Impacto das Tarifas dos EUA em Ativos Brasileiros Gera Alerta no Mercado de Ações
A partir de agosto de 2025, os Estados Unidos aplicarão tarifas de 50% sobre diversos produtos brasileiros, impactando diretamente ativos da B3 como Embraer, Suzano, Petrobras, Vale e Marfrig
Foto: Gerada por Inteligência Artificial
A partir de 1º de agosto de 2025, os Estados Unidos passarão a aplicar uma tarifa de 50% sobre diversos produtos importados do Brasil. O anúncio, feito pelo governo norte-americano, provocou reação imediata nos mercados e trouxe à tona preocupações significativas sobre o impacto das tarifas dos EUA em ativos brasileiros listados na B3.
Segundo análise de Antonio Nogarotto, assessor da filial de Santo André da InvestSmart, o cenário exige atenção redobrada por parte dos investidores, especialmente aqueles com exposição a empresas exportadoras. A medida norte-americana visa, segundo autoridades locais, proteger sua indústria interna e reequilibrar sua balança comercial, mas seus reflexos vão muito além das fronteiras americanas.
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Entenda o Impacto das Tarifas dos EUA em Ativos Brasileiros
A medida, que atinge produtos-chave da pauta exportadora brasileira, afeta diretamente empresas como Embraer (EMBR3), Suzano (SUZB3), Marfrig (MRFG3), Petrobras (PETR4) e Vale (VALE3). Cada uma dessas companhias possui diferentes níveis de exposição ao mercado norte-americano, o que determina a severidade do impacto em seus resultados financeiros e, consequentemente, no desempenho de suas ações.
A seguir, veja a análise por ordem de relevância, conforme apontado por Nogarotto:
Embraer (EMBR3):

A Embraer, uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, encontra-se em uma posição particularmente vulnerável diante das novas tarifas impostas pelos EUA. A empresa possui uma dependência substancial do mercado norte-americano, com aproximadamente 45% de suas exportações de jatos comerciais e 70% de jatos executivos destinadas a clientes nos Estados Unidos.
Essa alta exposição torna a Embraer um dos ativos mais sensíveis a mudanças na política comercial americana.
Impacto Comercial Detalhado:
A tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, se aplicada aos jatos da Embraer, pode resultar em um aumento significativo no custo final de cada aeronave. Estimativas da própria empresa indicam que cada avião comercial vendido para os EUA pode ficar cerca de R$ 50 milhões maiscaro, é um fator crítico que pode comprometer a competitividade dos produtos da Embraer no mercado americano.
As consequências diretas desse aumento de preço incluem:
• Perda de Competitividade: Aeronaves mais caras tornam os produtos da Embraer menos atraentes em comparação com concorrentes que não enfrentam as mesmas barreiras tarifárias.
• Cancelamento e Adiamento de Pedidos: Clientes nos EUA podem optar por cancelar pedidos existentes ou adiar novas aquisições, aguardando uma resolução da situação tarifária ou buscando alternativas mais econômicas.
• Redução de Investimentos: A incerteza gerada pelas tarifas pode levar a Embraer a revisar suas projeções de receita e, consequentemente, a reduzir investimentos em pesquisa e desenvolvimento, expansão de produção e outras iniciativas estratégicas.
• Impacto na Cadeia de Suprimentos: Embora a Embraer seja uma empresa brasileira, sua cadeia de suprimentos é global e altamente integrada, com fornecedores em mais de 60 países, incluindo os EUA. As tarifas podem desorganizar essa cadeia, elevando custos de componentes e impactando a eficiência operacional.
O CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, chegou a comparar o potencial impacto das tarifas ao da pandemia de COVID-19, ressaltando a gravidade da situação. A capacidade da empresa de mitigar esses efeitos dependerá de sua agilidade em buscar novos mercados, renegociar contratos e, possivelmente, realocar parte de sua produção ou cadeia de suprimentos para reduzir a exposição às tarifas americanas. No entanto, a curto e médio prazo, a Embraer permanece sob forte pressão devido a essa nova barreira comercial.
Suzano (SUZB3):

