Fed reduz juros americanos e Powell evita sinalizar próximos passos
Decisão de reduzir a taxa para a faixa de 3,75% a 4% ocorre em meio a sinais de desaceleração da economia e à paralisação do governo dos EUA.
Foto: Shutterstock
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, cortou novamente os juros americanos em 0,25 ponto percentual, reduzindo a taxa para a faixa entre 3,75% e 4% ao ano. O anúncio, feito nesta quarta-feira (29), já era amplamente esperado pelo mercado financeiro, marcando o segundo corte consecutivo nas reuniões do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc).
A decisão reflete a preocupação da autoridade monetária com o enfraquecimento do mercado de trabalho, além dos efeitos da paralisação do governo (shutdown), que há 29 dias limita a divulgação de dados econômicos.
“As condições do mercado de trabalho parecem estar se desacelerando gradualmente”, afirmou o presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva.
Por que o Fed cortou os juros nos EUA
O Fed vem tentando equilibrar seu duplo mandato — manter a inflação sob controle e sustentar o emprego. Embora os dados de preços tenham mostrado inflação abaixo do esperado, o avanço do desemprego e a desaceleração nas contratações indicaram que a economia americana está perdendo fôlego.
Segundo o Fomc, os ganhos de emprego diminuíram e a taxa de desemprego aumentou levemente. O comunicado também destacou que os riscos de enfraquecimento do mercado de trabalho cresceram nos últimos meses.
Powell afirmou que o corte “busca um ponto neutro”, e admitiu que não há consenso sobre os próximos passos da política monetária:
“Houve opiniões fortemente divergentes sobre como proceder em dezembro”, disse.
Impacto dos juros americanos no Brasil
A queda dos juros nos Estados Unidos tem reflexos diretos sobre o Brasil. Com o rendimento dos títulos públicos americanos (Treasuries) menor, investidores tendem a buscar aplicações mais rentáveis em mercados emergentes, o que pode fortalecer o real frente ao dólar e reduzir a pressão sobre a Selic.
Além disso, um dólar mais fraco ajuda a conter a inflação brasileira, favorecendo o ciclo de cortes do Comitê de Política Monetária (Copom).
Mercado vê tom mais cauteloso e incerteza sobre dezembro
Para Sara Paixão, analista de macroeconomia da InvestSmart XP, o comunicado do Fed reforçou um tom mais cauteloso e aumentou a incerteza sobre os próximos passos.
“O Fed reduziu a taxa de juros em 0,25%, conforme esperado pelo mercado. O comunicado trouxe um tom mais cauteloso, não deixando claro se teremos continuidade do ciclo de queda em dezembro. Além disso, a decisão não foi consenso — um dos membros votou para manter a taxa inalterada e outro defendeu um corte maior, de 0,5%”, afirmou.
Sara destaca ainda que, após a entrevista de Powell, a probabilidade de um novo corte em dezembro caiu de 99% para 75%. Ela lembra que o shutdown do governo americano prejudica a divulgação de dados macroeconômicos, dificultando a leitura sobre o real ritmo da economia.
“A incerteza e a falta de dados podem levar o Fed a adotar uma postura mais cautelosa na próxima reunião. Além disso, o encerramento da redução do balanço patrimonial indica uma intenção de aumentar a liquidez do mercado, algo já esperado pelo mercado”, completa a analista.
Política de liquidez e o cenário político
O Fed também anunciou que encerrará, em dezembro, o programa de aperto quantitativo (QT) — processo que vinha reduzindo a liquidez do sistema financeiro. A partir de então, o banco central passará a reinvestir os recursos dos títulos que vencem, mantendo mais dinheiro em circulação e aliviando o custo do crédito.
O cenário político também pesa sobre as decisões da autoridade monetária. O presidente Donald Trump intensificou as críticas a Jerome Powell, chamando-o de “incompetente” e indicando aliados para cargos na diretoria do Fed. Caso obtenha maioria no conselho, Trump poderá ampliar sua influência sobre a política monetária americana.
Perspectivas para os próximos meses
Embora a inflação esteja mais próxima da meta de 2%, a falta de clareza sobre a força do mercado de trabalho e o impasse fiscal com o Congresso tornam incerta a trajetória futura dos juros americanos.
Powell reconheceu que o comitê “permanece atento aos riscos” e está preparado para ajustar a política monetária caso surjam novos sinais de desaceleração econômica.
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