A inflação brasileira surpreendeu o mercado ao registrar um aumento de 0,62% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de novembro, um valor superior à expectativa do mercado de 0,50%. O resultado foi impulsionado, principalmente, pelo aumento nos preços dos alimentos e serviços, refletindo o impacto de fatores tanto internos quanto externos. Esse movimento acendeu um sinal de alerta para os analistas, que agora revisam suas projeções de inflação para os próximos meses e ajustam suas expectativas sobre a taxa Selic, que pode ser ajustada para lidar com a pressão inflacionária.

O que está impulsionando o aumento da inflação?

A alta nos preços dos alimentos foi o principal fator responsável pela aceleração do IPCA-15, com destaque para o aumento de 1,34% no setor de alimentação e bebidas, que contribuiu com 0,29 ponto percentual para o índice geral. Entre os itens que mais pressionaram o indicador, estão o óleo de soja, que teve alta de 7,9%, o tomate, com aumento de 8,2%, e as carnes, que subiram 5,9%. Isso gerou um impacto significativo nos preços dos alimentos consumidos em casa, que avançaram de 0,95% para 1,65% de outubro para novembro.

Além disso, os preços dos serviços também apresentaram uma elevação, com destaque para o aumento nas passagens aéreas e nos custos relacionados ao transporte, o que contribuiu para a alta geral do indicador. Esses aumentos são um reflexo de um cenário inflacionário persistente, causado, em parte, pela desvalorização do real e pelos efeitos do aumento da demanda pós-pandemia.

A expectativa para os próximos meses: revisões de projeção para 2024 e 2025

O aumento da inflação nos últimos meses fez com que vários analistas e economistas revisassem suas projeções para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024. A inflação acumulada nos últimos 12 meses subiu para 4,77%, superando o teto da meta de 4,5% definida pelo Banco Central. Para 2025, as previsões de inflação oscilam entre 4,7% e 5,3%, com grande parte dos analistas revisando para cima as suas projeções.

A alta nos preços de alimentos e outros produtos essenciais, como combustíveis e energia, é um dos fatores que mais tem pressionado a inflação. Além disso, a previsão de pagamento do bônus de Itaipu, feito pelo Paraguai ao Brasil, também deve contribuir para a elevação do índice, impactando as estimativas de inflação para os próximos dois anos. O impacto do bônus Itaipu pode resultar em uma aceleração adicional dos preços, o que cria um cenário incerto e que exige atenção das autoridades econômicas.

Perspectivas para a Selic

Com o aumento da inflação, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se vê diante de um cenário desafiador. Atualmente, a Selic está em 13,25%, e muitos analistas acreditam que o Banco Central precisará agir para controlar a pressão inflacionária. Alguns economistas sugerem que uma alta adicional na Selic pode ser necessária, especialmente diante da pressão dos preços dos alimentos e dos serviços.

De acordo com a avaliação do Goldman Sachs, XP Investimentos e Itaú BBA, a expectativa é de que a Selic se mantenha elevada por mais tempo, com riscos de elevação da taxa terminal, caso a inflação continue a mostrar sinais de resistência. O mercado financeiro, por sua vez, já ajusta suas projeções, com analistas prevendo que o Copom poderá aumentar a taxa de juros de forma mais agressiva, com um possível ajuste de 0,75 ponto percentual já na próxima reunião.