Essa semana foi marcada por um dos vídeos mais estranhos vindo do nosso chefe do executivo. Vídeo esse em que o mesmo alega que “É só não comprar” ou “substituir” quando algo estiver caro no mercado:

Difícil ter que ouvir isso na atual situação do país. Não tem 40 dias de ano e a quantidade de imposto paga já está nas alturas. Será que vamos insistir na tal vilania do empresário médio padrão?

Vamos esquecer os grandes grupos varejistas e focar no dono do mercadinho do bairro. O cara já não consegue comprar no volume dos grandes, o que faz com que seu preço seja maior e, automaticamente, mais caro pro consumidor final. Mas a gente entende… É melhor comprar na esquina de casa por alguns centavos mais caro do que andar 20 minutos e comprar no mercadão.

Só que não para por aí. O que eram centavos de diferença, tornam-se reais. Impostos, manutenção, avarias… São tantos fatores que encarecem que fica difícil não repassar isso, e acredite, o preço será SEMPRE repassado ao consumidor.

Você, consumidor, acha um absurdo. Vai pra casa fulo da vida com o tal grande capitalista do mercadinho do bairro pensando “Ele não quer vender né?! Só pode”. Dorme com raiva daquele monstro explorador da classe trabalhadora que quer impor preços absurdos e injustos para se manter no topo da pirâmide burguesa.

Aí chega em casa, já estressado depois de um dia de trabalho em que teve que pagar 20 reais na quentinha porque esqueceu a marmita em casa, liga a televisão e vê o presidente dizer que “Se ninguém comprar, os produtos vão estragar e eles serão obrigados a baixar o preço”. Pronto, tá corroborada a sua opinião. Os porcos burgueses estão inflacionando propositalmente os produtos para aumentar o lucro.

Todos os donos de mercado, nesse cenário, se uniram em prol de prejudicar o povo brasileiro com tamanha maldade que chegam a aumentar o preço de produtos básicos para a manutenção da vida do afegão médio só pra lucrar mais. Arroz, feijão, açúcar, macarrão, café. Tudo mais caro e só porque eles querem! Que maldade…

Não existe preço do dólar nessa hora. Não existe gastos irresponsáveis do Estado e uma necessidade maior de arrecadação por imprudência fiscal. Não existe taxa Selic nas alturas para conter o fantasma inflacionário. Isso é coisa que só favorece quem está no mercado financeiro! Afinal, o salário mínimo aumentou, certo?

Você, trabalhador brasileiro, quer apenas comprar suas coisinhas e tomar sua cervejinha no final de semana! Dane-se a Selic, dólar e tudo mais. O que você não quer é empresário malvado aumentando o preço de propósito visando apenas lucro. O resto que os esclarecidos resolvam, certo?

Para fim dessa ironia, eu, como homem “engravatado” do mercado financeiro, afirmo para ti, meu querido(a) leitor: É nessas horas que você entende porque precisa saber sobre selic, dólar, inflação

É pra não chegar em casa e ver um senhor em seus cabelos grisalhos colocar a conta nas costas dos tais ‘capitalistas’, que apenas refletem nos preços de seus produtos o que acontece no cenário econômico do país.

Deve haver por aí uma gama de empresários que inflacione propositalmente seus produtos para lucrar mais? Claro que sim! Mas é muita conveniência dizer “não compre” ou “substitua” quando está todo mundo reclamando dos preços ao mesmo tempo. E quando eu digo todo mundo, é TODO MUNDO. Empresário, funcionário, classe A, B e C, ministro, advogado, mecânico, juiz do STF… Todo mundo, menos o presidente! Até porque, para ele, a Selic tinha que baixar, já que a inflação esta controlada…

Gabriel Correia

Assessor e mentor de investimentos desde 2020 e investidor desde 2016, Gabriel Correia dedica seus estudos ao que chama de "análise realista", separando tradicionais discursos ilusórios da realidade dos investimentos. Atualmente, é sócio no escritório InvestSmart, vinculado à XP, e colunista de empreendedorismo e investimentos do Melhor Investimento.