A mineradora Vale anunciou um lucro líquido de R$ 31,6 bilhões em 2024, uma queda de 21% em relação ao ano anterior. O cenário desafiador foi impulsionado por uma combinação de fatores econômicos, incluindo a alta do dólar, a queda no preço do minério de ferro e algumas baixas contábeis que impactaram os resultados financeiros. Apesar disso, a mineradora teve um desempenho operacional positivo, destacando-se pela produção recorde de minério de ferro, o maior nível desde 2018.

Desafios financeiros e operacionais

No quarto trimestre de 2024, a Vale registrou um prejuízo líquido de R$ 4,7 bilhões, um resultado bastante distinto em relação ao lucro obtido no mesmo período de 2023. Entre as principais razões para esse revés estão a alta do dólar, que impactou a marcação a mercado de swaps de obrigações, e a desvalorização do minério de ferro, cujo preço médio de venda ficou 21% abaixo dos níveis registrados em 2023, sendo cotado a US$ 93 por tonelada.

Em comunicado, o CEO Gustavo Pimenta ressaltou que, apesar dos desafios financeiros, a Vale manteve sua “abordagem disciplinada em custos e eficiência operacional”. A mineradora conseguiu reduzir seus custos de produção, alcançando o valor de US$ 18,8 por tonelada de minério de ferro no quarto trimestre, o mais baixo desde 2022. Esse esforço de contenção de custos, no entanto, não foi suficiente para evitar a queda nos lucros.

Revisão de investimentos e desafios estratégicos

A Vale também revisou sua previsão de investimentos para o ano de 2025. A empresa havia estimado um valor de US$ 6,5 bilhões, mas ajustou o montante para US$ 5,9 bilhões, com maior foco em eficiência e sustentabilidade. Essa redução foi especialmente significativa nos projetos relacionados a metais para transição energética, como cobre e níquel. Os investimentos previstos para esses minerais passaram de US$ 2,5-3 bilhões para US$ 2 bilhões, refletindo uma reavaliação dos planos de expansão da mineradora.

Além disso, a Vale anunciou o pagamento de US$ 1,984 bilhão em dividendos aos acionistas, com os valores sendo pagos em março de 2025. A mineradora também iniciou um programa de recompra de ações, com o objetivo de comprar até 120 milhões de ações, o que representa 3% de sua participação total em circulação. Esse movimento é interpretado pelo mercado como um sinal de confiança na saúde financeira da companhia, apesar dos resultados mistos.

A crise de sucessão e a relação com o governo

O ano de 2024 foi marcado por uma intensa crise de sucessão na liderança da Vale. Com o término do mandato do CEO Eduardo Bartolomeo, as disputas entre acionistas sobre a renovação ou substituição da liderança chegaram a um impasse. As pressões políticas, incluindo tentativas de alocar o ex-ministro Guido Mantega em um cargo de destaque na mineradora, também impactaram o processo decisório.

A crise foi finalmente resolvida em agosto de 2024, quando Gustavo Pimenta, até então diretor financeiro da Vale, foi indicado para assumir a posição de CEO. Pimenta, que já trabalhava na mineradora desde 2019, assumiu oficialmente o cargo em outubro de 2024, trazendo uma nova perspectiva de liderança em um período conturbado para a empresa.

Acordos e avanços estratégicos

Apesar dos desafios, a Vale também conquistou importantes avanços no quarto trimestre. A mineradora firmou um acordo de reparação com a BHP Billiton, no valor de R$ 170 bilhões, em relação ao rompimento da barragem de Mariana, em 2015. Esse acordo foi visto de forma positiva pelos investidores, pois garante maior previsibilidade quanto aos custos envolvidos nas indenizações, evitando surpresas financeiras no futuro.

Além disso, a Vale conseguiu negociar a revisão dos contratos de concessão das Estradas de Ferro Carajás e Vitória-Minas com o Ministério dos Transportes, o que implicará em um gasto adicional de R$ 17 bilhões, mas também traz maior clareza quanto aos valores envolvidos nesses compromissos.

A relação com o governo e os próximos passos

O relacionamento da Vale com os governos, tanto federal quanto estaduais, foi uma questão sensível ao longo de 2024. As tensões internas e externas à mineradora, especialmente as disputas pela liderança, foram frequentemente associadas a dificuldades de relacionamento com o governo e com os estados de Minas Gerais e Pará, onde a maior parte das minas da Vale está localizada.

No entanto, após a nomeação de Pimenta, o clima de crise foi gradualmente superado. A relação com o governo federal foi aliviada, especialmente após uma visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva às instalações da Vale em Carajás, no Pará. Durante a visita, o presidente anunciou um projeto de investimentos de R$ 70 bilhões para os próximos cinco anos, reafirmando o compromisso da empresa com o desenvolvimento da região e do setor mineral.