Inflação de 2024: aceleração no final do ano e expectativas de alívio só a partir de março
A inflação no Brasil continua a subir, impulsionada principalmente pelo aumento dos preços de alimentos e reajustes sazonais como o IPVA e as mensalidades escolares.

A inflação no Brasil está em trajetória de aceleração no fim de 2024, com um aumento de 0,17% na terceira quadrissemana de dezembro, após alta de 0,08% na semana anterior, de acordo com o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor – Semanal) do FGV Ibre. Os alimentos seguem como o principal vilão, pressionando a taxa de inflação, e a expectativa é de que essa pressão continue nos primeiros meses de 2025. No entanto, um alívio é aguardado para o segundo trimestre do próximo ano, com a expectativa de que os preços comecem a desacelerar a partir de março, conforme os efeitos das políticas monetárias do Banco Central se manifestem.
Aceleração da inflação e seus principais impulsores
Em dezembro, a inflação no Brasil continuou sua trajetória de aceleração. De acordo com os dados do IPC-S divulgados nesta segunda-feira pelo FGV Ibre, a taxa subiu para 0,17% na terceira quadrissemana do mês, após um aumento mais modesto de 0,08% na semana anterior. Embora os preços de diversos itens possam contribuir para essa alta, o grande responsável pela pressão inflacionária segue sendo o grupo dos alimentos, que continua impactando de maneira significativa o bolso dos consumidores.
Esse cenário, que já vem se desenhando ao longo de 2024, tem como principais vilões o encarecimento das carnes e dos produtos hortifrutigranjeiros. As condições climáticas típicas do verão, com chuvas fortes, granizo e intenso calor, afetam diretamente a qualidade e o preço desses produtos. Para 2025, a previsão é que essa tendência continue no primeiro mês do ano, com aumento significativo dos preços desses itens. Além disso, o reajuste das mensalidades escolares e o aumento do IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores) também são fatores que devem pressionar os índices de preços em janeiro.
Expectativas para o mês de janeiro
A perspectiva para o mês de janeiro é que a inflação continue acelerando. Segundo André Braz, coordenador dos índices de preços do FGV Ibre, o aumento no custo das carnes, que já vinha impactando a inflação nos últimos meses, deve ser complementado com o encarecimento dos produtos hortifrutigranjeiros, em razão das condições climáticas desfavoráveis à produção. Isso deve resultar em um avanço significativo da inflação, especialmente considerando o impacto do reajuste das mensalidades escolares e do IPVA, que tendem a subir mais do que no ano passado, em razão da inflação elevada em 2024.
Esses reajustes sazonais, combinados com os efeitos climáticos, tornam o cenário de inflação em janeiro ainda mais desafiador para os consumidores. “Com a soma de todos esses fatores, a inflação tende a avançar significativamente em janeiro. O alívio, entretanto, só deve vir a partir de março, à medida que as políticas monetárias e o aumento da taxa de juros comecem a gerar seus efeitos na economia”, explica Braz.
Como a política monetária pode influenciar a inflação?
O aumento da Selic, a taxa básica de juros do Brasil, tem sido a principal ferramenta do Banco Central para controlar a inflação. No entanto, os efeitos dessa medida são sentidos de forma gradual. Quando a Selic é elevada, leva de seis a nove meses para que os impactos cheguem à economia real e ajudem a desacelerar a inflação.
Embora o aumento da Selic seja esperado para controlar a alta dos preços, o desafio em 2025 será o comportamento do dólar, que se manteve acima de R$ 6 ao longo de 2024. O valor elevado da moeda americana tem um impacto direto nos preços internos, tornando o controle da inflação ainda mais difícil. André Braz alerta que, caso o dólar permaneça nesse patamar, a tarefa do Banco Central se tornará ainda mais complexa.
“A pressão do câmbio sobre a inflação depende de vários fatores, incluindo a política fiscal do governo, que precisa ser mais eficaz para controlar o gasto público e, assim, estabilizar o real. A política fiscal do governo e o relacionamento com o mercado financeiro serão cruciais para definir o futuro da inflação no país”, afirma Braz.
Projeções de inflação para 2025
As estimativas de inflação para o próximo ano continuam bem acima da meta estabelecida pelo governo. O Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira, projeta uma inflação de 4,84% para 2025, bem acima do teto da meta, que é de 4,5%. Com esse cenário, os analistas e economistas acreditam que será necessário um esforço conjunto de política monetária e fiscal para controlar a inflação e trazer os preços de volta para dentro da meta do governo.
No entanto, André Braz acredita que há espaço para mudanças na política fiscal e monetária que podem reduzir a pressão inflacionária ao longo de 2025. “Há muita água para passar debaixo dessa ponte. O governo precisa encontrar soluções para controlar a inflação e alinhar suas políticas para que a inflação se aproxime da meta”, conclui o economista.