Com um cenário econômico desafiador em mente, economistas afirmam que o ciclo de alta da Selic continuará, mesmo com um aparente alívio na inflação de setembro. Os especialistas destacam que a pressão inflacionária permanece elevada, principalmente devido ao aquecimento do mercado de trabalho e ao impacto dos preços de energia e alimentos. Essa situação exige uma resposta firme do Banco Central para controlar a inflação, que ainda está acima do desejado.

Os dados de setembro mostraram uma alta mensal de 0,44% no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), ligeiramente abaixo das projeções do mercado. No entanto, a aceleração da inflação é atribuída principalmente ao aumento das contas de eletricidade e à alta dos preços das carnes, que afetam diretamente o orçamento das famílias brasileiras. Alexandre Maluf, economista da XP, ressalta que, embora alguns serviços tenham apresentado boas surpresas, o núcleo da inflação subiu de 4,5% para 4,8%, indicando que as pressões inflacionárias ainda estão longe de serem contidas.

A expectativa é que o Comitê de Política Monetária (Copom) mantenha a trajetória de aumento da taxa Selic, prevendo elevações de 0,50 ponto percentual nas reuniões de novembro e dezembro. Essas decisões são cruciais para manter as expectativas de inflação alinhadas com a meta estabelecida, que atualmente se encontra ameaçada por uma série de fatores.

Diversos fatores estão contribuindo para o aumento da inflação no Brasil, e os especialistas apontam que o mercado de trabalho aquecido é um dos principais deles. A taxa de desemprego está em seus níveis mais baixos em uma década, o que, por sua vez, eleva os salários e pressiona os preços dos serviços. Segundo Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, essa pressão sobre os salários pode dificultar a convergência da inflação para o centro da meta.

Além disso, a previsão de alta nos preços dos alimentos, especialmente devido às dinâmicas do mercado de carne, está gerando viés de alta nas projeções para o grupo “alimentação no domicílio”. Maluf e outros economistas concordam que esses fatores exigem uma ação decisiva do Banco Central.

Com base nas análises mais recentes, as expectativas de inflação permanecem desancoradas, o que leva a uma expectativa de que a Selic deve atingir 12% no final do ciclo. A XP, por exemplo, projeta um fechamento de 4,6% para a inflação em 2024, com a possibilidade de um aumento adicional devido a pressões nos preços dos serviços.

O economista André Valério, do Inter, corroborou essas preocupações ao afirmar que, apesar de alguns sinais positivos nos núcleos de inflação, a difusão de preços ainda permanece acima de 55%, indicando um risco de reaceleração. Ele prevê uma alta de 50 pontos base na reunião de novembro do Copom, em resposta a essas pressões.

Os preços da alimentação estão sendo afetados por uma combinação de fatores climáticos e sazonais. Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destaca que as queimadas e a seca têm prejudicado a produção agrícola, resultando em aumentos nos preços que agora estão sendo repassados ao consumidor. Esse cenário é agravado pela expectativa de que a bandeira tarifária vermelha 2 será acionada em outubro, o que pode aumentar ainda mais os custos de energia.

Além disso, a inflação dos bens industriais voltou a acelerar, conforme a alta acumulada em 12 meses passou de 1,2% em agosto para 1,5% em setembro. Isso sugere que a recuperação dos preços das commodities pode começar a impactar negativamente o IPCA.