Diretora do Banco Central aborda desafios e perspectivas econômicas durante evento
A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, destacou nesta terça-feira (28) a persistência das expectativas da inflação desancorada no Brasil como uma “questão importante”. Durante um evento promovido pelo Morgan Stanley em São Paulo, ela ressaltou a necessidade de cautela por parte da instituição na condução […]

A diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central, Fernanda Guardado, destacou nesta terça-feira (28) a persistência das expectativas da inflação desancorada no Brasil como uma “questão importante”. Durante um evento promovido pelo Morgan Stanley em São Paulo, ela ressaltou a necessidade de cautela por parte da instituição na condução da política monetária, apontando para diversos motivos que geram incerteza.
Guardado enumerou, entre os fatores que inspiram cautela, a incerteza em relação à inflação de serviços, à inflação de salários e às questões externas. Em sua avaliação, esses elementos adicionam complexidade ao cenário econômico e demandam uma abordagem cuidadosa por parte do Banco Central.
Posicionamento sobre a política monetária e atual ritmo de cortes na Selic
Ao ser questionada sobre o futuro da política monetária, a diretora reafirmou que os dirigentes do Banco Central estão “confortáveis” com o ritmo de cortes de 0,50 ponto percentual da taxa básica Selic. Guardado enfatizou que seriam necessárias surpresas relevantes para justificar revisões no ritmo de cortes, mantendo a estabilidade que vem sendo sinalizada pela autoridade monetária.
O ciclo atual da Selic, iniciado em agosto com um corte de 0,50 ponto percentual, tem sido mantido nas reuniões seguintes. A instituição também expressou a intenção de continuar promovendo cortes de meio ponto percentual nos próximos encontros de política monetária. Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano. Apesar da taxa básica permanecer em patamares elevados, as expectativas de mercado ainda apontam para uma inflação acima das metas estabelecidas para os próximos anos.
Desancoragem das expectativas e meta fiscal
Guardado mencionou que a desancoragem das expectativas de inflação, conforme indicado no relatório Focus, está possivelmente ligada à incerteza sobre o cumprimento da meta fiscal. O governo almeja um resultado primário zero em 2024, mas a diretora ressaltou que a avaliação no mercado financeiro sugere a dependência de um aumento significativo de receitas para atingir esse objetivo. Ela enfatizou a importância do compromisso com a meta fiscal para influenciar positivamente as expectativas de inflação e os preços de ativos.
Renda, PIB e mercado de trabalho
Ao analisar o cenário doméstico, Guardado observou que o comprometimento da renda das famílias no Brasil ainda está elevado, apesar das quedas recentes, e destacou a contribuição “importante” da agricultura para o Produto Interno Bruto no primeiro trimestre. No entanto, ela apontou uma “moderação” no ritmo de crescimento brasileiro, citando a deterioração nos índices de confiança e a desaceleração na geração de empregos.
Cenário global
A diretora ressaltou que o mundo está “caminhando” em seu ciclo de desinflação, com recuos nos núcleos inflacionários e sinais de melhora nos preços de serviços. No entanto, ela alertou para a incerteza causada pelo mercado de trabalho resiliente em diversos países.
Ao abordar a trajetória recente dos juros dos títulos norte-americanos, Guardado destacou um afrouxamento “importante” nas condições financeiras nas últimas semanas. Ela observou que países emergentes, como o Brasil, que adotaram medidas rápidas contra a inflação, estão apresentando um comportamento “bastante benigno” durante a recente movimentação dos mercados.