Crise da Ambipar (AMBP3): ação despenca quase 90% em 1 mês
A empresa tenta ganhar tempo na Justiça para negociar mais de R$ 10 bilhões em dívidas, mas enfrenta rebaixamentos de agências de rating e crescente aversão ao risco entre investidores.

As ações da Ambipar (AMBP3) enfrentam um dos períodos mais turbulentos de sua história recente. Em apenas um mês, os papéis da companhia de gestão de emergências ambientais despencaram cerca de 90%, refletindo uma crise de confiança sem precedentes. O colapso começou a se intensificar após a empresa recorrer à Justiça para obter proteção contra credores e ganhou novas proporções com suspeitas sobre a real solidez de seu caixa. Nesta sexta-feira (3), em meio à instabilidade, as ações voltaram a cair forte, ampliando a preocupação entre investidores e credores.
Colapso nas ações e perda de valor de mercado
Na véspera, a Ambipar (AMBP3) já havia registrado uma queda de 61,48% em suas ações. No pregão desta sexta-feira, a desvalorização continuou, com baixa superior a 45% por volta das 13h30, levando o papel a ser negociado a R$ 1,49. Em apenas um mês, a queda acumulada chega a 88%, um reflexo direto da aversão ao risco por parte dos investidores.
Esse derretimento evidencia como a confiança no negócio se deteriorou rapidamente, apesar de a companhia afirmar possuir um caixa robusto de R$ 4,7 bilhões, sendo R$ 2 bilhões em liquidez imediata.
Suspeitas em FIDC aumentam insegurança
Um dos pontos que mais abalaram a percepção do mercado foi a revelação de possíveis irregularidades em um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) no qual a Ambipar afirma manter parte significativa de seu caixa.
Segundo informações de bastidores, haveria indícios de que empresas ligadas à própria Ambipar estariam envolvidas nas duas pontas da operação: tanto cedendo os recebíveis quanto concedendo empréstimos usando esses ativos como garantia. Essa suspeita fez crescer a dúvida sobre a real disponibilidade dos recursos em caixa, o que amplia a incerteza sobre a capacidade da companhia de enfrentar suas dívidas.
Pedido de proteção contra credores
Para evitar uma situação ainda mais grave, a Ambipar (AMBP3) entrou com um pedido de tutela cautelar na Justiça do Rio de Janeiro. Essa medida emergencial suspende cobranças e execuções por 30 dias, prorrogáveis por mais 30, e foi vista como uma tentativa de ganhar tempo para negociar com credores.
A principal preocupação era a possibilidade de disparar cláusulas de cross default, que poderiam exigir o pagamento imediato de mais de R$ 10 bilhões em dívidas. Especialistas apontam que esse pedido funciona como uma “sala de espera” antes de uma eventual recuperação judicial.
Bancos e credores contestam decisão
O movimento da Ambipar gerou resistência entre instituições financeiras. O Banco Sumitomo foi o primeiro a contestar a decisão judicial que suspendeu as cobranças, questionando a real necessidade da medida diante do caixa declarado pela empresa.
Outros bancos, como Bradesco, Santander, Banco do Brasil, Itaú e ABC Brasil, também se manifestaram contra. Além disso, a escolha da jurisdição levantou polêmica, já que a holding tem sede em São Paulo, mas a proteção foi solicitada no Rio de Janeiro, onde o processo passou a tramitar.
Reestruturação da dívida em curso
Paralelamente, a Ambipar busca alternativas para reorganizar sua estrutura financeira. A companhia contratou a BR Partners para assessorar um plano de reestruturação da dívida, após negociações frustradas com a Seneca Evercore.
Enquanto isso, um grupo de bondholders (detentores de títulos de dívida) já se articula para exigir maior clareza sobre a situação da empresa e pressionar por soluções mais efetivas.
Recuperação judicial é considerada provável
Para especialistas do setor, como Max Mustrangi, CEO da Excellance, a recuperação judicial da Ambipar é quase inevitável. Segundo ele, as dívidas aumentaram nos últimos anos, mas os indicadores financeiros só se deterioraram, mesmo em momentos de valorização das ações em 2024.
A agência Fitch também sinalizou esse risco. Caso a empresa apresente formalmente um plano de reestruturação de dívida, seu rating será rebaixado para RD (restricted default). Se houver pedido de recuperação judicial, a classificação cairá para D (default).
Ratings rebaixados por agências internacionais
O pessimismo em torno da Ambipar (AMBP3) já se reflete nas avaliações de crédito. A S&P Global Ratings reduziu os ratings de emissor e emissão da companhia diretamente para D (default), enquanto a Fitch revisou suas perspectivas para baixo, em linha com o risco elevado de inadimplência.
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