Ultra assume controle da hidrovias do Brasil e mercado reage com cautela
O Grupo Ultra (UGPA3) anunciou que adquiriu 50,15% da Hidrovias do Brasil (HBSA3), passando a ser a controladora da empresa.
Ultra assume controle da hidrovias do Brasil e mercado reage com cautela
O Grupo Ultra (UGPA3) anunciou nesta quinta-feira (8) que passou a deter 50,15% da Hidrovias do Brasil (HBSA3), tornando-se o acionista controlador da empresa. A mudança no controle marca um novo capítulo para as duas companhias, e levanta questionamentos sobre os próximos passos estratégicos, especialmente quanto à recuperação operacional da Hidrovias. A operação envolve implicações relevantes do ponto de vista financeiro, contábil e gerencial, sendo recebida com reações mistas pelo mercado.
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Ultra assume controle da Hidrovias do Brasil com nova estratégia de integração
A transação, que aumentou a fatia da Ultra de aproximadamente 40% para 50,15% na Hidrovias do Brasil, foi confirmada por meio de fato relevante divulgado pela companhia. Com isso, o Grupo Ultra deixa de ser apenas investidor relevante e passa a consolidar integralmente os resultados da Hidrovias em seus balanços, abandonando o método de equivalência patrimonial.
A mudança contábil representa um passo significativo na estratégia do grupo, que já demonstrava interesse em ampliar sua presença no setor de infraestrutura logística. A integração direta da Hidrovias do Brasil às demonstrações financeiras da Ultra poderá trazer maior sinergia entre as operações, mas também adiciona novas camadas de complexidade e riscos ao portfólio do grupo.
Impactos financeiros e nova estrutura de capital
De acordo com estimativas do banco Goldman Sachs, a consolidação da Hidrovias pode elevar a alavancagem da Ultra para cerca de 1,5 vez até o final de 2025. Essa projeção considera a incorporação da dívida líquida e do EBITDA da nova controlada. Apesar do aumento, o nível de alavancagem continua dentro da meta estipulada pela empresa, que vai de 1,5 a 2,0 vezes.
É importante lembrar que a Ultra, holding que controla empresas como Ipiranga e Ultracargo, é historicamente vista como uma companhia com baixo grau de alavancagem em comparação a seus pares do setor. Essa característica é valorizada, sobretudo em ambientes de juros elevados, como o atual. No entanto, a incorporação da Hidrovias do Brasil exige atenção especial ao desempenho da nova controlada.
Mudanças na gestão e expectativa de execução
Como parte do processo de integração, o Grupo Ultra promoveu alterações importantes na liderança executiva das empresas envolvidas. Décio Amaral, atual CEO da Ultracargo, assumirá o comando da Hidrovias do Brasil. Em seu lugar, a Ultracargo será liderada por Fulvius Tomelin, que já esteve à frente da Ale Combustíveis.
As mudanças sinalizam um reposicionamento estratégico na gestão das operações logísticas do grupo, com foco na busca por eficiência e melhores margens operacionais. A escolha de executivos com experiência no setor reforça a intenção da Ultra de acelerar a recuperação da Hidrovias, que vem enfrentando desafios nos últimos trimestres.
Reações do mercado e avaliação de analistas
A movimentação foi recebida de forma mista pelos investidores. Por volta das 10h14 do dia do anúncio, as ações da Ultra (UGPA3) recuavam 2,38%, cotadas a R$ 16,42. Por outro lado, os papéis da Hidrovias do Brasil (HBSA3) registravam alta de 4,56%, sendo negociados a R$ 2,98. A valorização reflete a percepção de que a entrada efetiva da Ultra pode acelerar a reestruturação da companhia.
O banco Goldman Sachs manteve a recomendação de compra para UGPA3, com preço-alvo de R$ 22,50. Segundo os analistas, a Ultra continua sendo negociada a múltiplos considerados atrativos — com um preço/lucro estimado de 8,9 vezes para 2025 e 7,2 vezes para 2026. No entanto, o sucesso da tese de investimento depende da clareza quanto às perspectivas da Hidrovias e da capacidade de recuperação das margens no segmento de distribuição de combustíveis.
Já o Bradesco BBI comentou que, embora a aquisição do controle não tenha sido uma surpresa para o mercado, ainda não houve total assimilação do movimento pelos investidores. A instituição vê sentido estratégico na operação, especialmente considerando a relevância do Brasil no agronegócio e a importância da logística hidroviária para escoamento de commodities. Porém, destacou que a execução será determinante para o sucesso da integração.