A economia da União Europeia pode sofrer um novo baque em meio às tensões comerciais globais. Segundo relatório do ING divulgado neste domingo (13), a tarifa de 30% anunciada pelos Estados Unidos sobre produtos importados do bloco pode causar uma retração de até 0,4 ponto percentual (p.p.) no Produto Interno Bruto (PIB) da UE, aproximando a região de uma nova recessão técnica. A medida, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, ainda está em negociação, mas já gera incertezas entre economistas, governos e empresas.

O estudo, assinado por Carsten Brzeski, chefe global de macroeconomia do ING, e pela economista sênior Inga Fechner, alerta para os potenciais desdobramentos da medida caso ela seja implementada de forma integral. Embora não seja o cenário-base traçado pela instituição, o risco é considerado relevante diante da instabilidade da política comercial dos EUA.

Impacto potencial no crescimento europeu

A imposição da tarifa de 30% dos EUA sobre produtos da União Europeia representa um risco significativo para o desempenho econômico do bloco. Segundo os economistas do ING, a aplicação total da taxa poderia derrubar o crescimento do PIB europeu em 0,4 ponto percentual. Em um contexto já fragilizado por desaceleração industrial, inflação persistente e juros elevados, esse impacto adicional poderia ser suficiente para levar a UE à beira de uma recessão.

A União Europeia, que busca atualmente estimular sua economia por meio de políticas fiscais e de acordos comerciais estratégicos, vê nessa ameaça mais um obstáculo ao processo de recuperação. Como apontam os analistas, o comércio entre os dois blocos é um dos mais importantes do mundo, e medidas protecionistas como essa tendem a prejudicar ambas as partes.

Expectativa de negociação e possível tarifa média de 20%

Apesar do alerta, o ING destaca que a sobretaxa de 30% ainda não está confirmada e que negociações seguem em andamento. A expectativa da instituição é que um acordo seja firmado antes do prazo final, em 1º de agosto, com a imposição de uma tarifa média de 20%, composta por uma taxa universal de 10% e tarifas adicionais entre 20% e 25% para setores específicos.

Os economistas, no entanto, deixam claro que não há garantias sobre o resultado final. A incerteza permanece elevada, principalmente diante da postura imprevisível da administração de Donald Trump, que conduz a política comercial americana com base em interesses estratégicos e, por vezes, eleitorais.

Acordo não encerra riscos: “saga tarifária” pode continuar

Mesmo com um possível acordo entre EUA e União Europeia nas próximas semanas, o ING alerta que isso não significará o fim das disputas comerciais. Segundo o relatório, acordos desse tipo geralmente exigem negociações longas e detalhadas, muitas vezes envolvendo centenas de páginas e meses de trabalho técnico. Por isso, qualquer pacto firmado em curto prazo não viria com garantia de estabilidade.

Essa perspectiva reforça a tese de que o cenário global de comércio continuará marcado por incertezas e volatilidade. O uso recorrente de tarifas e barreiras como ferramenta de pressão política torna difícil prever um ambiente de confiança e crescimento sustentado entre grandes economias.

Decisões dependem do cenário político nos EUA

Um dos fatores mais destacados pelo ING é a imprevisibilidade do governo dos Estados Unidos. Segundo a instituição, os próximos desdobramentos das relações comerciais com a Europa dependem diretamente dos “caprichos” da Casa Branca. Em meio a um ano eleitoral nos EUA, analistas avaliam que decisões comerciais podem ser guiadas por interesses políticos de curto prazo, o que adiciona um grau elevado de incerteza para parceiros comerciais, como o bloco europeu.

Próximas semanas serão decisivas para UE e México

Além da União Europeia, o México também está na mira da nova rodada tarifária dos EUA. No entanto, segundo os analistas do ING, um acordo com o país latino-americano pode estar próximo. Já a União Europeia, que optou por postergar uma retaliação direta às tarifas anunciadas, mantém a cautela. As próximas três semanas serão cruciais para definir os rumos das negociações.

Independentemente do resultado imediato, o ING reforça que mesmo um eventual acordo com os EUA não garante previsibilidade a longo prazo. A necessidade de diversificar parceiros comerciais e fortalecer o comércio intra-bloco surge como uma estratégia prioritária para reduzir a exposição europeia a decisões unilaterais da Casa Branca.