A semana começou agitada no EUA, com a notícia de que o Presidente americano Donald Trump demitiu a Governadora do FED, Lisa Cook, que foi indicada pelo ex-Presidente Joe Biden e que tinha um discurso mais hawkish (contracionista), fazendo quórum pela manutenção da taxa de juros no patamar atual por mais tempo.

Notícia da Bloomberg Linea sobre a demissão de Lisa Cook

Com essa mudança, Trump passa a ter a maioria dos indicados votantes no board do FED, o que aumenta a chance de termos cortes de juros nas próximas reuniões do FOMC.

A notícia gerou pressão sobre o dólar, puxando o DXY e a bolsa para baixo e os juros longos para cima. A dúvida que ficou para o mercado tem relação com a credibilidade do FED, ou seja, se o Banco Central americano continuará tomando decisões técnicas ou se o risco de influência política em suas decisões pode levar a economia americana a um novo repique inflacionário.

Saiba mais:

Na sexta-feira (22), o presidente do FED, Jerome Powell, deixou aberta a porta para um corte de juros em setembro durante sua coletiva no Simpósio de Jackson Hole, mudando o discurso que outrora focava mais na robustez da economia americana e nas incertezas tarifarias para justificar a manutenção da taxa de juros no patamar atual por mais tempo.

Esse novo posicionamento, agora com receios em relação ao mercado de trabalho e com mais clareza em relação aos impactos das tarifas, resultou em 90% do mercado precificando um corte de juros na reunião de setembro, o que animou as bolsas pelo mundo no fechamento da última semana.

Contudo, antes da próxima reunião do FOMC em setembro, temos a divulgação de dois indicadores econômicos muito importantes, quais sejam, o PCE e o Payroll, que devem nortear as expectativas do mercado.

Acabou a desinflação no EUA?

Um deles foi divulgado na última sexta (29). O PCE, principal índice de inflação que o FED utiliza na condução da sua política monetária, veio em linha com a expectativa do mercado, com o headline em 0,2% e o núcleo (exclui componentes mais voláteis) em 0,3%.

O mercado reagiu de forma negativa ao dado, que reforçou o receio de que a inflação americana está lateralizada acima da meta do FED.

Gráfico do Igor Mundstock com informações do FRED acerca do PCE

Atualmente, temos um conflito dentro do duplo mandato do FED (estabilidade de preços e máxima empregabilidade), onde temos um mercado de trabalho desacelerando e uma inflação persistente acima da meta do FED, o que coloca o Banco Central americano em uma situação delicada. Cortar os juros e arriscar uma nova pressão inflacionaria ou manter a taxa alta por mais tempo e arriscar ver o mercado de trabalho acelerar sua deterioração? A título de comparação, quando o FED cortou os juros em 2024 o PCE nos EUA estava em 2,1%. Hoje, está em 2,6%.

A dúvida que fica no mercado é: o FED realmente tem espaço para cortar juros em setembro?

Prévia do IPCA no Brasil

Na segunda-feira (25) tivemos a divulgação do IPC-15, uma prévia da inflação mensal que considera a primeira quinzena do mês. O dado veio em -0,14%, acima do consenso que era de uma deflação de 0,2%. O desconto na energia elétrica foi o principal motivador do dado deflacionário.

Os núcleos seguem no patamar de 0,3% (média móvel de 3 meses anualizada em 3,8%) e serviço subjacente acelerou para 0,55%, o que demanda cautela para o Banco Central. Alimentos e transportes seguem em queda o que ajuda o IPCA de 12 meses a desacelerar para 4,95%.

O mercado hoje precifica um primeiro corte de juros no Brasil para janeiro de 2026, mas há quem acredite que podemos ter cortes a partir de dezembro de 2025.

Contas do Governo: no “fundo”, tinha um alçapão

O que mais chamou a atenção do mercado na semana foram os dados referentes às contas do Governo e às Estatais.

Na última segunda-feira (25), tivemos a divulgação das transações correntes, que vieram abaixo do consenso em 7bi negativo. Os dados mostraram que o saldo da conta corrente vem piorando rapidamente, muito em virtude da queda do investimento estrangeiro e do sobreaquecimento da economia brasileira, que hoje importa mais do que exporta.

Historicamente, o saldo negativo entre a conta corrente e os investimentos diretos turbinou a alta do dólar. Será que esse movimento vai se repetir?

Para piorar, o Tesouro Nacional divulgou na quinta-feira (28) o relatório das contas do Governo Federal, que registrou um déficit de R$ 59 bilhões, o segundo maior da história para o mês de julho, perdendo apenas para julho de 2020 (pandemia). O número foi impulsionado por uma alta de 28,3% nas despesas, em comparação com o mesmo período de 2024. As despesas aumentaram devido a maiores desembolsos com benefícios previdenciários (+26,8%) e pessoal e encargos sociais (+17,9%).

No acumulado dos primeiros sete meses de 2025, o déficit primário foi de R$ 70,270 bilhões, comparado a R$ 76,240 bilhões no mesmo período de 2024. A meta fiscal para 2025 é de déficit zero, com uma tolerância de 0,25 ponto percentual do PIB, equivalente a cerca de R$ 31 bilhões, ou seja, no momento, estamos R$ 39 bilhões fora da meta.

Para finalizar a semana, na sexta (29), o Banco Central divulgou o relatório “estatísticas fiscais”, que registrou o maior prejuizo da história das estatais brasileiras, isso com apenas 7 meses do ano. Em 2024, as estatais brasileiras já tinham batido o recorde com R$ 8,07bi de prejuizo, valor este que foi superado agora em 2025 com um prejuizo de R$ 8,28 bilhões aos cofres públicos.

Gráfico do Igor Mundstock com informações do Banco Central do Brasil sobre o resultado consolidado das estatais

Quando olhamos os números, verificamos uma economia brasileira operando com hiato do produto positivo, taxa de desemprego na mínima histórica e um PIB projetado de 2,3% de acordo com o FMI. Esses dados sugerem uma economia aquecida, o que demonstra o espaço que o Governo Federal possui para cortar gastos com estímulos fiscais.

Nesse ritmo de crescimento dos gastos, a inflação pode continuar acima da meta, apresentando uma desaceleração bem mais lenta do que poderia ocorrer, enquanto a taxa de juros permanecerá alta, com pouco espaço para cortes. É o cenário onde temos um cabo de guerra entre a política monetária restritiva e a política fiscal expansionista.

A pergunta que fica no Brasil é: a irresponsabilidade fiscal do Governo Federal permitirá que o Banco Central corte os juros no Brasil ainda em 2025?

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Bruno Issa