A eleição municipal de São Paulo, realizada no último domingo (27), ficou marcada por um fenômeno preocupante: a abstenção atingiu a maior taxa em 40 anos, com mais de 2,94 milhões de eleitores (31,54%) não comparecendo às urnas. Esse índice expressivo não apenas supera a votação do candidato Guilherme Boulos (PSOL), que recebeu cerca de 2,3 milhões de votos, mas também levanta questões sobre a insatisfação da população com o processo democrático.

No segundo turno da eleição, a reeleição de Ricardo Nunes foi ofuscada pelo recorde de abstenção. Com a presença de apenas 68,46% dos eleitores, o cenário é alarmante. Além disso, os votos nulos e brancos somaram mais de 665 mil, representando 10,42% do total, o que demonstra que quase 42% dos eleitores não apoiaram nenhum dos candidatos disponíveis.

Esses números são particularmente significativos em comparação com as eleições anteriores. Na disputa municipal de 2020, a abstenção já havia alcançado um índice elevado de 30,81%, com 2,77 milhões de eleitores ausentes. Em 2016, a taxa de abstenção foi de 21,8%, enquanto em 2012, foi de 19,99%. Essa tendência de aumento na abstenção pode ser interpretada como um sinal de insatisfação crescente com a democracia representativa.

Historicamente, a abstenção em São Paulo apresenta uma trajetória que preocupa analistas e cidadãos. Desde a redemocratização, a menor taxa de abstenção foi registrada em 1988, com apenas 6,98% de ausências. Essa diminuição ao longo dos anos, culminando em taxas recordes como a de 2024, sugere que os eleitores podem estar se sentindo desiludidos ou desconectados do processo político.

Para um olhar mais detalhado sobre as eleições passadas, a abstenção na eleição de 2008 foi de 17,54%, quando Gilberto Kassab (PSD) venceu Marta Suplicy (PT). Em 2004, Marta foi derrotada por José Serra (PSDB), com uma abstenção ligeiramente superior de 17,55%. Esses dados históricos ressaltam um padrão preocupante que pode demandar uma reflexão profunda sobre as práticas democráticas atuais.

O primeiro turno da eleição em 2024 trouxe à tona disparidades significativas nas taxas de abstenção entre as diferentes zonas eleitorais. A 1.ª Zona Eleitoral, localizada na Bela Vista, no centro de São Paulo, apresentou a maior taxa de abstenção, com impressionantes 34,81% de eleitores optando por não participar da votação. Em contrapartida, a 397.ª Zona Eleitoral, no Jardim Helena, na zona leste, teve o maior comparecimento, com 75,72% dos eleitores votando.

Essas informações revelam um padrão que pode estar associado a fatores socioeconômicos, níveis de educação e o engajamento político da população. Compreender essas dinâmicas pode ser fundamental para as autoridades e analistas que buscam reverter essa tendência de abstenção elevada.