Os juros pagos pelas NTN-Bs, que são títulos públicos atrelados ao IPCA, aumentaram nos últimos dias, atingindo um nível típico de momentos de crise fiscal. O rendimento real (acima da inflação) do IPCA+2045 alcançou 5,90% a.a. nesta segunda-feira (25), o maior patamar desde outubro do ano passado.

No entanto, essa alta das taxas não necessariamente indica a iminência de uma crise. Especialistas afirmam que o quadro fiscal ainda é um ponto sensível, mas o cenário geral melhorou ao longo deste ano. 

A elevação das taxas se explica principalmente por fatores técnicos, como a migração dos investidores para debêntures de infraestrutura e o desmonte de posições dos fundos exclusivos, gerando uma onda de venda de NTN-Bs. Logo, com mais oferta na praça, o preço dos papéis diminui – e a taxa que eles pagam aumenta.

No mês de março, ocorreu um volume sem precedentes de ofertas de debêntures de infraestrutura, cerca de R$10 bilhões. Muitos investidores que compraram esses papéis anteriormente possuíam posições em títulos públicos e optaram por migrar para os títulos isentos de imposto de renda.

A restrição que o CMN impôs à emissão de títulos isentos ligados aos setores imobiliário e do agronegócio (CRIs e CRAs) aumentou a demanda pelas debêntures de infraestrutura, o que estimulou as empresas a elevarem a oferta e, consequentemente, trouxe investidores antes alocados em NTN-Bs. Esse impacto é tão relevante que o governo já está estudando uma restrição a debêntures incentivadas do setor de óleo e gás, um dos que mais contribuíram para essa onda de aquecimento.

Em paralelo, os fundos exclusivos, agora sujeitos a tributação, estão desmontando suas posições, incluindo a venda de títulos públicos IPCA+. Isso gera mais pressão sobre as taxas.

A elevação dessas taxas gera uma oportunidade de investimento, porém, castiga as carteiras de quem comprou o papel há mais tempo, por causa da marcação a mercado – no ano, o saldo de quem tem IPCA+2045 teve uma baixa de 4,5%.

Ao mesmo tempo, o fenômeno representa um custo maior de emissão de dívida pelo Tesouro, que se vê obrigado a pagar mais juros. Apesar disso, especialistas acreditam que esse efeito é transitório, uma vez que a onda de vendas tende a se esgotar.