcas Calvin Klein e Tommy Hilfiger, também avalia encerrar suas operações com a SGM. Outra marca francesa, a Cabaïa, líder em vendas de mochilas, ameaçou abandonar o grupo alegando “divergência de valores”.
O debate se estendeu ao campo político. O Parlamento francês aprovou recentemente um projeto de lei que busca regulamentar o setor de fast-fashion, com medidas que incluem a limitação de publicidade e incentivos para práticas sustentáveis. Caso seja aprovado em definitivo, o texto poderá proibir a Shein de divulgar seus produtos no país, o que reforça o clima de tensão entre a varejista e o governo francês.
Conflito entre Galeries Lafayette e SGM
A controvérsia ganhou novos contornos após a Galeries Lafayette, marca centenária e símbolo da moda parisiense, afirmar que não compartilha os valores da Shein e pretende barrar a abertura das lojas. Em comunicado, a rede alegou que a iniciativa viola obrigações contratuais firmadas com a SGM, responsável por administrar parte de suas unidades.
A SGM, por outro lado, nega qualquer irregularidade. Fundada em 2018 por Frédéric e Maryline Merlin, a empresa afirma que os contratos estão sendo respeitados e que a parceria com a Shein visa atrair um público mais jovem e conectado, sem comprometer o legado das lojas de departamento.
A primeira loja física da Shein deve ser inaugurada no próximo mês, dentro da unidade BHV Marais, em Paris. Outras cidades como Dijon, Grenoble, Reims, Limoges e Angers também estão na lista de expansão. Segundo a SGM, o projeto deve gerar cerca de 200 empregos diretos e indiretos na França.
Shein enfrenta resistência na França e críticas à moda rápida
A resistência à Shein na França reflete uma preocupação maior sobre os impactos ambientais e sociais da chamada moda rápida. O presidente da Federação Francesa de Prêt-à-Porter Feminino, Yann Rivoallan, classificou a parceria como uma “falta de respeito” com os consumidores fiéis da BHV e da Galeries Lafayette. Segundo ele, a entrada da Shein em espaços tradicionais da moda “enfraquece a identidade francesa e o valor das marcas locais”.
A empresa asiática, fundada na China e atualmente sediada em Cingapura, tornou-se um fenômeno global de varejo on-line. Sua popularidade cresceu com o uso intenso de redes sociais, campanhas de influenciadores e lançamentos constantes de novos produtos a preços baixos. Até agora, a Shein apostava em lojas temporárias (pop-ups) como forma de aproximar-se dos consumidores, mas a abertura de unidades permanentes representa um novo capítulo em sua estratégia de crescimento internacional.
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