A Suzano, líder global na produção de celulose de eucalipto, enfrenta um cenário desafiador com a imposição de tarifas de 50% pelos EUA e uma investigação por dumping. A empresa tem uma exposição significativa ao mercado americano, com 19% de suas vendas líquidas destinadas aos Estados Unidos. Além disso, o Brasil exportou 2,8 milhões de toneladas de celulose de fibra curta para os EUA em 2024, o que representa cerca de 78% do consumo americano desse produto, e a Suzano é responsável por uma parcela considerável desse volume.
Impacto Comercial Detalhado:
As tarifas de 50% sobre a celulose brasileira comprometem diretamente a competitividade da Suzano no mercado americano. O aumento do custo do produto importado pode levar os compradores dos EUA a buscar alternativas em outros países, resultando em:
• Perda de Participação de Mercado: A celulose da Suzano se tornará mais cara, favorecendo produtores de outras regiões que não são afetados pelas tarifas. Isso pode levar a uma redução na demanda e na participação de mercado da empresa nos EUA.
• Pressão sobre Margens de Lucro: Para manter a competitividade, a Suzano pode ser forçada a absorver parte do custo da tarifa, o que impactaria negativamente suas margens de lucro.
• Reorientação de Exportações: A empresa pode precisar reorientar suas exportações para outros mercados, o que pode envolver custos adicionais de logística e adaptação a novas demandas.
Além das tarifas, a Suzano está sob investigação do Departamento de Comércio dos EUA por suposta prática de dumping, ou seja, vender produtos abaixo do preço de custo ou do preço praticado no mercado doméstico. Em julho de 2025, o Departamento de Comércio dos EUA apurou uma margem de dumping de 14,42% praticada pela Suzano. Essa acusação, se confirmada e resultar em medidas antidumping, pode levar à aplicação de tarifas adicionais, agravando ainda mais a situação da empresa no mercado americano.
A combinação das tarifas e da acusação de dumping cria um ambiente de incerteza para a Suzano, exigindo que a empresa adote estratégias robustas para mitigar os impactos, como a diversificação de mercados e a busca por acordos comerciais que possam aliviar as barreiras tarifárias.
Vale (VALE3):

A Vale, uma das maiores mineradoras do mundo e principal produtora de minério de ferro, apresenta uma situação um pouco diferente em relação aos impactos das tarifas dos EUA. Embora o minério de ferro seja uma commodity crucial e o Brasil seja um grande exportador, a exposição direta da Vale ao mercado americano para esse produto específico é relativamente limitada.
Impacto Comercial Detalhado:
As exportações de minério de ferro e pelotas da Vale para os Estados Unidos representaram aproximadamente 3% de seus embarques totais em 2023. Essa baixa dependência direta do mercado americano para o minério de ferro sugere que o impacto imediato das tarifas de 50% sobre esse produto pode ser menos severo para a Vale em comparação com empresas como a Embraer ou a Suzano. No entanto, é importante considerar os impactos indiretos e de longo prazo:
• Impacto no Setor Siderúrgico Americano: As tarifas sobre o minério de ferro brasileiro podem elevar os custos para as siderúrgicas americanas que dependem dessa matéria-prima. Isso, por sua vez, pode levar a um aumento nos preços do aço nos EUA, afetando a demanda e, consequentemente, a demanda por minério de ferro de forma geral, incluindo o da Vale.
• Guerra Comercial e Preços de Commodities: Uma escalada na guerra comercial entre EUA e Brasil, ou entre EUA e outros parceiros comerciais, pode gerar volatilidade nos preços das commodities globalmente. Embora a Vale possa redirecionar suas vendas para outros mercados, a incerteza e a flutuação nos preços podem afetar sua receita e lucratividade.
• Pressão por Diversificação: Mesmo com a baixa exposição direta, a ameaça de tarifas pode incentivar a Vale a acelerar seus esforços de diversificação de mercados e produtos, buscando reduzir ainda mais a dependência de qualquer mercado específico.
Analistas de mercado têm indicado que o impacto direto das tarifas sobre as empresas de mineração e siderurgia brasileiras, incluindo a Vale, pode ser limitado. No entanto, o setor de mineração como um todo estima um impacto de até US$ 1 bilhão por ano com as tarifas. A resiliência da Vale dependerá de sua capacidade de navegar em um cenário global de comércio mais protecionista e de sua estratégia de longo prazo para manter a competitividade em um mercado de commodities volátil.
Petrobras (PETR4):

