Gripe Aviária no Brasil: quais os impactos econômicos?

A gripe aviária trouxe uma preocupação real para a economia brasileira, mais especificamente para o agronegócio e para as exportações.

Afinal, o país é o maior exportador mundial de carne de frango, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), e qualquer ameaça sanitária ao setor representa impactos diretos no PIB, na geração de empregos e até no preço dos alimentos.

Mas o que de fato está acontecendo? E como isso pode afetar sua vida, o mercado e os investimentos?

A seguir, você confere um panorama completo sobre o avanço da gripe aviária no Brasil e seus possíveis efeitos econômicos.

O que é a gripe aviária?

A influenza aviária, conhecida popularmente como gripe aviária, é uma doença viral causada, principalmente, pelo vírus H5N1, altamente patogênico e contagioso entre aves.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), a doença é transmitida entre aves migratórias, domésticas e, em situações excepcionais, para humanos que tenham contato direto com aves infectadas.

Ou seja, é improvável que um humano seja contaminado após o consumo da carne desse animal. O vírus é sensível ao calor e é eliminado durante o cozimento (acima de 70ºC).

Onde foram registrados casos de gripe aviária?

O vírus circula globalmente, com surtos registrados nos Estados Unidos, Europa, Ásia e América Latina desde 2021, causando perdas econômicas bilionárias em diversos países.

No Brasil, até então, a doença estava restrita a aves silvestres. Contudo, a recente confirmação de casos em aves comerciais no Rio Grande do Sul elevou o risco sanitário e econômico.

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Primeiros casos confirmados no Brasil

Casos em aves comerciais

Em maio de 2024, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) confirmou os primeiros casos em aves de subsistência e em pequenos plantéis comerciais no Rio Grande do Sul.

Antes disso, todos os registros estavam restritos a aves silvestres, especialmente em áreas costeiras. A mudança do perfil dos casos acendeu um alerta máximo para o setor produtivo.

Regiões afetadas

O surto não ficou restrito ao Rio Grande do Sul. Casos suspeitos e confirmados foram identificados também em Santa Catarina, Paraná e até em partes do Sudeste, segundo o boletim epidemiológico da ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Esses estados respondem por mais de 60% da produção nacional de carne de frango e ovos, tornando a situação ainda mais sensível para a economia.

Consequências potenciais da gripe aviária no Brasil

Setor agropecuário

O primeiro impacto visível é direto no setor produtivo. O protocolo de contenção exige medidas rigorosas:

Abate sanitário de plantéis inteiros nas áreas afetadas;
Interdição temporária de granjas;
Restrição na movimentação de animais, ovos e subprodutos.

A ABPA estima que, caso o surto não seja controlado, a produção de carne de frango pode ter uma redução de até 5% em 2025, resultando em um efeito cascata: perda de empregos, queda na renda agrícola e aumento dos custos de produção.

Além disso, os custos com biosseguridade, que já são elevados no Brasil, devem subir ainda mais, pressionando a margem de lucro dos produtores.

Impacto na exportação

O Brasil, líder global na exportação de carne de frango, está especialmente vulnerável. A confirmação da gripe aviária em granjas comerciais aciona embargos sanitários automáticos por parte de países importadores.

China, Japão, União Europeia e Arábia Saudita, que juntos representam mais de 50% das exportações brasileiras de carne de frango, já sinalizaram a possibilidade de bloqueios temporários, conforme divulgou a própria ABPA em nota pública.

Se o cenário se agravar, os impactos podem ser robustos:

Perda de bilhões em receitas externas;
Pressão sobre o câmbio, podendo afetar a cotação do dólar;
Reflexo direto no PIB agropecuário e industrial brasileiro.

Segundo cálculos da Fundação Getulio Vargas (FGV), a cada US$ 1 bilhão perdido em exportações, o PIB brasileiro pode ser impactado em até 0,05%.

Influenza aviária e a saúde pública

Embora o risco de transmissão para humanos seja considerado baixo, ele não é nulo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o H5N1 pode, em casos muito específicos, infectar humanos que tenham contato próximo com aves doentes, suas fezes ou secreções.

Por outro lado, é importante destacar que não há risco de transmissão pela ingestão de carne de frango ou ovos devidamente cozidos.

O Ministério da Saúde reforça que os casos humanos são extremamente raros e que o Brasil mantém protocolos rígidos de vigilância sanitária e de saúde pública.

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Ações do governo e vigilância

Diante do avanço dos casos, o governo federal, por meio do MAPA, adotou as seguintes medidas emergenciais:

Decretação de estado de emergência zoossanitária em todo o território nacional por 180 dias;
Intensificação da fiscalização em fronteiras, portos e aeroportos;
Monitoramento permanente de aves migratórias, granjas e plantéis de subsistência;
Parceria com estados, municípios e produtores para controle e contenção dos focos.

A ABPA também destacou que o Brasil possui um dos sistemas de vigilância sanitária mais rigorosos do mundo, o que aumenta a confiança dos mercados internacionais no país.

O preço dos alimentos será afetado?

A resposta curta é: sim, é possível.

Quando há restrição na oferta de frango e ovos, os preços tendem a subir. Além disso, ocorre um efeito secundário, conhecido como substituição de proteína, quando consumidores migram para carnes bovina e suína, pressionando também esses mercados.

De acordo com um levantamento da FGV:

Uma queda de 10% na oferta de frango pode gerar uma alta de até 7% nos preços no mercado interno.
O preço dos ovos já registra elevação de 4% nas últimas semanas, conforme o Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

Se o surto não for controlado, é provável que a inflação dos alimentos suba, pressionando ainda mais o custo de vida dos brasileiros.

Principais dúvidas sobre a gripe aviária

A gripe aviária oferece risco ao consumo de carne e ovos?
Não, desde que estejam devidamente cozidos. O calor elimina o vírus.

Pode ser transmitida entre humanos?
Não há transmissão sustentada entre pessoas. Os casos humanos são raríssimos e ocorrem apenas por contato direto com aves infectadas.

O Brasil perderá o status de livre da doença?
Depende. Se os casos permanecerem restritos às aves silvestres ou de subsistência, o status de livre da gripe aviária em plantéis comerciais é mantido.

O surto é controlável?
Sim, desde que sejam mantidas e reforçadas as ações de vigilância, isolamento e abate sanitário.