Setores brasileiros apostam em reversão da alíquota de 50%
Mesmo sem decisões concretas, o ambiente diplomático mais técnico e cooperativo reacende a expectativa de revisão das tarifas, que impactaram fortemente as exportações brasileiras.
Foto: Ricardo Stuckert/PR
Setores brasileiros afetados pelas tarifas impostas pelos Estados Unidos durante o governo Donald Trump demonstram otimismo com uma possível reversão da alíquota de 50% aplicada aos produtos nacionais.
A reaproximação diplomática entre os dois países, com foco em negociações de caráter técnico e não político, reacendeu a expectativa de uma revisão das medidas que têm impactado exportadores de café, carne bovina e bens industriais.
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Contexto da taxação e expectativa de revisão
As tarifas norte-americanas foram aplicadas em duas etapas: inicialmente, uma taxa de 10% sobre todos os produtos brasileiros, seguida por um acréscimo de 40%, totalizando a alíquota final de 50%. A decisão, tomada durante o governo Trump, teve justificativas de proteção da indústria local, mas gerou críticas entre parceiros comerciais.
Embora o governo dos Estados Unidos ainda não tenha sinalizado formalmente uma revisão, representantes de associações exportadoras avaliam que o retorno das conversas bilaterais pode abrir caminho para uma reavaliação técnica. A leitura é de que a atual gestão norte-americana busca reconstruir pontes com países estratégicos na América Latina, entre eles o Brasil.
Essa reaproximação foi reforçada em encontros recentes entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que indicaram disposição para restaurar um canal de diálogo comercial sem viés ideológico. Para o setor privado brasileiro, esse é um passo essencial para a retomada do equilíbrio nas trocas comerciais entre as duas nações.
Impacto no café brasileiro e defesa da Abic
O café brasileiro é um dos produtos mais prejudicados pela taxação de 50%.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) tem defendido a reversão da alíquota de 50% sobre o grão, destacando o impacto direto sobre o fluxo de exportações. O Brasil é responsável por cerca de 30% do café importado pelos Estados Unidos, o que reforça a importância do produto para a cadeia de abastecimento americana.
“As relações comerciais entre Brasil e Estados Unidos sempre foram sólidas e pautadas na confiança. Acreditamos que um diálogo técnico e transparente permitirá uma reavaliação equilibrada das tarifas impostas ao café”, afirmou Pavel Cardoso, presidente da Abic.
De acordo com dados do Conselho Nacional dos Exportadores de Café (Cecafé), as exportações brasileiras para os EUA caíram 53% em setembro de 2025, em comparação com o mesmo período do ano anterior, totalizando 333 mil sacas.
O órgão aponta que a tarifa de 50% imposta sobre o produto foi determinante para a retração, contrariando expectativas de isenção dadas a relevância do café no mercado americano.
Mesmo com a queda, os Estados Unidos seguem como o principal destino do café brasileiro, com 4,36 milhões de sacas exportadas entre janeiro e setembro, o equivalente a 15% dos embarques totais do Brasil.
Segundo a Abic, a competitividade e a qualidade do produto garantem a manutenção do interesse norte-americano, mesmo em cenário de restrição tarifária.
Carne bovina mantém alta e Abiec prevê avanços com novo diálogo
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) também avalia de forma positiva a retomada das negociações comerciais.
A entidade acredita que o entendimento entre os governos poderá preservar a competitividade da carne bovina brasileira, garantir previsibilidade aos exportadores e ampliar a presença do produto no mercado americano — o segundo maior comprador do Brasil.
Em setembro de 2025, o país registrou recorde nas exportações de carne bovina, com 352 mil toneladas embarcadas, um avanço expressivo em relação às 268 mil toneladas de setembro de 2024, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) compilados pela Abiec.
Mesmo com uma leve retração nas vendas aos Estados Unidos nos últimos meses, o acumulado do ano mostra crescimento de 64,6% em volume e 53,8% em valores, em comparação com o ano anterior.
O desempenho reflete a diversificação de mercados, com destaque para México e China, que ajudaram a sustentar o crescimento das exportações, enquanto os embarques aos EUA seguem estratégicos para o setor.
Indústria têxtil adota cautela, mas vê ambiente favorável
Entre os setores industriais, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) avalia que uma solução imediata é improvável, mas reconhece avanços diplomáticos importantes.
Segundo Fernando Valente Pimentel, diretor-superintendente da entidade, o simples fato de os dois governos voltarem a conversar em tom técnico já representa progresso.
“Não acredito que os Estados Unidos retirem a tarifa adicional de 40% de imediato, mas o novo diálogo certamente criará um ambiente mais estável e previsível para o comércio bilateral”, declarou Pimentel.
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