O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez sua primeira declaração pública sobre o plano de assassinato revelado pela Polícia Federal (PF), que visava não só a sua vida, mas também a de seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). A fala, que ocorreu durante a oficialização do Programa de Otimização de Contratos de Concessão Rodoviária, destacou a gravidade da situação, mas também foi acompanhada de um tom descontraído. “Tenho que agradecer porque estou vivo”, afirmou Lula, refletindo sobre o plano de assassinato frustrado que quase impediu o início de seu terceiro mandato. Neste contexto, o presidente também defendeu a civilidade política e reforçou seu compromisso com a normalização democrática do Brasil.

A revelação da tentativa de assassinato: o que ocorreu e como foi descoberto?

A operação da Polícia Federal, que revelou detalhes do plano de assassinato contra o presidente Lula, começou a ganhar destaque em 2023, quando a PF deu início a investigações sobre um grupo criminoso que articulava uma série de ações violentas para interromper o processo democrático no Brasil. Segundo as investigações, o plano visava não apenas o assassinato de Lula, mas também o de seu vice-presidente e do ministro do STF, Alexandre de Moraes, ambos alvos de um possível atentado, com a intenção de impedir a posse do novo governo.

A PF identificou que o grupo criminoso estava estruturado para realizar ataques contra líderes políticos, instituições e até contra o processo eleitoral, buscando uma abolição violenta do Estado Democrático de Direito. O caso veio à tona depois que a Polícia Federal iniciou a Operação Contragolpe, que revelou que as articulações para concretizar o golpe ocorreram em várias frentes, incluindo ameaças de morte e planos de desestabilização do governo.

O plano de assassinato: detalhes e a ação das Forças Especiais

Os detalhes da investigação indicam que o grupo de militares com formação em Forças Especiais do Exército, conhecidos como “kids pretos”, estava por trás das ações ilícitas para monitorar e, eventualmente, executar as prisões e assassinatos planejados. De acordo com os investigadores, as ações começaram a ser orquestradas após uma reunião realizada em 12 de novembro de 2022, na casa do ex-ministro da Defesa e da Casa Civil, Walter Braga Netto, e envolveram a tentativa de prender ou assassinar figuras chave, como o presidente Lula e o ministro Alexandre de Moraes.

As movimentações para consumar o golpe se intensificaram entre novembro e dezembro de 2022, quando foi batizada pelos envolvidos de “Copa 2022”. O plano era criar um ambiente de caos e desestabilização, onde a posse de Lula seria impedida, e outras lideranças políticas ou jurídicas também seriam alvos. Essa tentativa de golpe culminaria em um atentado contra a democracia, e o Brasil poderia ter enfrentado uma crise política sem precedentes.

Lula fala sobre a tentativa de assassinato e defende a civilidade política

Em um evento realizado no final de 2023, Lula comentou pela primeira vez a tentativa de assassinato e a sequência de eventos que quase impediam sua posse. Durante o lançamento do Programa de Otimização de Contratos de Concessão Rodoviária, o presidente expressou alívio e gratidão por ter sobrevivido ao atentado. “Eu sou um cara que tenho que agradecer agora, muito mais, porque eu estou vivo. A tentativa de envenenar eu e Alckmin não deu certo e nós estamos aqui”, declarou, provocando risos da plateia.

Lula também aproveitou a ocasião para reforçar a importância de uma política mais civilizada. Embora não tenha citado diretamente o nome do ex-presidente Jair Bolsonaro, investigado pela Polícia Federal pelo suposto envolvimento na tentativa de golpe, Lula enfatizou que seu objetivo é trazer o Brasil de volta à normalidade e à civilidade democrática. “Quando nós disputamos as eleições, eu dizia que um dos meus desejos era trazer o Brasil à normalidade, à civilidade democrática, em que a gente faz as coisas da forma mais tranquila possível”, destacou o presidente.

Ele também afirmou que, ao final de seu mandato, seu objetivo será desmoralizar aqueles que governaram antes dele, sem recorrer a perseguições ou confrontos. “Eu não quero envenenar ninguém. Não quero nem perseguir ninguém. Só quero que, quando terminar o meu mandato, a gente desmoralize aqueles que governaram antes de nós”, concluiu Lula.

A Operação Contragolpe: desdobramentos e implicações

As apurações da PF, conduzidas pela Operação Contragolpe, revelam um esquema de ações criminosas em várias frentes. O foco da operação inclui não apenas o plano de assassinato, mas também ataques virtuais a opositores e instituições, tentativas de golpe de Estado, e o uso ilegal de recursos públicos para fins pessoais. As investigações apontaram que houve envolvimento de militares de alta patente em uma série de ações para tentar desestabilizar o governo, como o uso de cartões corporativos para financiar despesas pessoais e o desvio de bens entregues por autoridades estrangeiras.

Além disso, o caso envolvendo o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid, foi crucial para desmantelar parte dessa rede criminosa. As informações obtidas a partir de seu celular e as trocas de mensagens com Marcelo Câmara, ex-assessor de Bolsonaro, revelaram tentativas de manipular dados de vacinas contra a Covid-19 e outros desmandos administrativos que reforçam a gravidade da situação.