Dívida pública brasileira impõe maior pressão sobre política monetária e juros
A dívida pública brasileira em ascensão impõe desafios significativos à política monetária, exigindo uma taxa de juros mais elevada do que há uma década.

A crescente dívida pública brasileira tem gerado desafios significativos para a economia, impactando diretamente a eficácia da política monetária. Este cenário exige uma taxa de juros mais alta do que há uma década, quando o Brasil enfrentava uma taxa Selic de 14,25% por mais de um ano. A deterioração do perfil da dívida pública e a pressão de um ambiente externo com juros mais elevados são fatores que devem aumentar o custo do crédito no país nos próximos anos.
Aumento da dívida pública e seus efeitos na política monetária
Nos últimos anos, o endividamento do Brasil seguiu uma trajetória ascendente e mais cara. Em 2024, a dívida bruta do país atingiu 76,1% do PIB, um aumento significativo em relação aos 63,4% registrados em 2014. Esse aumento tem sido um dos principais fatores que afeta a política monetária, pois um endividamento elevado exige um controle rigoroso da inflação, o que só pode ser feito por meio da elevação da taxa de juros.
A continuação dessa trajetória de endividamento, sem uma reforma fiscal eficaz, pode exigir uma dose ainda maior de juros do que a registrada em 2015, quando a taxa Selic estava em 14,25% durante o governo de Dilma Rousseff. Nesse contexto, especialistas afirmam que o Brasil precisa estar preparado para uma taxa de juros elevada por um período mais prolongado, pois a dinâmica da dívida pública tem um impacto direto sobre a capacidade de o Banco Central controlar a inflação.
O impacto do atual arcabouço fiscal
A falta de um modelo fiscal eficaz que enfrente o crescimento da dívida pública é outro fator que agrava a situação. De acordo com Fabio Kanczuk, ex-diretor de Política Econômica do Banco Central, o Brasil enfrenta uma situação pior do que a do governo Dilma Rousseff, em 2015, devido à alta da dívida pública, que chegou a níveis preocupantes. O arcabouço fiscal atual, segundo ele, não resolve o problema e pode até contribuir para que a dívida continue a crescer, gerando ainda mais pressões sobre a política monetária.
O crescimento da dívida e o papel das LFTs
O perfil da dívida pública também piorou ao longo da última década. De acordo com dados do Tesouro Nacional, as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs), títulos atrelados à taxa Selic, agora representam uma parte significativa da Dívida Pública Federal. Esse aumento na participação das LFTs – que chegaram a 46,3% da dívida em dezembro de 2024 – aumenta a sensibilidade da dívida às variações da taxa Selic, pois qualquer aumento na Selic eleva diretamente o custo da dívida.
De acordo com cálculos do Banco Central, cada 1 ponto porcentual de aumento na taxa Selic, mantido por 12 meses, tem um impacto de 0,41 pontos percentuais na dívida bruta, o que representa aproximadamente R$ 48,6 bilhões. Isso demonstra como a alta de juros impacta diretamente o orçamento do governo, aumentando ainda mais a pressão sobre as finanças públicas.
O papel do cenário internacional
Além dos fatores internos, a elevação das taxas de juros no exterior também contribui para o aumento da taxa de juros no Brasil. As chamadas TIPS (títulos do Tesouro dos Estados Unidos, atrelados à inflação), que há dez anos apresentavam uma rentabilidade quase nula, agora oferecem retornos de cerca de 1,7% a 2,0%. Esse aumento nas taxas internacionais também pressionou o Brasil a elevar sua própria taxa de juros, o que torna o cenário monetário ainda mais desafiador.
Segundo Kanczuk, a combinação do pior cenário fiscal com as taxas de juros mais altas no exterior torna mais difícil para o Brasil manter uma política monetária eficaz. O aumento da Selic, embora necessário para controlar a inflação, tem o efeito colateral de tornar a dívida mais cara, criando um ciclo difícil de quebrar.
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