Durante depoimento no Supremo Tribunal Federal (STF), nesta segunda-feira (19), o ministro Alexandre de Moraes confrontou o general da reserva Marco Antônio Freire Gomes sobre supostas omissões em seu testemunho relacionado à trama golpista que, segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), visava impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O militar foi convocado como testemunha no processo que investiga o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros integrantes do chamado núcleo duro da tentativa de ruptura institucional.

A audiência faz parte do inquérito que apura o envolvimento de autoridades civis e militares na elaboração de estratégias ilegais para manter Bolsonaro no poder, mesmo após a derrota nas eleições de 2022. O caso ganhou notoriedade pela gravidade das acusações e pelo possível envolvimento de altos comandos das Forças Armadas.

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Trama golpista: Moraes questiona veracidade de depoimento sobre apoio da Marinha

O ponto mais tenso da audiência ocorreu quando Alexandre de Moraes questionou Freire Gomes sobre uma declaração dada anteriormente à Polícia Federal, na qual o general teria afirmado que o então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, manifestou apoio direto ao ex-presidente durante uma reunião estratégica. No STF, no entanto, o general evitou repetir esse trecho do depoimento.

“O senhor falseou a verdade na polícia ou está falseando aqui?”, indagou Moraes, visivelmente irritado com a aparente contradição. O general respondeu de forma enfática: “Em 50 anos de Exército, jamais mentiria”.

Ele acrescentou que Garnier teria dito apenas que “estava com o presidente”, mas se recusou a interpretar o significado dessa afirmação, alegando que não poderia especular sobre a intenção por trás das palavras do almirante. Essa declaração é relevante no contexto da trama golpista, pois indica uma possível articulação institucional para sustentar medidas antidemocráticas.

General nega ter dado voz de prisão a Bolsonaro

Outro ponto sensível abordado foi a suposta tentativa de dissuadir o então presidente Jair Bolsonaro durante uma reunião em que foram apresentados estudos jurídicos com propostas para instaurar um Estado de Sítio e acionar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO) — mecanismos legais que poderiam ser usados de forma indevida para impedir a posse do presidente eleito.

Questionado sobre esse episódio, Freire Gomes negou categoricamente que tenha dado voz de prisão a Bolsonaro: “Não aconteceu isso, de forma alguma. Eu alertei ao presidente que, se ele saísse dos aspectos jurídicos, além de não concordarmos com isso, ele seria implicado juridicamente”, afirmou.

A afirmação reforça a linha de defesa de que, embora tenham sido apresentados cenários de ruptura institucional, os principais comandantes não teriam concordado com a execução do plano. Ainda assim, a simples apresentação de tais ideias e a presença de autoridades militares nas discussões estão sendo tratadas como elementos centrais da investigação sobre a trama golpista.

Clima tenso marca audiência no STF com críticas à defesa de Torres

Além do embate entre Moraes e Freire Gomes, a audiência foi marcada por outro momento de tensão, desta vez envolvendo o advogado Eumar Novak, defensor do ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Moraes se irritou com a insistência do advogado em repetir diversas vezes a mesma pergunta relacionada à participação de Torres nas reuniões militares.

“Não estamos aqui para fazer circo. Não vou permitir que Vossa Excelência faça circo no meu tribunal. Não adianta ficar repetindo seis vezes a mesma pergunta”, afirmou Moraes, interrompendo a fala do defensor.

Esse episódio evidenciou o clima de pressão e a tentativa da defesa de descredibilizar os relatos que possam implicar diretamente seus clientes. Anderson Torres, inclusive, é apontado como um dos articuladores da minuta golpista apreendida em sua residência durante operação da PF.

Investigação sobre trama golpista expõe bastidores de reunião no Planalto

A audiência desta segunda-feira revelou novos detalhes sobre os bastidores da reunião no Palácio do Planalto em que foram discutidas propostas para a manutenção de Bolsonaro no poder. Segundo relatos já anexados ao inquérito, participaram do encontro integrantes do alto escalão do governo, além de representantes das Forças Armadas.

A linha de investigação da PGR busca comprovar que houve não apenas conhecimento, mas também envolvimento ativo de autoridades civis e militares na trama golpista, o que pode configurar crime contra o Estado democrático de Direito.