A Petrobras, gigante estatal do setor de petróleo e gás, também está sob o radar em relação às tarifas dos EUA, principalmente devido à exportação de petróleo bruto e derivados. No entanto, a exposição direta da Petrobras às tarifas de 50% sobre o petróleo bruto brasileiro pode ser mais limitada do que em outros setores.
Impacto Comercial Detalhado:
No primeiro trimestre de 2025, apenas cerca de 4% do volume total de petróleo bruto exportado pela Petrobras foi destinado aos Estados Unidos. O principal cliente da Petrobras para petróleo bruto é a China, que absorveu cerca de 30% das exportações da estatal no quarto trimestre de 2024. Essa diversificação de mercados atenua o impacto direto das tarifas sobre as exportações de petróleo bruto da Petrobras para os EUA.
Contudo, a situação é diferente para os derivados de petróleo. As exportações de derivados da Petrobras para os EUA representaram 37% do total de 209 mil barris por dia no primeiro trimestre de 2025. Embora a Petrobras não detalhe quais desses produtos são enviados aos EUA, uma tarifa de 50% sobre esses derivados pode ter um impacto mais significativo na receita gerada por essa linha de produtos.
As possíveis consequências para a Petrobras incluem:
• Redirecionamento de Exportações: A Petrobras já está avaliando a possibilidade de redirecionar o petróleo e derivados que seriam vendidos para os EUA para outros mercados, como a Ásia. Essa estratégia pode ajudar a mitigar o impacto das tarifas, mas pode envolver custos logísticos adicionais e a necessidade de adaptação a novas demandas de mercado.
• Pressão sobre Preços de Derivados: A imposição de tarifas sobre os derivados pode pressionar os preços desses produtos no mercado americano, tornando-os menos competitivos e potencialmente reduzindo a demanda por produtos brasileiros.
• Incerteza no Mercado Global de Petróleo: Embora o impacto direto na Petrobras possa ser limitado, a escalada de tensões comerciais pode gerar incerteza no mercado global de petróleo, afetando os preços e a demanda de forma mais ampla, o que, por sua vez, pode influenciar a receita da empresa.
Em resumo, enquanto a Petrobras parece ter uma exposição relativamente baixa às tarifas sobre o petróleo bruto, a taxação de derivados pode exigir uma reavaliação de suas estratégias de exportação. A capacidade da empresa de se adaptar rapidamente a essas mudanças e de diversificar seus mercados será crucial para minimizar os impactos negativos.
Marfrig (MRFG3):

A Marfrig, uma das maiores empresas de carne bovina do mundo, enfrenta um cenário complexo com a imposição de tarifas de 50% pelos EUA. Embora a empresa tenha minimizado o impacto direto em sua receita, alegando que apenas 5% de sua receita está exposta à nova taxação devido à diversificação de suas operações (com exportações também de unidades na Argentina, Uruguai e Paraguai), o setor de carne bovina brasileira como um todo é um alvo sensível das políticas comerciais americanas.
Impacto Comercial Detalhado:
O Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina para os EUA, e a Marfrig tem uma participação relevante nesse mercado. A tarifa de 50% sobre a carne bovina brasileira pode gerar os seguintes impactos:
• Perda de Competitividade: A carne brasileira se tornará significativamente mais cara para os consumidores e importadores americanos, o que pode levar a uma redução drástica na demanda e à preferência por carne de outros países ou de produtores domésticos.
• Redução do Volume de Exportações: Mesmo com a diversificação de mercados, a perda de um mercado tão relevante como o dos EUA pode levar a uma diminuição no volume total de exportações da Marfrig, impactando sua receita e lucratividade.
• Pressão sobre Preços Domésticos: O excedente de carne que não for exportado para os EUA pode ser direcionado para o mercado doméstico ou para outros mercados, o que pode gerar uma pressão de baixa nos preços e afetar a rentabilidade da empresa.
• Impacto nas Operações nos EUA: A Marfrig possui operações e unidades de processamento nos Estados Unidos. Embora essas operações possam, em tese, se beneficiar de uma menor concorrência da carne brasileira importada, elas também dependem da importação de matéria-prima de outras origens, que podem ser afetadas por outras políticas comerciais.
Além disso, a empresa pode enfrentar um “duplo impacto” se suas operações nos EUA dependem da importação de carne do Brasil para processamento.
O setor de agronegócio é particularmente vulnerável a barreiras comerciais, e a carne bovina tem sido um ponto de atrito em diversas disputas comerciais. A capacidade da Marfrig de se adaptar a esse novo cenário, seja através da diversificação de mercados, da otimização de suas operações globais ou da busca por acordos comerciais, será fundamental para minimizar os efeitos negativos das tarifas americanas.
Como o investidor deve reagir ao impacto das tarifas dos EUA
O impacto das tarifas dos EUA em ativos brasileiros deve ser encarado com cautela e análise estratégica. Empresas com forte dependência do mercado norte-americano estão sob pressão, e o cenário pode se agravar caso novas medidas comerciais sejam implementadas.
Para o investidor, o momento exige:
- Diversificação de portfólio
- Análise setorial criteriosa
- Acompanhamento de notícias geopolíticas
- Atenção à reprecificação de ativos exportadores
“Para os investidores, é crucial monitorar de perto a evolução dessa disputa comercial. A capacidade das empresas de mitigar esses impactos dependerá de sua agilidade em adaptar suas estratégias, buscar novos mercados, otimizar suas cadeias de suprimentos e, em alguns casos, renegociar acordos comerciais.”, finaliza Antonio Nogarotto.
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