Se você acompanha os noticiários, já deve ter ouvido diversos termos econômicos que definem movimentos diferentes nos preços e na economia, entre esses termos está a palavra deflação. Você sabe o que ela significa? Caso não, não se preocupe, preparamos este artigo com o propósito de contribuir com a sua educação financeira!

Assim como a inflação, a deflação é utilizada como um termômetro da economia. Mas como “tudo em excesso faz mal”, quando há uma subida considerável em um desses indicadores ou uma queda acentuada em outro — e por um período persistente — é necessário atenção, pois indica que algo está errado no funcionamento do sistema econômico do país.

Como ambos os movimentos possuem um grande impacto na vida dos brasileiros e investidores, é de suma importância que todos os conheçam.

Nesse artigo, trataremos especificamente do fenômeno de deflação: o que é, qual a diferença entre deflação, inflação e desinflação, o momento atual do Brasil, quais métricas são utilizadas para realizar o cálculo desse fenômeno e como esse movimento pode impactar os investimentos. Se esse tema te interessa, continue a leitura!

O que é deflação

O conceito utilizado pela maior parte dos economistas é que deflação é a queda generalizada dos preços. Para que um momento econômico seja nomeado como “movimento deflacionário”, a queda dos preços deve englobar os principais produtos e serviços do país. Ou seja, quando a retração ocorre em poucos setores, mesmo que influencie negativamente os índices inflacionários, não pode ser considerado como deflação.

Além disso, de acordo com especialistas, um recuo que acontece de forma pontual ou por um curto período de tempo — como dois ou três meses — também não configura como deflação, pois muitos fatores podem impactar de forma passageira o valor de alguns produtos.

Quando observado que a queda dos preços permanece por um período maior e isso impacta de forma significativa o poder de compra da moeda e a oferta e demanda, então é entendido como um período deflacionário.

Qual a diferença de deflação para inflação

Tanto a inflação quanto a deflação são conceitos econômicos que dizem respeito à variação dos preços de produtos e serviços. A primeira representa o aumento de preços, enquanto a segunda caracteriza a queda dos preços.

A deflação simboliza um alívio no orçamento das famílias, principalmente dos mais pobres. No entanto, quando a queda é expressiva e perdura por um longo prazo pode ter um impacto negativo para o sistema econômico — inclusive, na oferta de empregos.

Com a inflação ocorre a mesma avaliação: pode ser positiva, se controlada. Já em níveis altos e contínuos reduz o poder de compra das famílias — a população precisa gastar mais para comprar os mesmos produtos e utilizar os mesmos serviços — e gera um efeito cascata de consequências nocivas ao país.

Por isso, especialistas do Ministério da Economia realizam análises profundas e constantes e, a partir disso, adotam políticas de contenção do processo inflacionário ou deflacionário. E não é apenas o governo que toma decisões nesses casos, o Banco Central (BC) também pode adotar medidas, como a diminuição ou aumento da taxa básica de juros (Selic).

Qual a diferença entre deflação e desinflação?

Enquanto a deflação representa a queda generalizada de preços de bens e serviços de forma contínua e por um período razoavelmente longo. A desinflação simboliza a redução do ritmo da inflação — em outras palavras, a desinflação ocorre quando os preços estão subindo, mas em um ritmo menor do que identificado anteriormente.

Um exemplo de desinflação recente: em abril de 2023 a inflação estava em 0,61%, já no mês seguinte diminuiu para 0,23%. Ou seja, continuou dentro de um processo inflacionário, mas com impacto menor que no mês anterior.

O Brasil tem tido inflação ou deflação?

De acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a inflação de setembro ficou em 0,26%. Sendo que nos meses anteriores os percentuais foram:

agosto – 0,23%

julho – 0,12%

junho – -0,08% (deflação)

maio – 0,23%

abril – 0,61%

março – 0,71%

fevereiro – 0,84%

janeiro – 0,53%

Os dados apontam que, até o mês de setembro, houve uma inflação acumulada de 3,50% no ano de 2023. Já na soma dos últimos 12 meses, o percentual está em 5,19%.

