Ambev anuncia dividendos abaixo das expectativas e ABEV3 cai na Bolsa

Ambev anuncia dividendos abaixo do esperado, frustra o mercado e derruba ABEV3 na Bolsa. Veja por que a distribuição desapontou

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Última atualização:  10 de dez, 2025 às 11:20
ambev abev3 Foto: Adobe Shutterstock

A Ambev anunciou R$ 7,3 bilhões em dividendos adicionais, mas o mercado esperava mais e reagiu mal. As ações ABEV3 caíram cerca de 3% na manhã desta quarta-feira (10), mesmo com o pacote total de retorno ao acionista passando de R$ 20 bilhões em 2025.

O Conselho de Administração aprovou R$ 0,4612 por ação em dividendos extras e R$ 4,2 bilhões em JCP (R$ 0,2690 por ação, antes de impostos). Com isso, a Ambev soma dividendos trimestrais, JCP e recompra de ações iniciada em outubro e forma um payout equivalente a 130% do lucro estimado pelo Bradesco BBI – ou 144% do lucro ajustado.

Mesmo assim, o BBI avalia que o anúncio de 5,4% para dividendos decepcionou. Parte do mercado projetava uma distribuição extraordinária muito maior, em linha com as expectativas registradas no fim de 2024.

Por volta de 10h25, ABEV3 caía 3,08%, negociada a R$ 13,16, entre as maiores quedas do Ibovespa.

Cotação atual das ações ABEV3

Reação do mercado os dividendos da Ambev

O Bradesco BBI aponta que a decisão reforça a postura de alocação prudente de capital da companhia, sustentada por um caixa líquido robusto (R$ 16,9 bilhões no 3T25) e pelo elevado custo de capital no Brasil. Para o banco, a Ambev evita alavancagem porque:

  • captação de dívida em grande escala seria ineficiente;
  • o benefício fiscal do JCP perdeu relevância;
  • antecipar distribuição antes da tributação de dividendos traria pouco ganho;
  • o custo de capital segue alto, ainda mais considerando a exposição global da AB InBev.

Apesar disso, a falta de uma política clara de dividendos reduz a previsibilidade de novos pagamentos extraordinários. O ambiente operacional também não ajuda, já que a indústria de cerveja segue fraca, a concorrência aumenta e os custos continuam pressionados.

O BBI mantém recomendação neutra, lembrando que ABEV3 negocia a 14,3 vezes o lucro projetado para 2026; um prêmio de 19% em relação aos pares globais.

Goldman Sachs também vê frustração

O Goldman Sachs reconhece que o retorno ao acionista não é pequeno, mas também considera que o anúncio ficou abaixo do que o mercado esperava. Para o banco, a distribuição bruta de R$ 11,4 bilhões no fim do ano veio menor que o intervalo de R$ 10 bilhões a R$ 35 bilhões aguardado por parte dos investidores, embora supere sua projeção de R$ 9,2 bilhões.

Mesmo depois do pagamento, o Goldman calcula que a Ambev ainda tem espaço para até R$ 31,9 bilhões em distribuições futuras.

O banco lembra que este é o segundo ano seguido em que as ações sobem com expectativas de uma reestruturação mais profunda, mas a administração entrega algo mais conservador.

Vale a pena investir em ABEV3?

O Goldman mantém recomendação de venda, destacando desafios para 2026: mercado já saturado, mudanças no consumo, aumento da oferta, concorrência crescente, perda de força da marca Skol e nova rodada de pressão de custos.

Pedro Gomes

Jornalista formado pela UniCarioca, com experiência em esportes, mercado imobiliário e edtechs. Desde 2023, integra a equipe do Melhor Investimento.