Logo após a confirmação da vitória de Donald Trump nas eleições de 2024, os mercados financeiros reagiram com volatilidade. O dólar comercial subiu quase 2% em relação ao real na abertura dos negócios. Esse movimento refletiu a apreensão dos investidores com as promessas econômicas de Trump, que incluem o aumento de tarifas de importação, o bloqueio de imigrantes e uma reforma fiscal com cortes de impostos. Esses pontos levantaram temores de que tais medidas inflacionariam a economia dos Estados Unidos, o que poderia levar à necessidade de juros mais altos no país. O aumento das taxas de juros, por sua vez, normalmente fortalece a moeda americana, elevando o valor do dólar frente a outras moedas, incluindo o real.

Fatores internos no Brasil

Embora a vitória de Trump tenha impulsionado o dólar inicialmente, fatores internos no Brasil também desempenharam um papel fundamental na estabilização da moeda. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que as discussões sobre as medidas fiscais no país haviam sido concluídas. Segundo Haddad, a próxima etapa será uma série de conversas com os presidentes das duas Casas do Congresso para discutir o envio das propostas fiscais para análise parlamentar. Essa sinalização ajudou a aliviar a pressão sobre o câmbio, pois os investidores passaram a perceber que o Brasil está caminhando para corrigir o rumo fiscal, o que poderia resultar em uma menor necessidade de juros elevados e, consequentemente, uma menor valorização do dólar.

Além disso, a expectativa de que o governo brasileiro busque ajustes fiscais e reduza a incerteza econômica também contribuiu para amenizar as preocupações do mercado em relação ao real. Com as condições fiscais mais equilibradas, muitos analistas acreditam que a pressão sobre a moeda pode ser suavizada nos próximos meses, especialmente se o governo continuar adotando medidas para combater a inflação e controlar o aumento das taxas de juros.

Expectativas globais

As promessas econômicas de Trump, como a imposição de tarifas comerciais mais altas e cortes de impostos, são vistas por muitos analistas como potencialmente inflacionárias. A perspectiva é que tais políticas levem a uma aceleração do crescimento da economia americana, mas também criem pressões sobre os preços no país. Para conter essas pressões inflacionárias, o Federal Reserve (o banco central dos EUA) poderia aumentar as taxas de juros, o que teria o efeito de fortalecer ainda mais o dólar.

De acordo com o economista-chefe do banco Bmg, Flavio Serrano, o fortalecimento inicial do dólar está diretamente relacionado a essas expectativas inflacionárias. “O movimento está coerente com o discurso protecionista de Trump, que prevê tarifas mais altas e uma maior pressão inflacionária. O cenário é de juros mais altos e, consequentemente, de um dólar mais forte no longo prazo”, comentou o especialista.

O impacto das políticas fiscais no Brasil e o fortalecimento do dólar

No Brasil, o cenário fiscal também exerce grande influência sobre a cotação do dólar. O aumento da taxa de juros no país, que se tornou mais provável devido a um desequilíbrio fiscal, foi um dos fatores que pressionou o valor da moeda americana para cima. Flavio Serrano ainda destacou que, embora o cenário global de protecionismo e inflação tenha levado a uma alta do dólar, os problemas fiscais no Brasil também colaboraram para essa valorização. “Na teoria, com o fiscal acertado no Brasil, seria possível corrigir a alta do dólar que vimos nos últimos meses”, afirmou o economista.

A cotação do dólar e as intervenções do Banco Central

Às 12h26 do dia em questão, o dólar à vista estava operando a R$ 5,742, com uma leve queda de 0,08%, após a alta inicial. Em seu ponto mais alto, a moeda chegou a R$ 5,862, antes de se estabilizar. No mercado futuro, o dólar também mostrou um comportamento mais moderado, com a alta de 0,82% em relação ao fechamento anterior. Para conter a volatilidade do câmbio, o Banco Central anunciou que realizaria um leilão de até 14.000 contratos de swap cambial tradicional, visando a rolagem do vencimento de 2 de dezembro de 2024. Esse tipo de intervenção ajuda a mitigar flutuações excessivas no mercado de câmbio, garantindo uma maior estabilidade para a moeda brasileira.