No entanto, é importante pontuar que essa informação corresponde a uma média ponderada de 377 produtos e serviços, que é atualizada de tempos em tempos, e abrange nove segmentos: alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência, educação, despesas pessoais, saúde, transportes, comunicação e vestuário. Além disso, cada região do país é impactada de formas diferentes pelas variações dos preços.

Por exemplo, segundo a Agência Brasil, a capital do Maranhão, São Luís, apontou uma inflação de 0,50% em setembro — puxado pelo aumento no valor da energia elétrica (10,74%) e do arroz (4,09%). Enquanto a capital de Goiás, Goiânia, apresentou uma deflação de 0,11% no mesmo período — impactada também pelo preço da energia elétrica, que teve uma retração de 2,97%.

Considerando que a meta do Conselho Monetário Nacional (CMN) para a inflação de 2023 é de 3,25%, o país está passando por um período inflacionário que coincide com o percentual estipulado, visto que até o mês de setembro o acumulado está em 3,50% e a resolução aponta um intervalo de tolerância de 1,50 p.p (um e meio ponto percentual), tanto para cima quanto para baixo.

Quando falamos dos grupos de forma individual, o fenômeno muda. Os alimentos são o segmento de maior peso no cálculo da inflação e apresentam queda há quatro meses: junho (-0,66%), julho (-0,46%), agosto (-0,85%) e setembro (-0,71%). Há especialistas que já caracterizam o movimento como deflacionário. Enquanto outros defendem que é necessário pelo menos um ano de retração nos preços para identificar um período de deflação.

Vários fatores podem impactar o valor dos produtos alimentícios, como uma safra maior do que o esperado, uma redução no preço dos combustíveis — o que ocasiona diminuição nos gastos com transporte dos alimentos —, a taxa de juros alta que pode impactar o poder de compra das famílias, reduzindo a demanda dos alimentos e o valor nas prateleiras.

Então, em um contexto geral, o país está em um período de inflação. Mas em segmentos, regiões e para classes sociais específicas a avaliação é diferente.

Se for considerado, por exemplo, que determinada classe econômica gasta mais com o segmento “alimentação no domicílio” do que com “passagens aéreas”, percebemos que alimentos mais baratos proporcionam que essas famílias com menos recursos possam comprar mais. 

Já quando as passagens aéreas ficam mais caras, como aconteceu em setembro, com um aumento de 13,47%, isso significa que famílias que possuem mais recursos podem acabar viajando menos.

Para acompanhar mensalmente os dados da sua região ou do setor que te interessa, consulte a seção “releases” do site do IBGE.

O que gera deflação

Aumento da taxa de juros

Quando o país passa por um momento de inflação alta, a tendência é que o Banco Central (BC) aumente a taxa de juros (Selic), visto que com o crédito mais caro há uma redução no consumo, pois os produtos e serviços tendem a encarecer também. 

Isso faz com que a demanda diminua em relação a oferta e algum tempo depois os preços comecem a cair.

O Brasil atravessou um momento de redução na taxa básica de juros entre os anos de 2019 e 2021. Depois, o BC passou a aumentar a taxa a cada reunião até que passasse de 1,90% a.a. para 13,65% a.a. A Selic permaneceu assim por onze meses. Apenas recentemente, nas duas últimas reuniões, a taxa sofreu uma redução, caindo para 13,25% e depois 12,75% a.a.

Somente a taxa de juros não influencia um movimento deflacionário, mas pode colaborar para isso, principalmente se a Selic permanecer alta mesmo após a inflação ter diminuído.

Redução na circulação de moeda

Quando há uma falta de confiança no mercado, a população tende a guardar dinheiro ao invés de gastar. Isso faz com que haja uma redução na circulação de moeda, diminuindo o valor das mercadorias — na tentativa de que os consumidores voltem a comprar.

Redução da demanda

Uma das principais causas da deflação é quando há mais itens à venda do que as pessoas estão dispostas ou têm condições de comprar. Um momento em que pudemos observar esse movimento foi durante a pandemia. 

