Chile vai ao 2º turno com Jara e Kast em disputa marcada por polarização
Segurança pública, economia e alianças dos candidatos derrotados serão decisivos para definir o próximo presidente do país.
Foto: Pavel Tochinsky/Getty Images
O Chile vai ao 2º turno com Jara e Kast depois de um primeiro turno que reorganizou forças políticas e aprofundou a polarização no país. A definição ficou para 14 de dezembro, quando os chilenos retornarão às urnas para escolher quem comandará o país entre 2026 e 2030. A etapa decisiva chega em meio a preocupações com segurança pública e estagnação econômica, temas que dominaram toda a campanha e ajudaram a impulsionar os extremos do espectro político.
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Com 99,6% das urnas apuradas, o Serviço Eleitoral do Chile (Servel) confirmou que Jeannette Jara, candidata governista apoiada pelo pacto Unidade pelo Chile, terminou o primeiro turno com 26,9% dos votos. Logo atrás aparece José Antonio Kast, fundador do Partido Republicano e principal nome da direita radical, com 23,9%.
A disputa avança para o segundo turno em um cenário extremamente competitivo. Embora Jara tenha liderado a votação, Kast inicia a nova fase com vantagem estratégica, já que recebeu rapidamente o apoio de duas candidaturas decisivas da direita: Johannes Kaiser, representante da ultradireita, e Evelyn Matthei, expoente da direita tradicional. Somados, esses candidatos obtiveram cerca de 26% dos votos — capital político que pode reposicionar Kast à frente.
Alianças que redesenham o mapa eleitoral
O alinhamento imediato de Kaiser e Matthei com Kast cria um bloco de direita cuja soma ultrapassa os 50% de apoio, segundo os cálculos preliminares divulgados por analistas eleitorais. Caso essa transferência ocorra de forma íntegra, Kast pode chegar a 50,5%, ultrapassando a margem necessária para virar o jogo.
A campanha de Jara, por sua vez, iniciou movimentos paralelos para atrair eleitores de outras candidaturas derrotadas, como Franco Parisi, Marco Enríquez-Ominami, Harold Mayne-Nicholls e Eduardo Artés. A candidata fez elogios públicos a algumas propostas de adversários, tentando sinalizar disposição de diálogo para ampliar o arco de alianças. Ainda assim, mesmo com uma migração consistente desses votos, os cálculos iniciais indicam que ela alcançaria aproximadamente 49,4%.
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Polarização entre Jara e Kast define o 2º turno
Especialistas afirmam que o Chile vai ao 2º turno com Jara e Kast justamente porque os dois representam polos opostos, capazes de mobilizar eleitorados altamente engajados. A fragmentação de votos entre oito candidatos no primeiro turno impediu qualquer vitória majoritária antecipada, abrindo espaço para que os dois extremos avançassem.
Jara, vinculada ao Partido Comunista e integrante do atual governo de Gabriel Boric, defende uma atuação mais robusta do Estado, especialmente na ampliação de direitos sociais, na redução das desigualdades e na promoção de políticas públicas de bem-estar. Seu discurso tem sido associado à continuidade dos avanços progressistas iniciados em 2022.
Kast, por outro lado, aposta em um Estado reduzido, menos regulações e políticas de austeridade. O candidato é frequentemente comparado a lideranças conservadoras como Donald Trump e Jair Bolsonaro. Ele defende endurecimento na segurança e medidas severas contra imigração irregular. Para setores da sociedade chilena preocupados com criminalidade, essas são propostas vistas como respostas diretas à escalada de violência recente.
Segurança e economia dominam a agenda
A eleição presidencial ocorre em um contexto de crescente tensão social. Dados oficiais mostram que o número de vítimas de crimes cresceu 10,8% entre 2023 e 2024, enquanto o país tenta lidar com crimes mais violentos e com a presença de organizações estrangeiras, como o Tren de Aragua.
No campo econômico, o Chile registrou crescimento de 2,6% em 2024, ritmo insuficiente para gerar empregos e melhorar a renda. O descompasso entre expectativas e realidade aprofundou a insatisfação popular, alimentando o voto de protesto que impulsionou candidaturas mais radicais.
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