Ambev (ABEV3): esperança por dividendos impulsiona ações
As ações da Ambev (ABEV3) tiveram um desempenho superior recentemente, impulsionadas pela expectativa de dividendos extraordinários. Contudo, analistas da XP expressam ceticismo, não considerando esses dividendos como um cenário base e apontando a falta de catalisadores para uma reavaliação das ações no curto prazo.

A expectativa em torno do pagamento de dividendos extraordinários tem elevado as ações da Ambev (ABEV3) nos últimos meses. Desde junho de 2023, as ações da companhia caíram cerca de 6%, mas a percepção de que dividendos adicionais podem ser anunciados gerou um desempenho superior em relação ao Ibovespa, com uma valorização aproximada de 15% desde agosto. Contudo, analistas da XP permanecem céticos, não considerando essa perspectiva como um cenário base, levantando questões sobre a sustentabilidade desse otimismo.
Desde junho de 2023, o desconto das ações da Ambev em relação aos seus pares aumentou significativamente, refletindo uma crescente percepção de risco no Brasil. Nesse contexto, o rendimento dos lucros da Ambev tem acompanhado o aumento do rendimento da NTN-B (2035), o que eleva as preocupações sobre a performance futura da empresa.
Apesar do cenário desafiador, os analistas da XP, Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, observam que, desde agosto, as ações da Ambev passaram por uma “reclassificação”, superando o desempenho do Ibovespa. Isso foi impulsionado pela esperança de dividendos extraordinários, que pode criar um risco de cauda, tornando difícil quantificar as reais perspectivas da companhia.
A possibilidade de dividendos extraordinários é vista como a principal razão para o recente desempenho das ações da Ambev. No entanto, a XP não considera essa expectativa como seu cenário base. A equipe de análise aponta que a recente mudança de CEO, o aumento das taxas de juros e a existência de cerca de R$ 10 bilhões em créditos tributários para compensar as mudanças na legislação adicionam incertezas ao futuro da empresa.
Os analistas acreditam que, apesar de ABEV3 permanecer descontada em relação à ABI, não há catalisadores imediatos que possam levar a uma reavaliação significativa das ações. Além disso, a XP projeta um crescimento limitado no lucro por ação (EPS), devido a um momento mais fraco nas operações brasileiras, especialmente em um ambiente de preços elevados para commodities, que pode resultar em revisões negativas nas projeções de lucros.
Os dados do setor indicam que, após dois meses de forte crescimento, a produção de bebidas no Brasil aumentou 3,5% em agosto em comparação ao ano anterior, mas a taxa de crescimento desacelerou em relação aos meses anteriores. Este cenário sugere que a indústria pode estar perdendo momentum, o que pode impactar negativamente os lucros da Ambev nos próximos anos, especialmente considerando o ambiente competitivo mais acirrado.
Além disso, a visibilidade dos lucros nas operações internacionais da Ambev permanece baixa, o que aumenta a incerteza em relação às perspectivas financeiras da empresa. A taxa efetiva de imposto da companhia também continua a ser um fator incerto, o que agrava o cenário desafiador que a empresa enfrenta.
Enquanto isso, o Bradesco BBI observa que os volumes de cerveja no Brasil têm sido consistentemente surpreendentes, apoiados por um ambiente favorável ao consumo doméstico, refletido em números de PIB mais fortes do que o esperado e uma taxa de desemprego historicamente baixa. No entanto, as comparações de volume de cerveja no Brasil para o terceiro trimestre se tornam mais difíceis, já que nos últimos três anos, os volumes nesse período superaram o que era esperado.
Os analistas do BBI destacam que, apesar do ambiente favorável ao consumidor, a competição por participação de mercado se intensificou, e isso pode limitar a capacidade da Ambev de manter seu desempenho de lucros sem uma recuperação nas margens.