Não é exagero dizer que Guilherme Boulos é uma das figuras mais proeminentes da política brasileira contemporânea. Além de político, Boulos é professor, escritor e um dos principais nomes, quando o assunto é o envolvimento militante em causas sociais. 

Conhecido principalmente por sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), Boulos, agora, disputa a prefeitura de São Paulo (SP), cidade mais populosa da América Latina. No cenário eleitoral, o político brasileiro se destacou em 2022, ao ter sido o segundo deputado federal mais votado nas eleições daquele ano. 

Interessado em saber mais? Neste artigo, o Melhor Investimento fala um pouco mais sobre a vida e trajetória política de Guilherme Boulos. 

Origens e vida pessoal

Guilherme Castro Boulos nasceu em 19 de junho de 1982, na capital paulista, cidade onde atualmente disputa a prefeitura. Descendente de imigrantes libaneses e Filho de médicos, cresceu em um ambiente familiar de classe média alta comprometido com a saúde pública.

Sua mãe, Maria Ivete, foi selecionada para um internato no Hartford Hospital, em Connecticut, nos Estados Unidos, e fez residência em Doenças Infecciosas e Parasitárias no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), onde também concluiu seu mestrado em 1987. Atualmente, trabalha no mesmo hospital, coordenando o atendimento a vítimas de violência sexual.

Quanto ao seu pai, Marcos, ele construiu uma carreira focada no estudo de doenças infecciosas em populações carentes. Ele já atuou como diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e, atualmente, é professor na mesma instituição. Além disso, teve uma atuação relevante na Superintendência de Controle de Endemias (SUCEN). 

Atualmente, Guilherme Boulos reside no Campo Limpo, bairro periférico de São Paulo, junto com sua esposa Natália Szermeta, advogada com quem teve duas filhas. O casal se conheceu durante atividades de militância no MTST. 

Formação acadêmica de Guilherme Boulos

Conforme dados do Lattes, sistema de informações acadêmicas e profissionais, mantido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Boulos possui uma graduação e outras duas especializações. 

  • 2000 – 2006: graduação em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP);  
  • 2009 – 2011: especialização em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) – “O Lugar da Razão na Psicanálise”.
  • 2014 – 2019: mestrado em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (2017) – “Estudo sobre a variação de sintomas depressivos relacionada à participação coletiva em ocupações de sem-teto em São Paulo”.

Guilherme Boulos é professor desde 2006 e, entre 2014 e 2017, atuou como colunista da Folha de S. Paulo. Além disso, ele também contribuiu com artigos para a Revista Carta Capital e o portal IREE. O político atende pela autoria de três livros: “Por que ocupamos?” (2012), “De que lado você está?” (2015) e Sem Medo do Futuro (2022).

Primeiros contatos com questões sociais

Crescendo em uma família com poder aquisitivo acima da média brasileira, Guilherme Boulos conta que desde cedo observou um cenário social marcado pela segregação. Segundo o próprio, essa realidade o levou a conviver quase exclusivamente com colegas de uma escola privada, o que o fez perceber mais adiante as disparidades presentes na sociedade ao seu redor.

Boulos relata que seu despertar para as questões sociais surgiu, parcialmente, durante as partidas de futebol que frequentava durante sua infância. “Parte da minha consciência política eu ganhei no estádio”, contou político em entrevista ao podcast Podpah.

Na conversa, ele compartilhou uma experiência pessoal marcante em que presenciou um vendedor ambulante sendo agredido por um policial por não ter autorização para realizar suas vendas no local. 

Ativismo e movimentos sociais de Boulos

A militância de Guilherme Boulos, segundo o próprio, teve início aos 15 anos, quando ingressou no movimento estudantil, enquanto militante da União da Juventude Comunista (UJC). Ainda no tempo na escola, desenvolveu um grêmio estudantil e integrou um projeto de alfabetização em uma região favelizada em São Paulo. 

