A crescente popularização dos medicamentos à base de GLP-1, como Ozempic e Wegovy, promete transformar diversos setores da economia brasileira. O aumento do número de usuários desses medicamentos pode gerar mudanças significativas no varejo alimentar, farmacêutico e de vestuário, com potenciais efeitos econômicos tanto no curto quanto no longo prazo. A Genial Investimentos aponta que, com a queda de preços e o aumento da oferta, a expansão desses tratamentos pode desencadear uma série de modificações no mercado financeiro brasileiro.

Leia também: CDB 2025: Melhores Opções de Investimento em Renda Fixa

Medicamentos GLP-1 e o impacto nos setores da Bolsa brasileira

Os medicamentos GLP-1, como Ozempic e Wegovy, têm se tornado uma escolha cada vez mais popular para o emagrecimento e controle de doenças como o diabetes tipo 2. Com a perspectiva de maior disponibilidade e redução dos preços após a quebra de patentes, especialmente em 2026, esses tratamentos estão se tornando mais acessíveis para uma maior parte da população. Mas quais serão os impactos disso no mercado?

De acordo com a Genial Investimentos, a popularização desses medicamentos pode afetar principalmente três setores da Bolsa brasileira: o varejo alimentar, o varejo farmacêutico e o varejo de vestuário.

Varejo alimentar

A indústria de alimentos pode experimentar mudanças significativas nos padrões de consumo devido ao aumento do uso de medicamentos como Ozempic e Wegovy. Para quem está em tratamento, um dos efeitos colaterais mais notáveis é a perda de apetite, o que pode gerar uma redução no consumo de alimentos menos saudáveis, como doces, snacks e refrigerantes. Por outro lado, a demanda pode se redirecionar para alimentos mais saudáveis, como frutas, vegetais e proteínas.

Embora a redução nas vendas de produtos não essenciais seja possível, a Genial Investimentos sugere que a queda em certos produtos será parcialmente compensada por um aumento na procura por outros itens mais saudáveis. Portanto, o impacto no varejo alimentar pode ser relativamente neutro, com a maior pressão recai sobre as indústrias de alimentos processados, que enfrentam um risco mais significativo.

Varejo farmacêutico

O setor farmacêutico brasileiro, por sua vez, deve se beneficiar diretamente do aumento da demanda por medicamentos GLP-1. Com a entrada de genéricos a partir de 2026, quando a patente do Ozempic se quebra, espera-se que a competição se intensifique, fazendo os preços caírem e tornando esses tratamentos acessíveis a uma gama maior de pacientes. Essa expansão de mercado tem dois efeitos principais:

  • Aumento do volume de vendas: Com preços mais acessíveis, mais pessoas terão acesso aos medicamentos, o que deve aumentar significativamente as vendas.
  • Melhora nas margens de lucro: Os medicamentos genéricos costumam gerar margens mais altas do que as versões de marca, o que pode resultar em um crescimento do lucro para as empresas farmacêuticas.

Esse cenário positivo é amplamente apoiado pela expectativa de que a demanda reprimida por Ozempic, devido a limitações de oferta, se transforme em um forte motor de crescimento no momento em que o produto e suas alternativas se tornarem mais disponíveis.

Varejo de vestuário

O setor de vestuário, embora não impactado diretamente de forma imediata, pode sentir os efeitos do aumento do uso de medicamentos GLP-1 mais tarde, à medida que os consumidores começam a perder peso. Inicialmente, parte do orçamento das pessoas que seria destinada à moda pode ser redirecionada para o custo do tratamento com Ozempic ou Wegovy. No entanto, conforme o emagrecimento se concretiza, surge uma nova demanda: a necessidade de “repor o guarda-roupa”.

Consumidores que perderem peso podem precisar de roupas de tamanhos menores, além de estarem mais inclinados a renovar seu estilo pessoal. Esse processo pode gerar uma nova onda de consumo no setor de vestuário, conforme a transformação física de quem está em tratamento. A longo prazo, portanto, a indústria de moda pode ser beneficiada por essa nova demanda por roupas ajustadas e adaptadas ao novo corpo dos consumidores.

O que são os medicamentos GLP-1?

Ozempic e Wegovy são medicamentos fabricados pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk, ambos à base da semaglutida, um tipo de GLP-1. O Ozempic é utilizado principalmente no tratamento do diabetes tipo 2, ajudando a controlar a glicemia, com a perda de peso sendo um efeito secundário. Já o Wegovy foi desenvolvido com o objetivo principal de promover a perda de peso em pessoas com obesidade ou comorbidades associadas à condição.

Por outro lado, o Mounjaro, produzido pela Eli Lilly, utiliza a tirzepatida, que age sobre os receptores GLP-1 e GIP, e se mostrou eficaz tanto no controle glicêmico quanto na redução do peso. Com esses tratamentos, muitos pacientes têm encontrado uma alternativa eficaz para emagrecer, o que impulsiona cada vez mais a demanda por esses produtos.

O cenário do mercado brasileiro de medicamentos GLP-1

O mercado brasileiro de medicamentos GLP-1, especialmente Ozempic e Wegovy, ainda é restrito, principalmente devido aos altos preços desses medicamentos. Além disso, como não estão disponíveis pelo SUS, muitos pacientes recorrem a planos de saúde ou pagam integralmente os custos. No entanto, com a popularização e a redução de custos prevista, a expectativa é de que o acesso a esses medicamentos se torne mais amplo.

Os planos de saúde, por sua vez, têm resistido em cobrir o tratamento, o que muitas vezes leva os pacientes a recorrerem à justiça para obter a cobertura. As operadoras de saúde, no entanto, priorizam medicamentos mais baratos, o que coloca os medicamentos GLP-1 em uma posição de negociação difícil.

Julia Peres

Redatora do Melhor Investimento.