Payroll nos EUA surpreende em vagas, mas salários decepcionam
Relatório mostra geração de empregos acima do esperado, mas avanço do desemprego e salários mais fracos mantêm leitura cautelosa sobre a economia americana.
Angela Weiss | Afp | Getty Images (Reprodução CNBC Internacional)
O relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll) divulgado na última terça-feira (16) trouxe um sinal misto ao mercado em novembro. A economia americana criou 64 mil vagas, acima da expectativa de 50 mil, mas o avanço do desemprego e a fraqueza dos salários reforçaram a leitura de desaceleração gradual da atividade.
Apesar da surpresa positiva na geração de postos de trabalho, o dado mantém a tendência de perda de fôlego observada em outros indicadores do mercado de trabalho, como o ADP e o Jolts, que vêm apontando menor dinamismo nas contratações.
Desemprego nos EUA sobe ao maior nível desde 2021
A taxa de desemprego subiu de 4,4% para 4,6%, acima do consenso de 4,5%, alcançando o maior nível desde novembro de 2021. Ainda assim, o patamar segue historicamente baixo. Parte dessa alta foi influenciada pelo avanço da taxa de participação, que passou de 62,4% para 62,5%, indicando mais pessoas voltando a buscar emprego, embora ainda abaixo do nível pré-pandemia (63,3%).
Salários mais fracos
No campo dos rendimentos, os salários por hora trabalhada cresceram apenas 0,1% no mês, abaixo da projeção de 0,3%. O resultado mais fraco reduz as pressões inflacionárias via mercado de trabalho e reforça a percepção de um esfriamento gradual da economia.
Leia também:
Analista vê dados mistos após impacto do shutdown
Para Sara Paixão, analista de macroeconomia da InvestSmart, o conjunto de informações exige cautela na leitura.
“O payroll surpreendeu positivamente na criação de vagas, mas a alta do desemprego e as revisões recentes mostram um quadro misto. Os dados de setembro e outubro foram fortemente afetados pelo shutdown, o que comprometeu a coleta integral das informações”, afirma.
Segundo a analista, também pesou a divulgação de que outubro registrou a perda de 105 mil vagas, o que distorce a análise mês a mês. “Por isso, o mercado não recebeu um sinal claro sobre a trajetória do emprego”, avalia.
Payroll e política monetária: impacto nas decisões do Fed
Os números do mercado de trabalho seguem no radar do Federal Reserve, por seu impacto direto na inflação e na política monetária. Após o último corte de 0,25 ponto percentual, o presidente do Fed, Jerome Powell, destacou que aumentaram os riscos de uma desaceleração mais rápida do emprego do que a prevista inicialmente.
Expectativas para juros nos EUA seguem praticamente estáveis
Mesmo assim, as expectativas para os próximos passos da autoridade monetária pouco mudaram. A curva de juros segue precificando uma taxa próxima de 3% ao longo do próximo ano, enquanto, para a próxima reunião, o mercado atribui maior probabilidade de manutenção dos juros, diante do discurso ainda cauteloso do banco central.
O payroll, portanto, reforça a narrativa de transição: um mercado de trabalho que ainda resiste, mas dá sinais crescentes de perda de tração.
Saiba mais sobre os juros americanos:
Achou este conteúdo útil? Siga o Melhor Investimento nas redes sociais:
