Sem cortes? Copom mantém Selic em nível elevado
O Copom mantém a taxa Selic em nível elevado e mostra resistência a iniciar cortes em 2025.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) demonstra resistência em iniciar um novo ciclo de cortes da Selic em breve. A ata da última reunião, divulgada nesta terça-feira (24), reafirma que a taxa básica de juros deve permanecer em patamar elevado e contracionista por um período prolongado, enquanto os efeitos do aperto monetário ainda não foram totalmente sentidos pela economia.
Por que o Copom resiste a cortes da Selic agora?
Segundo o economista Marco Antonio Caruso, do Santander, o Copom tem a percepção de que houve um “frontloading” no ciclo de alta dos juros — ou seja, um aperto monetário concentrado e intenso no começo do ciclo. Essa estratégia implica uma pausa para avaliar os efeitos retardados da elevação da Selic sobre a inflação e a atividade econômica.
A ata da reunião deixa claro que, apesar da rapidez e firmeza com que a Selic foi elevada até os atuais 15% ao ano, os impactos completos dessas medidas ainda não foram sentidos pelo mercado e pela economia real. Por isso, o Comitê opta por uma postura de paciência e cautela, sem acelerar um ciclo de cortes.
O tom da ata e o cenário para os juros
A orientação oficial do Banco Central permanece neutra em relação a mudanças iminentes, mas o documento traz um tom mais moderado, sugerindo que o Copom está aberto a considerar futuras decisões com cuidado, monitorando os resultados do aperto recente.
Já a economista-chefe do banco Inter, Rafaela Vitoria, destaca que o tom “mais duro” do Comitê enfatiza a necessidade de manter a taxa de juros em patamar restritivo para ancorar as expectativas de inflação. Segundo ela, a desancoragem das expectativas inflacionárias e os riscos fiscais — como o impacto no orçamento público e no crédito — são os principais fatores que fazem o Copom resistir a qualquer movimento precipitado para reduzir a Selic.
Projeções para a inflação, crédito e atividade econômica
Rafaela Vitoria também projeta que a desaceleração do crédito e da atividade econômica deve se intensificar no segundo semestre de 2025. Um câmbio favorável deve ajudar a manter a inflação dos preços industriais e de alimentos sob controle.
A expectativa do banco Inter é que a inflação atinja o pico de 5,5% em 2025, já sinalizando uma desaceleração para menos de 5% ainda este ano. Esses dados são fundamentais para que o Copom avalie o momento adequado para considerar cortes da Selic, evitando mexer prematuramente no ciclo de alta.
Quando podem começar os cortes da Selic?
De acordo com o cenário traçado pelo Inter, as discussões sobre a redução da restrição monetária, ou seja, cortes da Selic, podem começar apenas no final de 2025. No entanto, essa previsão depende fortemente do controle fiscal que o governo demonstrar ao elaborar o orçamento de 2026.
Riscos fiscais podem adiar cortes da Selic
Um dos maiores desafios para o início do ciclo de cortes é a possibilidade de um orçamento fiscal mais frouxo. Caso o governo aumente isenções no Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) sem compensação e mantenha o ritmo de crescimento dos gastos públicos, a inflação pode se mostrar persistente.
Nesse cenário, a Selic poderia permanecer em níveis elevados, na casa dos 15%, por um período mais longo, para conter pressões inflacionárias e manter a credibilidade da política monetária.