O Habib’s representa ao mesmo tempo uma lembrança afetiva e um desafio estratégico no mercado brasileiro de alimentação rápida. A rede, conhecida por popularizar a esfirra e conquistar grande escala com preços acessíveis, enfrenta agora a necessidade de se reposicionar diante de mudanças profundas no comportamento do consumidor, na competição por delivery e na gestão da sua rede de franquias.

O Melhor Investimento avalia os fatores por trás da rápida expansão do Habib’s e os desafios que a rede enfrenta atualmente. Continue lendo!

Breve histórico: do começo humilde ao fenômeno nacional

O Habib’s nasceu em 1988, em São Paulo, e rapidamente virou caso de sucesso na alimentação rápida ao popularizar a esfiha e outros pratos de inspiração árabe, um produto barato, padronizado e com forte apelo popular. A história institucional da rede registra esse início e sua expansão em décadas posteriores.

Nos anos 2000, o Habib’s chegou a operar centenas de unidades em todo o país e se consolidou como uma marca de massa, conhecida por preços baixos e grande presença em capitais e cidades médias.

Hoje, no entanto, há divergência sobre o número exato de lojas. Levantamentos e reportagens especializadas apontam pouco mais de 300 unidades em 2024.

Já outras fontes e compilações mais recentes listam números superiores, na casa de 400+. A diferença reflete variações no critério de contagem, lojas próprias, franqueadas ativas, quiosques e até unidades temporárias.

Por que o Habib’s se destacou no Brasil e no mundo?

O sucesso do Habib’s nas décadas de 1990 e 2000 não foi por acaso. A rede conseguiu se destacar ao combinar três pilares que, juntos, criaram uma fórmula quase imbatível: preço baixo, expansão em larga escala e conveniência no atendimento.

Preço como vantagem competitiva

O principal atrativo sempre foi o custo acessível. A famosa esfirra de poucos centavos marcou época e garantiu alto volume de vendas.

Essa estratégia transformou o Habib’s em sinônimo de alimentação barata e popular, principalmente entre as classes C e D, que encontravam na rede uma opção frequente e possível de repetir várias vezes ao mês.

Padronização e franquia

Outro ponto decisivo foi o modelo de expansão. Ao apostar nas franquias, a marca conseguiu crescer rapidamente em capitais e cidades médias, garantindo presença nacional e reconhecimento da marca.

Essa replicação padronizada deu consistência ao negócio, transmitindo ao consumidor a ideia de que em qualquer Habib’s a experiência seria semelhante.

Pioneirismo em delivery

Muito antes da popularização de aplicativos como iFood ou Uber Eats, o Habib’s já trabalhava com serviço de entrega próprio.

Isso mostrou visão de futuro e ajudou a fidelizar clientes que buscavam conveniência sem abrir mão do preço acessível. Essa cultura digital de atendimento continua sendo um dos diferenciais da marca, mesmo em um cenário em que a concorrência se multiplicou.

No conjunto, esses fatores deram ao Habib’s uma vantagem competitiva clássica: produto barato + escala + conveniência. Foi essa combinação que levou a rede a se tornar a maior marca de fast-food 100% nacional e uma das mais lembradas pelos brasileiros.

Fatores que pressionam a posição da rede

Em algum momento, mudanças de mercado reduziram as vantagens anteriores. Entre os fatores mais citados estão:

1. Percepção de valor (preço x qualidade)

Hoje o cardápio oficial do Habib’s já mostra preços bem diferentes dos 0,49/0,99 de décadas passadas. Promoções e cupons convivem com preços de tabela que, em muitos lugares, estão na faixa de R$3–R$7 na venda unitária (dependendo do produto).

A relação entre preço cobrado e valor percebido pelo cliente ficou mais sensível: aumentos necessários de preço precisam ser compensados por mais recheio, tamanho, sabor ou melhor experiência de compra, sob pena de migração do consumidor.

Na prática, isso exige ajustes no menu e testes de produtos “premium acessíveis”; acompanhe variação do ticket médio, a reação dos clientes a mudanças de preço e o impacto das taxas de entrega nas decisões de compra.

2. Aumento da concorrência por preço

A entrada e a reação das grandes redes de fast food, além de novas marcas locais e promoções agressivas, reduziram o diferencial de preço que o Habib’s tinha.

Promoções em combo, ofertas por tempo limitado e programas de fidelidade passaram a disputar o mesmo cliente sensível ao preço.

Na prática, isso pressiona as margens e leva a promoções frequentes, o que a longo prazo pode corroer a percepção de valor da marca.

3. Mais opções de consumo

O ecossistema de alimentação rápida se diversificou. Hoje há mais canais (apps, dark kitchens, delivery de restaurantes locais, conveniência 24h) e mais variedade de cardápios.

Com isso, o consumidor compara tamanho da porção, qualidade dos ingredientes, tempo de entrega e experiência geral, não só o preço.

Na prática, isso costuma se traduzir em queda de recompra em unidades com desempenho fraco; por isso, é importante monitorar avaliações em apps, taxas de recompra e diferenças de experiência entre lojas da mesma rede.

4. Dificuldades na gestão da rede de franquias

Quando suporte, treinamento e controles de qualidade não acompanham a expansão, a experiência do cliente passa a variar entre unidades, gerando franqueados com desempenho desigual e custo adicional de intervenção da matriz.

Para avaliar a gravidade desse problema, acompanhe indicadores como turnover de franqueados, existência e frequência de programas de capacitação/auditoria e reclamações recorrentes vinculadas a unidades específicas.

O que o Habib’s está fazendo agora?

Nos últimos meses, o Grupo Habib’s tem apresentado movimentações estratégicas claras:

  • Modelos compactos e quiosques: o lançamento de formatos menores focados em shoppings e áreas de alto fluxo é uma resposta óbvia à mudança de comportamento do consumidor e à busca por pontos com custo operacional menor. A meta declarada pela empresa foi ampliar presença em shoppings e avalia dobrar esse tipo de loja nos próximos anos.
  • Franquia híbrida Habib’s + Ragazzo: em junho de 2025 a empresa apresentou um formato 2-em-1 (Habib’s + Ragazzo) como loja híbrida, com proposta de maior eficiência operacional e variedade de cardápio para aumentar o ticket médio e atrair públicos distintos no mesmo ponto. Esse tipo de solução tenta combinar capilaridade e margem.
  • Promoções e app: a marca não abandonou o jogo dos cupons e do app próprio, usando promoções para recuperar o apelo de preço e empurrar frequência. O app continua sendo canal-chave para fidelização e promoções pontuais.

Essas iniciativas mostram que a empresa enxerga o problema e tenta responder em três frentes: formato (quiosque/híbrido), mix (variedade e combos) e canal (app/promoções).

O modelo de franquia híbrida Habib’s + Ragazzo exige um investimento inicial alto, a partir de R$ 650 mil, já incluindo a taxa de franquia. Apesar de ser compacto e pensado para shoppings e hipermercados, o valor pode ser um impeditivo para muitos investidores.

A promessa de retorno em 24 a 36 meses e um faturamento médio mensal de cerca de R$ 200 mil levanta dúvidas sobre se o risco e o custo realmente compensam frente a outras opções de franquia no mercado.

O Habib’s está falindo?

Não, o Habib’s não está falindo. Em novembro de 2024, duas unidades tradicionais de Campinas, uma na Avenida José de Sousa Campos (Norte-Sul) e outra na praça de alimentação do shopping Parque Dom Pedro, fecharam as portas.

Segundo a assessoria de imprensa da rede, esses encerramentos fizeram parte de um movimento de otimização, voltado para aumentar a rentabilidade e a eficiência das operações.

O fundador do grupo, Alberto Saraiva, já havia sinalizado confiança no cenário econômico de 2024. Ele destacou a redução nos preços de alguns produtos e reforçou os planos de expansão, com destaque para a abertura de quiosques em shoppings.

Cenários possíveis para o futuro do Habib’s

A seguir, três cenários que ajudam a entender riscos e oportunidades. Não são previsões, mas quadros analíticos para acompanhamento.

Cenário A — Ajuste bem-sucedido

Os novos formatos e controles operacionais ganham escala. A variação de experiência entre unidades diminui. O ticket médio cresce sem sacrificar a base de clientes. Resultado: estabilidade e recuperação gradual de rentabilidade.

Cenário B — Estabilidade segmentada

A rede mantém relevância junto a um público fiel. Crescimento ocorre de forma moderada, com foco em modelos de baixo custo. Problemas operacionais isolados persistem. Resultado: presença constante, sem retomada da liderança.

Cenário C — Pressão contínua

Se inconsistências operacionais e falta de reposicionamento persistirem, a rede pode reduzir pontos gradualmente. Concorrentes e custos de delivery pressionam margem. Resultado: necessidade de reestruturação mais profunda.

O que investidores e franqueados devem observar?

Para quem pensa em franquear ou investir, observe:

  1. Critério de contagem de unidades e franqueados ativos: entenda se números divulgados incluem quiosques e unidades piloto. (há divergência pública nos números oficiais e reportagens).
  2. Contrato de franquia e suporte operacional: verifique exigências de investimento, taxas e suporte de marketing/treinamento.
  3. Índice de satisfação local: avaliações em apps e marketplaces são pistas rápidas da qualidade operacional da unidade.
  4. Margem e tempo de retorno: compare projeções do franqueador com casos reais próximos geograficamente.
  5. Estratégia digital: presença ativa no app, integração com marketplaces e campanhas de retenção (cupom, club de fidelidade).

O que esperar do Habib’s?

O Habib’s faz parte da memória de muitos brasileiros e ainda carrega uma força de marca difícil de ignorar. Nos últimos anos, a rede tem buscado novas formas de se conectar com o público, seja por meio de quiosques, promoções no aplicativo ou modelos diferentes de atendimento.

O desafio agora é transformar essas iniciativas em resultados consistentes, que tragam retorno para franqueados e mantenham o negócio relevante no dia a dia das pessoas.

Para quem acompanha de perto, seja consumidor, franqueado ou investidor, vale observar de que forma a rede vai equilibrar tradição, preço acessível e inovação. Esse equilíbrio pode definir como o Habib’s continuará fazendo parte da vida dos brasileiros nos próximos anos.

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Carolina Gandra

Jornalista do portal Melhor Investimento, especializada em criptomoedas, ações, tecnologia, mercado internacional e tendências financeiras. Transforma temas complexos como blockchain, inteligência artificial e estratégias de mercado em conteúdos acessíveis e envolventes. Com análises atuais e visão estratégica, ajuda leitores a decifrar o futuro dos investimentos e identificar oportunidades no mercado financeiro.