Ambev anuncia dividendos abaixo das expectativas e ABEV3 cai na Bolsa
Ambev anuncia dividendos abaixo do esperado, frustra o mercado e derruba ABEV3 na Bolsa. Veja por que a distribuição desapontou
Foto: Adobe Shutterstock
A Ambev anunciou R$ 7,3 bilhões em dividendos adicionais, mas o mercado esperava mais e reagiu mal. As ações ABEV3 caíram cerca de 3% na manhã desta quarta-feira (10), mesmo com o pacote total de retorno ao acionista passando de R$ 20 bilhões em 2025.
O Conselho de Administração aprovou R$ 0,4612 por ação em dividendos extras e R$ 4,2 bilhões em JCP (R$ 0,2690 por ação, antes de impostos). Com isso, a Ambev soma dividendos trimestrais, JCP e recompra de ações iniciada em outubro e forma um payout equivalente a 130% do lucro estimado pelo Bradesco BBI – ou 144% do lucro ajustado.
Mesmo assim, o BBI avalia que o anúncio de 5,4% para dividendos decepcionou. Parte do mercado projetava uma distribuição extraordinária muito maior, em linha com as expectativas registradas no fim de 2024.
Por volta de 10h25, ABEV3 caía 3,08%, negociada a R$ 13,16, entre as maiores quedas do Ibovespa.
Cotação atual das ações ABEV3
Reação do mercado os dividendos da Ambev
O Bradesco BBI aponta que a decisão reforça a postura de alocação prudente de capital da companhia, sustentada por um caixa líquido robusto (R$ 16,9 bilhões no 3T25) e pelo elevado custo de capital no Brasil. Para o banco, a Ambev evita alavancagem porque:
- captação de dívida em grande escala seria ineficiente;
- o benefício fiscal do JCP perdeu relevância;
- antecipar distribuição antes da tributação de dividendos traria pouco ganho;
- o custo de capital segue alto, ainda mais considerando a exposição global da AB InBev.
Apesar disso, a falta de uma política clara de dividendos reduz a previsibilidade de novos pagamentos extraordinários. O ambiente operacional também não ajuda, já que a indústria de cerveja segue fraca, a concorrência aumenta e os custos continuam pressionados.
O BBI mantém recomendação neutra, lembrando que ABEV3 negocia a 14,3 vezes o lucro projetado para 2026; um prêmio de 19% em relação aos pares globais.
Goldman Sachs também vê frustração
O Goldman Sachs reconhece que o retorno ao acionista não é pequeno, mas também considera que o anúncio ficou abaixo do que o mercado esperava. Para o banco, a distribuição bruta de R$ 11,4 bilhões no fim do ano veio menor que o intervalo de R$ 10 bilhões a R$ 35 bilhões aguardado por parte dos investidores, embora supere sua projeção de R$ 9,2 bilhões.
Mesmo depois do pagamento, o Goldman calcula que a Ambev ainda tem espaço para até R$ 31,9 bilhões em distribuições futuras.
O banco lembra que este é o segundo ano seguido em que as ações sobem com expectativas de uma reestruturação mais profunda, mas a administração entrega algo mais conservador.
Vale a pena investir em ABEV3?
O Goldman mantém recomendação de venda, destacando desafios para 2026: mercado já saturado, mudanças no consumo, aumento da oferta, concorrência crescente, perda de força da marca Skol e nova rodada de pressão de custos.