China isenta produtos americanos de tarifas em tentativa de minimizar impactos da guerra comercial
A China iniciou a isenção de tarifas sobre produtos essenciais dos Estados Unidos, como farmacêuticos e químicos industriais, totalizando US$ 40 bilhões em importações.

A China começou a isentar uma série de produtos americanos de tarifas, abrangendo cerca de US$ 40 bilhões (aproximadamente R$ 226 bilhões) em importações. A medida, que inclui itens essenciais como produtos farmacêuticos e químicos industriais, reflete uma tentativa estratégica de mitigar os impactos negativos da guerra comercial com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que protege sua própria economia de um colapso nas importações essenciais. A decisão marca uma possível mudança nas tensões comerciais entre os dois países e está sendo observada de perto por especialistas e autoridades globais.
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O que está sendo isento de tarifas?
A China anunciou, de forma discreta, a isenção de 131 produtos americanos das tarifas, com um valor total de importações de aproximadamente US$ 40 bilhões. Esses produtos incluem desde itens farmacêuticos a produtos químicos industriais essenciais. Embora a lista de isenções tenha circulado entre empresas e comerciantes, ela ainda não foi oficialmente confirmada pelas autoridades chinesas, mas fontes internas indicam que algumas empresas já conseguiram importar esses produtos sem a cobrança das tarifas.
Essas isenções abrangem cerca de 24% das importações da China dos Estados Unidos em 2024, de acordo com cálculos baseados em dados da alfândega chinesa. Entre os itens isentos estão produtos que são críticos para a indústria chinesa, como certos produtos farmacêuticos e matérias-primas como o etano, um componente essencial na produção de plásticos. A China, apesar de ser o maior fabricante de plásticos do mundo, ainda depende de importações de etano dos EUA, o que torna essas isenções especialmente importantes para a manutenção da sua produção industrial.
Quando e como as isenções foram implementadas?
A implementação dessas isenções começou de forma gradual no início de abril de 2024, quando autoridades chinesas começaram a solicitar às empresas estrangeiras que listassem quais produtos americanos eram indispensáveis para suas operações. Desde então, itens críticos e difíceis de substituir receberam isenções das tarifas de 125% sobre produtos dos EUA. A lista de isenções, que parece ser dinâmica, será continuamente ajustada, com a possibilidade de novos produtos serem incluídos à medida que a China avalia suas necessidades.
A medida foi um reflexo direto da pressão crescente sobre a economia chinesa devido às tarifas impostas pelos EUA durante a guerra comercial. Embora a China tenha adotado uma abordagem discreta, o impacto dessas isenções pode ser substancial, ajudando a reduzir os custos de produção e a aliviar as dificuldades enfrentadas por alguns setores industriais.
Por que a China está adotando essa estratégia?
Especialistas indicam que a China não está fazendo essas concessões como um gesto de boa vontade, mas sim como uma manobra estratégica para proteger sua economia. A guerra comercial com os Estados Unidos tem gerado grandes desafios para a China, com a atividade industrial do país contraindo em algumas áreas desde o final de 2023. Grandes bancos internacionais, como UBS e Goldman Sachs, já reduziram suas previsões de crescimento para o país em 2024, que deve ficar abaixo da meta oficial de 5%.
A isenção de tarifas é vista como uma medida pragmática para reduzir o impacto dessas tarifas em setores essenciais e evitar uma desaceleração econômica mais profunda. Isso se alinha com o foco da China em proteger suas indústrias de base e garantir a continuidade de sua produção em áreas vitais.
Além disso, a China pode estar buscando uma forma de suavizar as tensões com os Estados Unidos, abrindo a possibilidade de um novo ciclo de negociações comerciais. O Ministério do Comércio da China divulgou recentemente que está avaliando a retomada das conversas com os EUA, uma notícia que causou um impacto positivo nos mercados financeiros globais.
O que os especialistas dizem sobre as isenções?
Os analistas sugerem que a China, ao adotar essa abordagem mais discreta e estratégica, busca evitar uma escalada no conflito com os Estados Unidos. Segundo Gerard DiPippo, diretor do Centro de Pesquisa sobre a China da RAND, essas isenções não devem ser interpretadas como um gesto de boa vontade, mas sim como uma tentativa de evitar danos mais significativos à economia chinesa. A medida reflete a prioridade do governo chinês de evitar o colapso de importações essenciais, especialmente aquelas de difícil substituição.
Além disso, especialistas indicam que as isenções podem ser vistas como uma maneira de reduzir a pressão econômica interna e demonstrar uma disposição para dialogar com Washington. De acordo com Chang Shu, economista-chefe para a Ásia da Bloomberg, a isenção de produtos críticos pode ajudar a aliviar as tensões comerciais e beneficiar tanto a China quanto a indústria americana.