O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista ao jornal Estado de S. Paulo, publicada nesta sexta-feira (17), que não pode antecipar novos cortes na taxa de juros, destacando que é prerrogativa da autarquia ajustar sua orientação futura conforme necessário.

Campos Neto enfatizou a necessidade de “tempo, serenidade e calma para avaliar como as variáveis vão se desenrolar” até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em junho. Ele destacou diversos fatores que influenciam as decisões do BC, incluindo a inflação corrente, as expectativas de inflação, o cenário externo e geopolítico, e os impactos da reconstrução do Rio Grande do Sul.

Na semana passada, o BC decidiu reduzir o ritmo de afrouxamento monetário, cortando a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,50% ao ano, após seis reduções consecutivas de 0,50 ponto percentual. Essa decisão marcou uma mudança na orientação futura, que previa um corte de 0,50 ponto percentual neste mês.

O presidente do BC também ressaltou que nunca notificou o governo sobre mudanças de orientação, afirmando que essa é uma prerrogativa do BC autônomo.

“Já teve muitas mudanças de ‘guidance’ — estou aqui há quase seis anos — e em nenhum momento passou pela minha cabeça ligar para o ministro Paulo Guedes para falar que eu achava que o ‘guidance’ ia mudar para A, B ou C”, disse ele. “Nunca fiz isso no governo anterior e com certeza não planejo fazer neste”, acrescenta.

A decisão deste mês do Copom foi dividida, com 5 votos a 4, e os diretores indicados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram vencidos ao votarem pela manutenção do corte mais forte na Selic, de 0,50 ponto. Para Roberto Campos Neto, é importante passar a mensagem de que a reunião da autoridade monetária é técnica e que opiniões divergentes fazem parte do processo.

Campos Neto mencionou que tem reuniões individuais com cada um dos diretores para discussões. “Sinto o clima, mas nem sempre consigo extrair o voto. Desta vez, vários diretores disseram que estavam em dúvida. Mas o grosso do debate é no dia. A pergunta é se o fato em si, de ter a divisão, poderia afetar o mercado de forma diferenciada. Sim, isso foi discutido”, afirmou.

Por fim, ele explicou que o colegiado debateu os possíveis efeitos da divisão e concluiu que era importante que cada diretor seguisse com a sua opinião, e que a divisão poderia ser explicada com o tempo. “A reunião foi baseada em aspectos técnicos”, disse Campos Neto.