Preço do café: aumento no custo de comercialização do grão exacerba alta de preços
O mercado de café arábica registra altas consecutivas nas últimas semanas, impulsionado pelo aumento nas margens de negociação da bolsa ICE.

Nos últimos dias, o mercado de café tem enfrentado uma volatilidade sem precedentes, com os preços dos grãos verdes atingindo 14 recordes consecutivos nas últimas três semanas. O aumento no custo de negociação do café arábica na bolsa ICE (Intercontinental Exchange) tem contribuído significativamente para essa escalada, ampliando ainda mais a alta que já estava em curso. As margens de negociação mais elevadas exigem pagamentos substanciais dos traders, o que tem gerado uma pressão financeira sem solução rápida à vista.
Aumento nas margens de negociação da ICE: um fator crucial na alta dos preços
A bolsa ICE, onde contratos futuros de café arábica são negociados, anunciou, no início desta semana, um aumento nas margens de negociação, que foram elevadas em 10%, atingindo US$10.410 por contrato. Esse valor é quase o dobro do que era exigido há um ano. O aumento das margens significa que, para negociar 100 toneladas métricas de café, é necessário um pagamento diário inicial de cerca de US$62.000. No entanto, essa quantia pode crescer significativamente se a posição do trader ficar no vermelho, já que é preciso garantir fundos suficientes para cobrir possíveis perdas.
Esse aumento nas margens reflete uma demanda maior por garantias financeiras devido à alta velocidade com que os preços do café estão subindo. Em um cenário em que os preços dos grãos verdes já se aproximam de US$4/libra-peso, os traders que mantêm posições vendidas (apostando na queda dos preços) se veem obrigados a liquidar suas posições devido à falta de capacidade para sustentar os pagamentos exigidos. Isso acaba pressionando ainda mais os preços do café, criando um ciclo de alta.
Como a pressão financeira afeta os traders e o mercado global de café
O impacto dessa situação é especialmente visível entre os traders que estão com linhas de crédito limitadas, o que os obriga a recomprar contratos futuros, reforçando ainda mais a pressão de alta no mercado. Um exemplo disso foram os comerciantes de café Atlântica e Cafebras, sediados no Brasil, que no final de 2024 buscaram reestruturação de suas dívidas com o apoio judicial. Caso esse processo não seja bem-sucedido, esses comerciantes podem enfrentar falências.
Os analistas do setor indicam que a pressão sobre as linhas de crédito dos traders está se intensificando à medida que os preços continuam a subir. Em um mercado de café que se aproxima de US$4/libra-peso, os traders não conseguem mais manter a estratégia de hedge de forma eficaz, o que acaba criando um mercado instável, no qual a compra de futuros por torrefadores e especuladores não tem contrapartida para a venda.
Desafios e incertezas no mercado de café: quando a situação pode se acalmar?
Embora a atual alta nos preços do café esteja gerando incertezas, há uma possibilidade de que a situação se acalme nos próximos meses. Um trader europeu que atua em uma das maiores casas de comércio de café do mundo afirmou que a situação pode melhorar quando os fluxos de exportação do Brasil — maior produtor de café do mundo — se acelerarem, especialmente com a nova safra que deverá ser colhida nos próximos meses. Contudo, no curto prazo, ele não vê sinais de uma reversão positiva no mercado.
A alta constante nos preços do café arábica tem deixado os traders em uma posição difícil, especialmente aqueles que estão com suas linhas de crédito no limite. O aumento das margens de negociação e os valores elevados exigidos para manter as posições abertas estão criando uma instabilidade no mercado. Com a dificuldade em sustentar as perdas, os traders se veem obrigados a liquidar suas posições, o que acaba por alimentar o ciclo de alta, mantendo os preços elevados.