Dólar cai quase 2% após BC realizar segundo leilão de venda de dólares do dia
Nesta quinta-feira (19), o dólar à vista registrou uma queda de quase 2%, após o Banco Central realizar dois leilões de venda de dólares, totalizando US$ 5 bilhões.

O dólar à vista registrou uma queda expressiva de quase 2% nesta quinta-feira (19), após o Banco Central realizar dois leilões cambiais, com vendas totais de US$ 5 bilhões. O movimento ocorre em meio a um cenário de grande volatilidade, com investidores atentos ao andamento das reformas fiscais no Brasil, enquanto o governo tenta avançar com medidas de contenção de gastos no Congresso. Neste contexto, o mercado reage de forma instável, com os agentes financeiros observando atentamente o rumo das negociações.
O que está acontecendo com o dólar hoje?
O dólar à vista operava em queda de 2,06% às 14h01, sendo cotado a R$ 6,138 na venda. Este movimento vem após uma sessão bastante volátil, com a moeda americana atingindo o patamar de R$ 6,30 logo após a abertura, e chegando a uma mínima de R$ 6,14 durante o dia. A variação no valor da moeda está sendo impulsionada pela contínua atuação do Banco Central, que realizou dois leilões de venda de dólares nesta quinta-feira.
A queda do dólar reflete o esforço do BC em estabilizar a moeda e conter as flutuações do mercado cambial, com um total de mais de US$ 20,75 bilhões vendidos desde a última quinta-feira, por meio de operações de leilão à vista e de linha (dólares com compromisso de recompra). O mercado reagiu de forma mista, refletindo o impacto das recentes declarações sobre a situação fiscal do Brasil.
Como a intervenção do Banco Central afeta o câmbio?
O Banco Central, liderado pelo presidente Roberto Campos Neto, está realizando intervenções diárias no mercado cambial para conter a depreciação do real. Hoje, a instituição realizou o segundo leilão de venda de dólares da sessão, após já ter vendido US$ 3 bilhões logo pela manhã. Essas vendas visam aumentar a oferta de dólares no mercado e controlar as flutuações do câmbio, minimizando os impactos da incerteza fiscal e política sobre o valor da moeda.
Essa ação vem após o dólar fechar a última sessão (quarta-feira) em alta de 2,78%, com o valor de R$ 6,2679, o maior nível nominal de fechamento da história. O movimento de vendas de dólares realizado pelo Banco Central visa evitar que o real se desvalorize ainda mais, à medida que os investidores aguardam definições mais claras sobre o futuro fiscal do Brasil.
Preocupações fiscais e o impacto no mercado
A recente volatilidade do câmbio está intimamente ligada à instabilidade política e fiscal no Brasil. O governo federal tenta avançar com um pacote fiscal de contenção de gastos no Congresso, com destaque para a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que restringe o acesso ao abono salarial. Este pacote de ajuste fiscal é visto como crucial para o equilíbrio das contas públicas, mas as incertezas sobre a aprovação das medidas aumentam a apreensão entre os investidores.
A Câmara dos Deputados adiou para esta quinta-feira a votação da PEC, enquanto na terça-feira foi aprovado um outro projeto do Executivo para o corte de gastos. Agentes financeiros temem que as propostas não sejam votadas até o fim do ano ou que sejam desidratadas durante o processo legislativo. Qualquer uma dessas possibilidades poderia comprometer a sustentabilidade fiscal do Brasil e impactar negativamente a confiança do mercado, pressionando ainda mais a desvalorização do real.
Lucélia Freitas, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, explica que, “enquanto não tivermos uma definição exata de como serão os cortes, a tendência é que o real continue a se desvalorizar.” Essa incerteza fiscal, juntamente com o contexto externo desfavorável, cria um ambiente de instabilidade para o câmbio brasileiro.
Expectativas para a política monetária e inflação
A curva de juros também reflete os temores fiscais, com taxas de juros em forte alta nas últimas sessões. Em meio à volatilidade, o mercado também está atento às perspectivas do Banco Central em relação à inflação. O relatório divulgado mais cedo pelo BC piorou as projeções para o cumprimento da meta de inflação, com a probabilidade de o IPCA ultrapassar o limite superior da meta de 4,5% em 2023 chegando a quase 100%.
A expectativa para a reunião do Copom em janeiro também está alta, com operadores projetando uma possível elevação da Selic entre 1,5% e 1,75%, em resposta ao cenário inflacionário crescente. Contudo, a recente indicação do Banco Central de que a alta será de 1 ponto percentual gerou especulações sobre a magnitude da próxima mudança na taxa de juros.
Cenário externo e sua influência sobre o real
No exterior, o Federal Reserve (Fed), o banco central dos Estados Unidos, reduziu as taxas de juros em 0,25 ponto percentual na última reunião, mas sinalizou que os cortes serão menores do que o esperado no ano seguinte. A expectativa de um afrouxamento monetário mais cauteloso no próximo ano fortaleceu o dólar, o que também pressiona as moedas de mercados emergentes, como o real.