O Itaú divulgou recentemente sua projeção para o ciclo de juros no Brasil e prevê que o Banco Central deve iniciar o corte da Selic somente no primeiro trimestre de 2026. A expectativa do banco é que a taxa básica de juros encerre o ano em 12,75% ao ano, refletindo um cenário econômico que ainda exige uma política monetária mais rígida por um período prolongado.

Projeção do Itaú para o corte da Selic e o contexto atual

Segundo o economista-chefe do Itaú, Mario Mesquita, e sua equipe, o aumento recente da Selic para 15% ao ano, mesmo que modesto — 0,25 ponto percentual —, provavelmente marcou o fim do atual ciclo de aperto monetário. O banco ressalta que, apesar das projeções de inflação ainda ficarem acima da meta estipulada pelo Banco Central, a tendência é de que a taxa de juros permaneça elevada em função das incertezas globais e dos efeitos defasados das políticas já implementadas.

O Comitê de Política Monetária (Copom) também tem adotado uma postura cautelosa, sinalizando que, caso os cenários evoluam conforme o esperado, a taxa Selic deve ser mantida no seu nível atual. Essa posição é reforçada pelo Relatório de Política Monetária divulgado em junho, que projeta uma inflação acima da meta até o final de 2027.

Dois gatilhos podem antecipar o início do corte da Selic

Embora a expectativa seja de um corte da Selic apenas em 2026, o Itaú identifica dois fatores que podem antecipar essa flexibilização monetária já para o ano que vem. O primeiro deles seria uma valorização expressiva do real em relação ao dólar, o que poderia aliviar pressões inflacionárias. O segundo gatilho seria uma desaceleração econômica mais rápida do que o previsto, potencialmente causada pelo menor impacto do novo programa de crédito consignado privado.

Esses fatores, se concretizados, poderiam levar o Banco Central a revisar o início do ciclo de cortes e, assim, começar a reduzir os juros ainda em 2025, acelerando a retomada do crescimento econômico.

Revisões nas projeções de inflação, PIB e câmbio

O Itaú também ajustou suas projeções para os principais indicadores econômicos do país. Para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a previsão para 2025 caiu de 5,3% para 5,2%. Essa redução está relacionada principalmente à queda dos preços dos alimentos e à diminuição do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) incidente sobre automóveis. Contudo, o banco destaca que esses efeitos são parcialmente compensados por aumentos previstos nos custos de energia elétrica e loterias.

Para 2026, a projeção de inflação permanece em 4,4%, mas o Itaú mantém um viés altista, com a pressão do mercado de trabalho sendo apontada como um dos principais vetores de alta para o IPCA.

Já o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) está estimado em 2,2% para 2025 e 1,5% para 2026. Para 2025, o balanço de riscos para a atividade econômica foi revisado de neutro para baixista, devido ao desempenho mais fraco observado no segundo trimestre e aos impactos das tarifas comerciais impostas pelos Estados Unidos. Para o ano seguinte, o banco mantém um viés positivo nas projeções.

Em relação à taxa de câmbio, o Itaú manteve sua estimativa em R$ 5,65 para 2025 e 2026, mesmo diante do enfraquecimento global do dólar. A valorização do real tem sido favorecida pela combinação de uma política fiscal expansionista no Brasil e uma postura protecionista dos Estados Unidos, que reduz a diferença de crescimento entre a maior economia do mundo e os países emergentes.

Impactos das tensões comerciais e cenário externo no câmbio

O cenário internacional também influencia o comportamento da taxa de câmbio e, consequentemente, as perspectivas para a política monetária brasileira. A recente decisão dos Estados Unidos de aplicar tarifas de 50% sobre exportações brasileiras tem criado incertezas sobre o desempenho do setor exportador do país. Essa medida limitou a tendência de apreciação do real, impondo uma pressão de alta no câmbio.

Além disso, a redução das tensões geopolíticas globais contribuiu para a valorização dos ativos brasileiros e favoreceu moedas de países emergentes, como o real. No entanto, as incertezas comerciais podem frear essa melhora e influenciar a dinâmica econômica brasileira.