Uma parcela considerável da população perdeu o emprego, o que transformou seus hábitos de consumo: só compraram itens básicos por muitos meses consecutivos e cortaram os gastos considerados supérfluos.

Excesso de oferta

Outra situação que pode incentivar o movimento deflacionário é a produção em excesso de determinado item. Por exemplo, quando há uma safra de batata que rende além do esperado e a demanda pelo alimento é menor, ou seja, não corresponde ao tamanho da safra, o valor do produto tende a cair.

Deflação é bom ou ruim para a economia

A deflação pode ter impactos positivos e negativos na economia. Por um lado, ela ocasiona a redução da inflação, o que pode beneficiar os consumidores, que terão mais poder de compra

Principalmente se a deflação tiver maior impacto no segmento “alimentação no domicílio”, que inclui: batata, feijão, tomate, leite, cebola, ovo… Visto que as famílias mais pobres gastam o valor de sua renda com alimentos de forma mais proporcional que as famílias mais ricas.

Por outro lado, a queda excessiva dos preços faz com que empresas tenham que cortar gastos, o que pode gerar um aumento no desemprego e a longo prazo causar uma recessão econômica.

Tanto a inflação quanto a deflação possuem papéis importantes dentro de um sistema econômico, mas precisam ter participações dosadas.

Quais métricas indicam a deflação

A deflação é calculada da mesma forma que a inflação. No Brasil, há diversos índices que medem as variações de preços. No entanto, há um em específico que é utilizado como referência quando falamos de inflação e deflação: o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), que é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O cálculo do IPCA é feito da seguinte forma:

  • O IBGE coleta os preços de uma cesta de bens e serviços em 30 mil locais distribuídos em 13 áreas urbanas do país. Na conta é levado em consideração aproximadamente 430 mil preços;
  • os preços coletados são comparados com os preços do mês anterior;
  • a variação dos preços é calculada para cada produto ou serviço;
  • é feita uma ponderação de acordo com a importância de cada produto ou serviço no consumo;
  • a média ponderada das variações de preços é o IPCA.

Além do IPCA, existem outros índices de preços que podem ser utilizados para averiguar a saúde econômica do país, como o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor), que considera a variação do custo de vida médio apenas de famílias com renda mensal de 1 a 5 salários mínimos.

Como a deflação impacta o mundo dos investimentos

Redução dos rendimentos dos investimentos

Quando os preços estão caindo, os rendimentos dos investimentos indexados à inflação também tendem a cair. Por isso, quando há um período deflacionário, o rendimento real dos investimentos também cai. Mas, para investidores que aplicam visando o longo prazo, normalmente essas oscilações não causam estragos.

Aumento do risco dos investimentos

A deflação pode aumentar o risco dos investimentos, pois pode levar a uma recessão econômica. 

Em uma recessão, as empresas desenvolvem dificuldades financeiras, o que pode se transformar numa bola de neve: a distribuição de dividendos diminuir (ou zerar), isso ocasiona um movimento grande de venda de ações, consequentemente o valor dos ativos diminui e tudo isso impacta diretamente a carteira dos investidores que aplicam naquela companhia.

Em resumo, a deflação pode ter impactos significativos no mundo dos investimentos. Os investidores devem estar cientes desses impactos para tomar decisões de investimento informadas.

E agora que você já sabe tudo sobre deflação, convidamos a conferir mais um conteúdo preparado por nosso time de especialistas. Desta vez, falamos sobre Taxa Selic: o que é e qual sua relação com os investimentos?

Resumindo

O que é deflação?

Deflação é a queda generalizada dos preços de bens e serviços. Esse fenômeno econômico pode ser causado por uma série de fatores, como recessão econômica, excesso de oferta ou redução dos custos de produção.

Qual a diferença entre deflação e inflação?

Inflação é o aumento generalizado dos preços, enquanto deflação é a queda generalizada dos preços. Ambos são identificados quando a alteração nos preços se estende por um longo período. Impactos pontuais nos preços não são caracterizados como inflação ou deflação.