Investigações recentes indicam que emendas parlamentares de Flávio Bolsonaro e da deputada Chris Tonietto podem ter sido usadas de forma irregular em projetos esportivos para crianças no Rio de Janeiro. Recursos destinados ao projeto Jogadores do Futuro e ao Vencedores do Futuro, realizados pelo Instituto de Formação Profissional José Carlos Procópio (Ifop), apresentam indícios de desvio de verba pública e superfaturamento na compra de chuteiras, uniformes e acessórios esportivos.

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Indícios de desvio em emendas parlamentares

O caso envolve emendas parlamentares de Flávio Bolsonaro (PL-RJ), no valor de R$ 200 mil, destinadas ao projeto Jogadores do Futuro, e de Chris Tonietto (PL-RJ), que liberou R$ 300 mil para o projeto Vencedores do Futuro. Ambos os projetos foram realizados pelo Ifop, uma ONG com sede em Jacarepaguá, na zona oeste do Rio, que até então nunca havia recebido recursos públicos.

Documentos obtidos pela reportagem mostram que os valores investidos foram usados na aquisição de 212 chuteiras e porta-chuteiras, além de uniformes e acessórios esportivos, mas não há comprovação da entrega desses materiais às crianças beneficiadas. Pais de alunos confirmaram que os filhos nunca receberam o equipamento prometido, enquanto imagens anexadas aos relatórios da ONG mostram crianças usando tênis comuns ou chinelos.

O levantamento aponta que os gastos com materiais esportivos chegaram a mais que o dobro do valor de mercado, resultando em um prejuízo estimado de R$ 52,8 mil, equivalente a mais de um quarto da emenda de Flávio Bolsonaro. No caso da emenda de Chris Tonietto, o superfaturamento e a falta de entrega dos itens somam cerca de R$ 80 mil.

Problemas na execução dos projetos

Os projetos ocorreram entre março de 2024 e fevereiro de 2025 e foram executados pelo Ifop após parceria com o Ministério do Esporte, formalizada em outubro de 2023. Apesar disso, a ONG não apresentou documentação que comprove a entrega de chuteiras, porta-chuteiras, uniformes, camisas, calções, meias e coletes adquiridos com as emendas.

O Ministério do Esporte informou que os projetos ainda passam por análise técnica, podendo resultar em notificações caso sejam identificadas irregularidades. O Ifop, por sua vez, afirmou que realizou as compras pelo menor preço e seguiu cotação de mercado, mas não explicou a ausência de comprovantes de entrega.

Pais de alunos e moradores locais reforçam a ausência de equipamentos e destacam que a execução do projeto não corresponde ao que estava previsto nos relatórios financeiros.

Empresa fornecedora ligada a outra ONG

Todos os materiais foram adquiridos da empresa TH3 Comércio e Serviços, criada em 2022 e sediada no apartamento da proprietária Thamyres Pessoa Gonçalves Corrêa, em Nova Iguaçu. A TH3 recebeu R$ 194,1 mil das emendas de Flávio e Tonietto.

Além disso, Thamyres é diretora do Instituto Educarte, ONG que recebeu R$ 4 milhões em emendas do ex-deputado Chiquinho Brazão. Em um dos contratos, as notas fiscais indicaram a entrega de 2.480 camisetas, o dobro da quantidade necessária, com preço mais que o dobro do praticado no mercado. A fornecedora justificou que os custos consideraram personalização, prazos de entrega e encargos adicionais.

Relação com Chiquinho Brazão e caso Marielle Franco

O Ifop também foi mencionado em investigações da Polícia Federal ligadas ao assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. Em mensagens obtidas pela PF, o ex-assessor de Chiquinho Brazão, Robson Calixto Fonseca, solicitou a uma assessora de Flávio Bolsonaro que o projeto da ONG não fosse interrompido.

Apesar disso, Flávio Bolsonaro não se manifestou sobre o caso, enquanto Chris Tonietto afirmou que visitou os núcleos do projeto e constatou a realização das atividades e a aquisição de materiais esportivos.

Brazão e Fonseca seguem presos, aguardando julgamento no STF, e negam participação nos assassinatos, sem comentar a relação com a execução das emendas parlamentares.

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