Durante o período da faculdade, Guilherme Boulos passou um ano e meio morando em um acampamento de sem-teto em Osasco, uma experiência que se repetiria em outros momentos de sua trajetória. O político defende que não é possível lutar pelas pessoas sem estar completamente imerso em suas realidades. 

Liderança do movimento dos trabalhadores sem-teto (MTST)

Bem articulado e um comunicador nato, Guilherme Boulos rapidamente se destacou nas pautas sociais, o que o levou à liderança do MTST. Fundado em 1997, o movimento objetiva principalmente a ocupação de terrenos urbanos ociosos para pressionar o poder público a implementar políticas habitacionais inclusivas.

À frente do MTST, Boulos começou a ter visibilidade nacional. Em 2003, ele ganhou destaque na mídia, quando coordenou a ocupação de um terreno da Volkswagen em São Bernardo do Campo. Sua notoriedade na imprensa se intensificou em 2014, durante as mobilizações sociais em torno da Copa do Mundo, sobretudo, pela Ocupação Copa do Povo. 

Carreira política

Em 2018, Boulos fez sua estreia na política eleitoral ao se candidatar à presidência da República pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Embora não tenha conseguido se destacar nas eleições, a campanha presidencial consolidou seu nome no cenário político nacional. 

Dois anos depois, em 2020, Boulos concorreu à prefeitura de São Paulo. Neste segundo momento, sua campanha foi marcada por um forte engajamento popular e por propostas de cunho social para a cidade. Ele chegou ao segundo turno, obtendo 40,62% dos votos, mas foi derrotado pelo então prefeito Bruno Covas

Em 2022, Boulos foi eleito deputado federal por São Paulo, sendo o mais votado do estado com mais de um milhão de votos. Enquanto parlamentar, ele é titular da Comissão de Desenvolvimento Urbano, onde tem promovido debates e propostas para melhorar a infraestrutura urbana, o transporte público e a sustentabilidade das cidades brasileiras. Agora em 2024, Boulos novamente se candidatou a prefeitura de São Paulo.

Influência no cenário político

Graças à sua reconhecida habilidade em comunicar ideias de maneira clara e envolvente, Guilherme Boulos se tornou um nome influente na política nacional. Nesse contexto, ele já foi até mesmo apontado entre os militantes de esquerda, como um potencial sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em sua estreia nas eleições para um cargo no poder legislativo, em 2022, Guilherme Boulos obteve uma impressionante vitória ao conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados com 1.001.472 votos. Esse resultado o tornou o deputado mais votado do estado e o segundo mais votado do país, destacando sua forte presença e apoio popular.

Em termos de reconhecimento, cabe elencar alguns destaques que ilustram a influência de Boulos: 

  • Medalha do Mérito Legislativo (2016): concedida pela Câmara dos Deputados de Brasília ao ativista.
  • Prêmio Santos Dias de Direitos Humanos (2017): recebido da Câmara Legislativa de São Paulo.
  • Time 100 Next (2021): incluído na lista dos cem líderes emergentes pela revista Time.

Polêmicas e destaques envolvendo Guilherme Boulos

Guilherme Boulos x André Janones

Um dos episódios mais polêmicos da atuação parlamentar de Guilherme Boulos envolveu sua relatoria em um processo contra o deputado federal André Janones (Avante-MG), acusado de praticar “rachadinha”, uma atividade ilegal que consiste na cobrança de parte dos salários de funcionários de gabinete. 

Como relator, Boulos apresentou um parecer recomendando o arquivamento do caso, decisão que gerou críticas e levantou questionamentos sobre sua postura diante de uma prática amplamente condenada. O parecer foi submetido à Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, e o episódio repercutiu tanto entre seus opositores quanto entre seus próprios apoiadores, gerando um debate sobre ética e transparência no exercício da função pública.

Fotos com membros do Hamas, fake?

Em outubro de 2023, começaram a circular imagens no X (antigo Twitter) em que Guilherme Boulos supostamente aparece posando ao lado de membros do grupo Hamas. Na ocasião, Boulos confirmou que esteve na Cisjordânia em 2018, mas afirmou que as imagens da viagem estavam sendo usadas para disseminar “fake news”.

