A ex-diretora da Americanas (AMER3), Anna Christina Ramos Saicali, que está sendo investigada por suposta participação em fraudes contábeis que totalizam R$ 25,3 bilhões na varejista, deverá se apresentar às autoridades em Portugal no domingo (30) no Aeroporto de Lisboa para retornar ao Brasil.

Dessa maneira, assim que chegar ao país, ela precisará entregar seu passaporte à Polícia Federal. Vale ressaltar que essas informações foram divulgadas em um despacho do juiz Márcio Muniz da Silva Carvalho, da 10ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. O juiz alterou a ordem de prisão preventiva de Saicali para uma medida cautelar depois que a defesa da ex-diretora garantiu que ela voltaria ao Brasil.

Para que esse combinado fosse possível, ou seja, a substituição da prisão preventiva pela proibição de sair do Brasil, o magistrado estipulou duas condições. Uma é que Saicali se entregue às autoridades portuguesas, e a outra é a mesma entregue seu passaporte ao chegar ao Brasil. O despacho foi assinado na noite da última sexta-feira (28).

“O processo exige que Anna Saicali apenas se apresente às autoridades portuguesas no aeroporto de Lisboa, sem ser detida, algemada ou submetida a qualquer constrangimento, sendo apenas acompanhada pela polícia até o embarque de volta ao Brasil, onde será recebida pelas autoridades policiais brasileiras e deverá entregar seu passaporte, conforme solicitado pelo Ministério Público Federal, sujeitando-se à medida cautelar de proibição de deixar o país”, redigiu o juiz.

Por sua vez, a defesa da ex diretora informou à Justiça que Anna tinha um voo marcado para o Brasil no dia 5 de julho. De acordo com Carvalho, a reserva foi feita em 26 de junho, um dia após a decretação da prisão preventiva, sem explicação dos advogados sobre a mudança na data de retorno ao Brasil (inicialmente previsto para o próprio dia 26). Dessa maneira, o juiz acatou uma recomendação consensual da Polícia Federal, que, em sua visão, “atende tanto aos interesses da investigada quanto à administração da Justiça”.

Logo que Anna Saicali se apresentar no aeroporto de Lisboa, a Polícia Federal precisará comunicar à Justiça Federal no Rio de Janeiro. Assim, a Justiça excluirá a ordem de prisão da ex-diretora da Americanas do Banco Nacional de Mandados de Prisão e informará à Interpol sobre a revogação do mandado, uma vez que o nome da empresária foi incluído na lista de difusão vermelha da organização.

Além disso, a defesa de Saicali precisa apresentar ao juiz o comprovante de compra da passagem de retorno ao Brasil, com data para este domingo (30). Só assim será possível que a chefia da Interpol disponibilize uma equipe para aguardar a chegada da investigada no aeroporto, até quatro horas antes do horário de partida.

Miguel Gutierrez já está solto

O ex-CEO da Americanas, Miguel Gutierrez, investigado por suposta participação em fraudes contábeis de R$ 25,3 bilhões, foi solto neste sábado (29) e está em sua residência em Madri, na Espanha. Segundo informações do Estadão, ele entregou seu passaporte às autoridades brasileiras e espanholas.

Gutierrez, alvo principal da Operação Disclosure, foi preso na última sexta-feira (28) pela Interpol após um mandado de prisão preventiva ser expedido e seu nome incluído na lista de difusão vermelha da polícia internacional.

Em nota divulgada hoje, a defesa de Gutierrez afirmou que ele “compareceu espontaneamente ante as autoridades policiais e jurisdicionais para prestar os esclarecimentos solicitados”. Os advogados destacaram que o empresário “está no mesmo endereço comunicado desde 2023 às autoridades, onde sempre esteve à disposição dos diversos órgãos interessados nas investigações em curso”, disseram.

Os investigadores da Operação Disclosure alegam que Gutierrez teve envolvimento direto nas fraudes que prejudicaram as Lojas Americanas, “uma vez que participava do fechamento dos resultados”. Segundo a Polícia Federal, ele tinha a palavra final sobre os números supostamente inflados que eram apresentados ao Conselho de Administração e ao mercado.

A investigação também aponta que Miguel Gutierrez e Anna Christina Saicali teriam vendido mais de R$ 230 milhões em ações da Americanas (R$ 171,7 milhões e R$ 59,6 milhões, respectivamente) em antecipação à possibilidade de as fraudes contábeis bilionárias da empresa se tornarem públicas.

Já os advogados do ex-CEO enfatizaram que ele “jamais participou ou teve conhecimento de qualquer fraude e vem colaborando com as autoridades, prestando os esclarecimentos devidos nos foros próprios”, afirmaram.

“Diante do acesso aos autos, Miguel agora poderá exercer sua defesa frente às alegações originadas por delações mentirosas em relação a ele”, concluíram os defensores do executivo.