O economista-chefe do Itaú Unibanco, Mario Mesquita, sugere que a nomeação de um presidente do Banco Central (BC) comprometido com o regime de metas de inflação poderia contribuir para a gestão das expectativas, que consistentemente têm se mantido acima da meta estabelecida pela autoridade monetária. Isso, por sua vez, poderia abrir espaço para uma redução na taxa básica de juros, a Selic.

“Acredito que o governo optará por alguém comprometido com o regime de metas, essa é a minha conjectura”, afirma Mesquita. “Se um nome com essa credibilidade fosse anunciado, ajudaria, pelo menos, a conter as expectativas”, acrescenta o economista, que também foi diretor do BC.

Apesar do governo já ter indicado quatro diretores sem gerar grande repercussão no mercado, Mesquita destaca a importância do presidente da instituição, que exerce uma influência considerável, mesmo em países onde há mais tempo existe autonomia do Banco Central.

“O presidente Campos Neto tem muita credibilidade, mas seu mandato está se aproximando do fim”, observa Mesquita. Ele ressalta que ao projetar a inflação para prazos mais longos, é necessário considerar que a direção do BC será alterada.

O mandato de Roberto Campos Neto termina no final do ano, e o governo tem até lá para definir um sucessor. No entanto, Mesquita acredita que antecipar o nome do próximo presidente poderia ser positivo em termos de expectativas. “Medidas que reduzam as incertezas seriam benéficas”, afirma o economista, sugerindo que faria sentido antecipar o anúncio “mais para o meio do ano do que para o final”.

Posicionamento do Copom está mais cauteloso

Na última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada em março, o Banco Central cortou a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, para 10,75%. Entretanto, alterou sua sinalização futura, indicando apenas mais um corte da mesma magnitude na próxima reunião, anteriormente prevista para cortes em ritmo constante por pelo menos duas reuniões à frente.

O Banco Central comentou que as expectativas de inflação permanecem acima da meta, porém, os analistas do mercado aguardarão a ata da reunião, prevista para esta terça-feira (26), em busca de mais esclarecimentos sobre a postura mais cautelosa adotada. 

Segundo Mesquita, as incertezas em relação ao governo atingir a meta fiscal de déficit zero não devem ter sido o fator preponderante nessa decisão. “Não acredito que tenha sido essa a razão principal”, disse. Para ele, “a incerteza fiscal está presente há muito tempo”.

O economista ainda destaca alguns dos principais fatores que afastam a inflação das metas estabelecidas, mencionando que a trajetória atual da inflação, que apresenta elementos de inércia, e a pressão sobre os preços de serviços, considerada uma “luz amarela”.

Além disso, Mesquita comenta o crescimento econômico, que tem superado as estimativas em alguns indicadores, gerando dúvidas sobre o espaço disponível em termos de capacidade produtiva, além do mercado de trabalho aquecido.

Cenário de incertezas

No cenário internacional, as incertezas estão relacionadas a fatores geopolíticos e à política monetária dos principais bancos centrais do mundo, que enfrentam riscos semelhantes aos do Brasi, como a alta dos preços de serviços após a pandemia — podendo influenciar a taxa de câmbio e as expectativas inflacionárias.

Mesquita finaliza afirmando que “incertezas não faltam. Vários fatores podem ter influenciado na decisão do Copom de reduzir a orientação futura”.