Em investigação feita pelo Estadão, confirmou-se que o conteúdo, de fato, era enganoso. A foto divulgada nas redes sociais retrata Boulos ao lado de Juliano Medeiros e Frederico Henriques, ambos dirigentes do PSOL, desmentindo a associação com organização política e militar palestina.  

Relação com carros e patrimônio de Boulos

Durante as eleições para prefeito de São Paulo em 2024, uma cena peculiar chamou atenção nas redes sociais: Guilherme Boulos foi visto chegando à mansão da psicóloga e política Marta Suplicy a bordo de um “Celta prata”. O curioso, porém, foi que ele não estava dirigindo o veículo popular, o que gerou comentários e especulações.

Em meio a acusações infundadas de que Boulos possuiria bens muito mais luxuosos, contrastando com o carro modesto, o candidato declarou ao TSE um patrimônio de aproximadamente R$ 200 mil. Entre os itens declarados, estava o agora famoso “Celtinha prata”, avaliado em R$ 15.146, além de outros bens que reforçam sua postura de vida simples e alinhada aos princípios que defende publicamente.

  • 50% do imóvel em que reside, no valor de 171.758,00
  • Uma aplicação no CDB do Santander de 11.876,87; e
  • R$ 816 no saldo de sua conta corrente. 

Boulos e eleições para prefeito de São Paulo 2024

Como já mencionado, este ano marca a segunda tentativa de Guilherme Boulos de conquistar a prefeitura de São Paulo. Assim como em sua primeira candidatura, o político do PSOL conseguiu levar a disputa para o segundo turno, desta vez enfrentando Ricardo Nunes, do Movimento Democrático Brasileiro (MDB).

Em 2024, Boulos concorre pela coligação “Amor por São Paulo” (Federação PSOL Rede/Federação Brasil da Esperança – FE Brasil/PDT), tendo Marta Suplicy, do Partido dos Trabalhadores (PT), como sua candidata a vice.

No primeiro turno, a disputa pela prefeitura de São Paulo foi extremamente acirrada. Ricardo Nunes (MDB) liderou com 1.801.139 votos, representando 29,48% dos votos válidos, seguido de perto por Guilherme Boulos (PSOL), que obteve 1.776.127 votos, ou 29,07% dos votos válidos. Em terceiro lugar ficou Pablo Marçal (PRTB), com 1.719.274 votos, correspondendo a 28,14% dos votos válidos. 

Resumo do perfil político de Guilherme Boulos

Em síntese, Guilherme Boulos é um político, professor e escritor que se identifica e é reconhecido como um nome da esquerda no espectro político brasileiro. Enquanto uma figura do poder público, Boulos constantemente declara seu compromisso com a justiça social em suas inúmeras reivindicações, especialmente no que se refere ao déficit habitacional urbano.

Filiado ao PSOL, Boulos construiu uma carreira marcada pela combinação de liderança no ativismo social, especialmente à frente do MTST, e pela participação no processo eleitoral. Sua trajetória tem sido guiada pela defesa dos direitos dos mais vulneráveis, uma preocupação que ele ressalta frequentemente em suas declarações. 

  • Em 2018, concorreu à Presidência da República, porém, não ganhou; 
  • Em 2020, concorreu pela primeira vez à prefeitura de São Paulo, porém, não foi eleito; 
  • Em 2022, eleito como o segundo Deputado Federal mais votado do país; 
  • Em 2024, concorre novamente à prefeitura de São Paulo. 

Para aqueles que desejam acompanhar com mais profundidade o exercício do mandato de Guilherme Boulos no Congresso Nacional, é possível acessar seu perfil oficial na Câmara dos Deputados

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Lucas Machado

Redator do Melhor Investimento e psicólogo de formação, com mais de dois anos de experiência em redação de artigos relacionados aos mais variados assuntos e campos do saber.