Os preços de energia elétrica residencial registraram uma alta expressiva de 16,80% em fevereiro de 2025, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esse aumento, impulsionado pela normalização das tarifas após o Bônus de Itaipu, exerceu um forte impacto sobre a inflação oficial do país, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Entenda como o reajuste nas contas de luz e outros fatores contribuíram para a aceleração da inflação no mês.

O que está por trás do aumento de 16,80% na energia elétrica residencial?

Em fevereiro, o aumento de 16,80% nos preços de energia elétrica residencial foi o principal fator que pressionou o IPCA, considerado a principal medida da inflação no Brasil. O impacto da alta nos preços da energia foi tão expressivo que o grupo de Habitação, que inclui o custo de eletricidade, passou a ter o maior peso sobre o índice do mês, contribuindo com 0,65 ponto percentual para o IPCA.

Esse aumento ocorreu devido à normalização das tarifas de energia elétrica após a redução temporária proporcionada pelo Bônus de Itaipu, aplicado em janeiro. Em janeiro, os consumidores de energia elétrica tiveram um alívio nas contas devido à distribuição do saldo positivo da hidrelétrica de Itaipu. Como resultado, a conta de luz teve um desconto significativo, com uma deflação de 14,21% no mês.

O Bônus de Itaipu e seus efeitos nas contas de luz

O Bônus de Itaipu foi uma medida extraordinária que distribuiu créditos nas contas de energia dos consumidores brasileiros. A Itaipu Binacional, após um saldo positivo de R$ 399 milhões referente ao ano de 2023, destinou um total de R$ 1,3 bilhão para beneficiar os consumidores. Esse valor incluiu não apenas o saldo de 2023, mas também recursos dos anos anteriores.

O bônus foi direcionado exclusivamente a consumidores residenciais e rurais que registraram consumo inferior a 350 kWh por mês em 2023. Esse crédito foi aplicado apenas na fatura de janeiro, com descontos que variaram de R$ 16,66 a R$ 49,00 para os beneficiários. Com a eliminação desse bônus em fevereiro, as contas de luz voltaram a ser reajustadas, contribuindo para a alta de 16,80%.

Impacto da energia elétrica no IPCA e a inflação de fevereiro

Com o aumento nos preços de energia elétrica, o IPCA de fevereiro apresentou uma alta de 1,31%. Esse foi o maior avanço do índice para um mês de fevereiro desde 2003, e também o maior desde março de 2022, quando o índice registrou um aumento de 1,62%. Esse resultado representa uma forte aceleração da inflação em comparação com janeiro, quando o índice havia subido apenas 0,16%.

O aumento de 1,31% do IPCA também se deu devido ao impacto de outros itens importantes na composição da inflação, como os reajustes nas mensalidades escolares, combustíveis e alimentos. A inflação acumulada em 12 meses chegou a 5,06%, superando o teto da meta do Banco Central do Brasil, que é de 3% para a inflação anual.

Outros fatores que impulsionaram o IPCA de fevereiro

Além da energia elétrica, outros setores também influenciaram a alta da inflação em fevereiro. O grupo de Educação, por exemplo, teve um aumento de 4,70%, impulsionado pelos reajustes nas mensalidades escolares. O ensino fundamental, médio e pré-escolar apresentaram variações de até 7,51%, 7,27% e 7,02%, respectivamente.

Já no setor de Alimentação e Bebidas, os preços subiram 0,70%, com destaque para o aumento nos preços do ovo de galinha (15,39%) e do café moído (10,77%). Esse aumento foi influenciado principalmente pela elevação das exportações de ovos, além de fatores sazonais, como o clima e o início das aulas, que aumentam a demanda pela proteína.

No setor de Transportes, os preços dos combustíveis subiram consideravelmente, com a gasolina (2,78%), o etanol (3,62%) e o óleo diesel (4,35%) apresentando aumentos significativos. O reajuste nos preços dos combustíveis, juntamente com o aumento nos custos do transporte público, teve um impacto relevante sobre a inflação do mês.

Inflação de serviços e pressões no mercado de trabalho

A inflação de serviços também teve uma aceleração mais modesta, passando de 0,78% em janeiro para 0,82% em fevereiro. Apesar de ser uma alta mais suave, o crescimento da inflação de serviços continua sendo uma preocupação para o Banco Central. Isso ocorre porque esses preços são impulsionados pela oferta e demanda, e o mercado de trabalho aquecido, com baixos índices de desocupação, continua pressionando a demanda por serviços. A alta na inflação de serviços inclui reajustes nos preços de mensalidades escolares, serviços bancários, pet shops e outros serviços essenciais.

Com o mercado de trabalho ainda forte, a expectativa é que o Banco Central continue a aumentar os juros para controlar a inflação. A taxa Selic atualmente está em 13,25% ao ano, após quatro aumentos consecutivos promovidos pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O efeito dessas altas nos juros ainda está sendo aguardado, pois a mudança nos preços geralmente leva alguns meses para impactar a economia real.

INPC e a inflação para as famílias de renda mais baixa

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), que mede a inflação para as famílias de menor renda, também registrou uma alta de 1,48% em fevereiro. Esse aumento representou uma recuperação em relação à estabilidade do índice em janeiro. No acumulado dos últimos 12 meses, o INPC avançou 4,87%, refletindo o aumento nos preços de alimentos e serviços, que impactam diretamente o orçamento das famílias de menor poder aquisitivo.