A Ambev (ABEV3), uma das maiores cervejarias do Brasil e do mundo, divulgou na quarta-feira, 11 de dezembro, a distribuição de R$ 10,5 bilhões em proventos para seus acionistas, o que inclui R$ 3,85 bilhões em juros sobre capital próprio (JCP) e R$ 6,65 bilhões em dividendos. Este pagamento está alinhado com a política da empresa de retornar uma parte significativa do seu lucro aos investidores. Apesar do volume expressivo, a reação do mercado foi morna, com as ações da Ambev apresentando queda de 3,26%, cotadas a R$ 13,35, às 10h31 da manhã.

Distribuição total de proventos e recompra de ações

O valor de R$ 10,5 bilhões anunciado pela Ambev inclui também dois programas de recompra de ações, totalizando R$ 2,3 bilhões: R$ 2 bilhões do programa lançado em outubro de 2024 e R$ 300 milhões, de um programa similar anunciado em maio do mesmo ano. Com isso, a companhia retorna um montante total de R$ 12,8 bilhões aos seus acionistas. Esse retorno reflete um payout de impressionantes 86%, com base no lucro líquido ajustado de R$ 14,9 bilhões estimado para 2024, de acordo com a análise do Bradesco BBI.

Mudança na periodicidade de distribuição de dividendos

Além do expressivo pagamento, a Ambev também comunicou uma alteração na periodicidade de distribuição de dividendos. A companhia planeja realizar esses pagamentos em períodos mais curtos, possivelmente até trimestrais, em vez de se limitar à distribuição anual, como era a prática anterior. Essa mudança pode aumentar a previsibilidade e atratividade dos proventos, mas também traz incertezas sobre a estratégia futura da empresa em relação à gestão do capital.

A reação do mercado

Embora o valor de R$ 10,5 bilhões seja significativo, a reação do mercado foi abaixo do esperado. De acordo com o Bradesco BBI, o pagamento total de 86% está dentro da média dos últimos 10 anos da Ambev, o que significa que a distribuição não representa uma surpresa ou um estímulo significativo para os investidores. O rendimento gerado pelos proventos, cerca de 6%, também não se destaca em um cenário econômico de incertezas e alta taxa de juros no Brasil, o que pode ter influenciado a queda das ações da companhia.

O banco também observou que a magnitude da distribuição ficou abaixo das expectativas de alguns analistas, já que muitos esperavam uma distribuição extraordinária, algo que não ocorreu. No entanto, a ausência de uma surpresa negativa quanto aos dividendos e JCP não deve afetar drasticamente a confiança dos investidores, embora o cenário permaneça desafiador.

Fatores que impactam a distribuição

O Bradesco BBI aponta vários fatores que podem ter influenciado a decisão da Ambev em manter os pagamentos dentro da média dos últimos anos. O primeiro ponto mencionado é a estratégia da empresa de monetizar créditos fiscais, que tem ajudado a reduzir o impacto da elevada taxa efetiva de imposto de renda sobre seus resultados. Além disso, o custo elevado da dívida no Brasil e as incertezas persistentes quanto às políticas fiscais e de impostos do país também pesam sobre as decisões de distribuição de proventos.

Outro fator relevante é o escudo fiscal relacionado aos JCP, que ainda é uma ferramenta importante para a Ambev, mesmo que sua magnitude seja menor do que no passado. Isso permite que a empresa faça distribuições de caixa mais vantajosas, com uma carga tributária menor. No entanto, o Bradesco BBI acredita que esse escudo fiscal não será suficiente para gerar mudanças substanciais na estrutura de capital da empresa no curto prazo.