Os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação (híbridos) registraram uma valorização expressiva no início de 2025, impulsionados pela queda nas taxas de juros futuras após o pico observado em dezembro de 2024. Para os investidores, surge a pergunta: será que ainda é possível aproveitar o efeito da marcação a mercado?

Valorização dos títulos públicos em janeiro

Em janeiro de 2025, os títulos prefixados e híbridos, como os atrelados ao IPCA, tiveram um desempenho notável, com destaque para os títulos com vencimento superior a um ano. Dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) mostram que os papéis prefixados tiveram a maior valorização do mês, registrando um aumento de 3,41%, revertendo as perdas acumuladas em 2024. Até o início de março, a valorização anual era de 5,06%, refletindo uma recuperação sólida.

Esse movimento foi impulsionado pela queda das taxas de juros futuras, que atingiram o pico em dezembro do ano passado e caíram desde então. A marcação a mercado, que ajusta os preços dos títulos conforme as expectativas do mercado, beneficiou quem adquiriu esses papéis no final de 2024, aproveitando o momento de alta.

O cenário fiscal e o impacto nas expectativas de juros

Embora a valorização dos títulos públicos tenha sido positiva no curto prazo, analistas alertam para o risco relacionado ao aspecto fiscal do governo. Se não houver um alinhamento entre as expectativas do mercado e as ações do governo em relação à evolução da dívida pública, os prêmios de risco podem aumentar, resultando em uma possível desvalorização dos títulos no mercado secundário.

A condução da política fiscal do governo é um fator determinante, já que o mercado está aguardando anúncios sobre a redução de gastos. Caso esses ajustes não aconteçam conforme esperado, a curva de juros pode se ajustar para cima, prejudicando os preços dos títulos públicos.

O debate sobre a inflação também é relevante nesse contexto. As expectativas do mercado para 2025 ainda estão elevadas, com um índice de 5,68% projetado pelo último Boletim Focus. Esse cenário indica uma pressão sobre a precificação dos papéis, o que pode impactar os investidores que apostam na valorização dos títulos.

O efeito da selic no valor dos títulos públicos

Uma das principais variáveis para a valorização dos títulos prefixados é a evolução da taxa Selic. Caso a Selic sofra uma redução de dois pontos percentuais até 2026, o impacto nos preços dos títulos públicos pode ser significativo, especialmente para os papéis de longo prazo.

Por exemplo, a NTN-B 2035, que paga IPCA + 7,65%, poderia se valorizar em torno de 20% com a queda na Selic. Já a LTN 2032 (prefixado), atualmente com taxa de 14,61% ao ano, poderia ter uma valorização estimada de cerca de 15%. Essa valorização ocorre devido à maior sensibilidade dos papéis de longo prazo a variações na taxa de juros, um fenômeno conhecido como duration.

O duration reflete a relação entre o vencimento do título e a oscilação de seu preço frente às variações nas taxas de juros. Títulos com prazos mais longos, como as NTN-Bs, são mais voláteis e, portanto, apresentam maior potencial de valorização (ou desvalorização) com mudanças na Selic.

Oportunidades para investidores de longo prazo

Apesar dos riscos relacionados às políticas fiscais e às expectativas de inflação, o cenário atual ainda é favorável para investidores com foco no longo prazo. O Tesouro Selic, por exemplo, está oferecendo uma rentabilidade rara, com taxas superiores a 7%, o que torna o momento uma oportunidade para quem busca proteção contra a inflação e ganhos reais.

Para os investidores que não precisam acessar seus recursos nos próximos dois anos, alocar entre 7% e 20% do patrimônio em títulos atrelados à inflação pode ser uma estratégia interessante. Isso proporciona uma boa combinação de segurança e retorno.

Análise de riscos e rentabilidade

Por outro lado, a recomendação para quem deseja investir em títulos prefixados é de cautela. Os especialistas do banco Inter, por exemplo, sugerem que a exposição em títulos prefixados não ultrapasse 5% da carteira, devido à incerteza sobre a trajetória futura da Selic.

Essa recomendação é válida especialmente para títulos com vencimento inferior a dois anos, que estão pagando prêmios elevados. A análise de Rafael Winalda, analista de renda fixa do Inter, destaca que esses papéis estão oferecendo taxas que refletem expectativas de juros mais baixos no futuro, tornando-os interessantes para os investidores que acreditam nessa perspectiva.

Porém, como as expectativas sobre a inflação implícita — a diferença entre os juros prefixados e os juros reais — estão bem acima das projeções para os próximos anos, há um risco considerável. Caso a inflação real se alinhe com essas expectativas, os juros reais podem ser muito baixos, o que exigiria um reajuste das taxas prefixadas para níveis mais altos.