A dívida pública global é considerada “muito alta” e deve ultrapassar a marca de US$ 100 trilhões ainda em 2024, alertou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em estudo divulgado nesta semana. 

Entre os países onde a dívida está projetada para crescer ainda mais, destacam-se Brasil, França, Itália, África do Sul, Reino Unido e Estados Unidos, de acordo com o organismo com sede em Washington.

Neste ano, a dívida pública global, medida como proporção do produto interno bruto (PIB) — uma métrica essencial para investidores decidirem sobre alocação de recursos —, deve atingir 93%, segundo o FMI. 

A projeção é de piora no médio prazo: o índice pode alcançar 100% até 2030, um aumento de 10 pontos percentuais em relação ao nível de 2019, anterior à pandemia.

De acordo com os autores do estudo do FMI Era Dabla-Norris, Davide Furceri, Raphael Lam e Jeta Menkulasi, “os níveis futuros da dívida pública podem ser ainda maiores do que o projetado, e ajustes fiscais muito maiores do que os estimados atualmente são necessários para estabilizá-la ou reduzi-la com alta probabilidade”, afirmaram.

O documento integra o relatório “Monitor Fiscal”, que será divulgado na íntegra na próxima semana, durante as reuniões anuais do organismo, realizadas em Washington.

O FMI sugere que os países enfrentem os desafios da dívida por meio de políticas fiscais “cuidadosamente elaboradas” para preservar o crescimento econômico e proteger as famílias vulneráveis, aproveitando o ciclo de flexibilização da política monetária nas economias mais influentes.

Contudo, o Fundo adverte que a situação fiscal de muitos países pode ser “mais grave” do que se projeta, devido a três fatores principais: pressões significativas de gastos, otimismo excessivo nas projeções de dívida e uma parcela relevante da dívida que ainda não foi identificada.

Gastos crescentes

Segundo os autores, análises anteriores do FMI já apontavam que o discurso fiscal ao redor do mundo tem mostrado uma inclinação crescente para maiores gastos. 

“Os países terão de investir cada vez mais para lidar com o envelhecimento populacional e a saúde; com a transição verde e a adaptação às mudanças climáticas; além de investir em defesa e segurança energética, impulsionados pelas crescentes tensões geopolíticas”, explicam.

Ainda assim, a experiência demonstra que as previsões de dívida frequentemente subestimam os resultados reais por uma margem significativa. Em alguns países, a relação entre dívida pública e PIB pode aumentar até 10 p.p. em cinco anos, superando as projeções iniciais, segundo os autores do estudo do FMI.

O organismo desenvolveu uma nova estrutura de “dívida em risco”, que relaciona as atuais condições macrofinanceiras e políticas com os possíveis cenários futuros de endividamento. O estudo envolveu a análise de 74 países, entre eles Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Japão, China, México e Chile.

Em um cenário extremamente adverso, a dívida pública global pode chegar a 115% do PIB em três anos, quase 20 p.p. a mais do que as previsões atuais, alerta o Fundo. As causas incluem crescimento econômico mais fraco, condições de financiamento mais rígidas, desajustes fiscais e aumento da incerteza econômica e política.

“É importante destacar que os países estão se tornando cada vez mais vulneráveis a fatores globais que impactam seus custos de financiamento, incluindo reflexos da maior incerteza política em nações sistemicamente importantes, como os Estados Unidos”, avaliam Dabla-Norris, Furceri, Lam e Menkulasi no estudo.